Beatriz Azevedo devora o 'Manifesto Antrop�fago' em novo livro
O "Manifesto Antrop�fago", de Oswald de Andrade, andava sendo mal digerido.
"Houve uma banaliza��o", diz a poeta, cantora e compositora Beatriz Azevedo. "Passaram a associar a antropofagia � mistura entre o gringo e o brasileiro. S� que a globaliza��o � baixo canibalismo: � devorar para ter lucro. A antropofagia � anticapitalista."
Azevedo incumbiu a si mesma de devorar, aforismo por aforismo, os 51 fragmentos do "Manifesto" –texto seminal da "�nica filosofia original brasileira", segundo o poeta Augusto de Campos.
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Desenho in�dito feito pelo artista Tunga, morto em junho, que integra o livro |
O resultado deglutido � o livro "Antropofagia - Palimpsesto Selvagem", um dos �ltimos livros publicados pela Cosac Naify e que a autora lan�a nesta quarta (20), em evento promovido pela Folha em SP.
No pref�cio, o antrop�logo Eduardo Viveiros de Castro chama a obra de "leitura microsc�pica" do texto publicado por Oswald em 1928 na primeira "Revista de Antropofagia" –libelo modernista que propunha abocanhar as inova��es das vanguardas europeias sob contexto brasileiro.
Feito os �ndios que devoravam em ritual os portugueses do s�culo 16, Oswald buscava redescobrir as concep��es ancestrais do territ�rio brasileiro e se insurgir contra tudo quanto � vest�gio da coloniza��o na cultura nacional –da roupa ("que catequiza") ao trabalho ("que dignifica").
O movimento instigou das experimenta��es de Z� Celso no Teatro Oficina ao cinema de Glauber Rocha, passando pela m�sica de Caetano, Gil e pela produ��o de H�lio Oiticica. E continua rendendo.
"Se Oswald estivesse vivo, ele estaria ligado � cultura digital", diz Azevedo. "� antropof�gica a ideia dele de questionar a autoria de uma obra, de que tudo pode ser compartilhado e mesmo deformado."
Al�m de deglutir os aforismos e trazer desenhos in�ditos do artista Tunga, morto em junho, o livro defende que as ra�zes da antropofagia j� estavam na obra de Oswald muito antes da Semana de Arte Moderna, de 1922, e o acompanhariam at� a morte, em 1954.
PINDORAMA
"Artista com paci�ncia de pesquisadora", como se define, ela diz que seu caminho sempre "cruzava com o de Oswald". J� foi dirigida por Z� Celso e j� celebrou em show o centen�rio de Pagu, escritora e ex-mulher do modernista.
Convidada pelo Lincoln Center de Nova York para um espet�culo sobre o Brasil em 2012, pintou-se de jenipapo e urucum e cantou em tupi.
Apartid�ria, afirma que defende contra o "Estado patriarcal" uma "sociedade tribal, coletivista", como a do "matriarcado de Pindorama", o territ�rio pr�-cabralino.
"O pa�s est� arcaico e o patriarcalismo, fonte de todos os v�cios da hist�ria brasileira, est� no olho do furac�o, com todos os conchavos entre ruralistas e empreiteiras", diz.
Ela tamb�m n�o toma partido em rixas, como a recente troca de farpas nas p�ginas da "Ilustrada" entre os poetas Augusto de Campos e Ferreira Gullar, colunista da Folha, sobre o legado de Oswald.
"A antropofagia � generosa. E essa briga, de disputa de heran�as, � algo patriarcal."
A multi-artista prepara agora um document�rio e uma s�rie cheios de entrevistas, "uma polifonia sobre o tema".
ANTROPOFAGIA –PALIMPSESTO SELVAGEM
AUTORA Beatriz Azevedo
EDITORA Cosac Naify
QUANTO R$ 86 (240 p�gs.)
LAN�AMENTO quarta (20), �s 19h, seguido de bate-papo no audit�rio da Livraria da Vila (shopping P�tio Higien�polis, av. Higien�polis, 618, tel. 11-3661-3300).
Livraria da Folha
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