Morre, aos 89 anos, o cr�tico de teatro S�bato Magaldi
O escritor, cr�tico teatral e professor S�bato Magaldi morreu aos 89 anos, por volta das 23h desta quinta-feira (14), em S�o Paulo. Ele estava internado desde o dia 2 de julho no Hospital Samaritano com quadro de choque s�ptico e comprometimento pulmonar.
Ocupante da cadeira de n�mero 24 da Academia Brasileira de Letras, Magaldi foi um dos mais importantes cr�ticos de teatro do pa�s: escreveu para publica��es como "O Estado de S. Paulo" e "Jornal da Tarde", foi o respons�vel por apontar novos nomes da dramaturgia como Pl�nio Marcos e Leilah Assun��o e lecionou sobre teatro brasileiro e hist�ria do teatro na Escola de Arte Dram�tica.
Segundo a escritora Edla Van Steen, mulher do cr�tico, ele morreu em decorr�ncia de uma infec��o generalizada.
IMORTAL
O cr�tico foi eleito membro da ABL em 1994. Em seu discurso de posse, em julho de 1995, S�bato confessou que nunca passara pela sua cabe�a candidatar-se a uma vaga de imortal, j� que sua prioridade, �quela altura da vida, continuava a ser os livros que ainda ansiava publicar.
Ao ser eleito para a cadeira de n�mero 24, na sucess�o do escritor Cyro dos Anjos, a quem sempre considerou um mestre, preferiu interpretar, ent�o, que a escolha de seu nome representava a primeira homenagem da Academia a todos aqueles que haviam dedicado a vida � tarefa de cr�ticos e historiadores de teatro. E, com eles, S�bato teve a delicadeza de dividir a honra da imortalidade.
Mineiro de Belo Horizonte, nascido em 9 de maio de 1927, S�bato Ant�nio Magaldi n�o foi apenas um dos principais nomes da cr�tica teatral da segunda metade do s�culo 20. Em dezenas de livros, ensaios, aulas, confer�ncias e cr�ticas publicadas em jornais, ele radiografou, catalogou e conferiu um significado hist�rico preciso � produ��o dramat�rgica nacional.
Para o ensa�sta e professor Jac� Guinsburg, um dos maiores te�ricos do teatro no Brasil, o nome de S�bato Magaldi foi um dos mais representativos no processo renovador do teatro brasileiro.
Guinsburg enxerga em um dos livros de S�bato, "Panorama do Teatro Brasileiro", lan�ado em 1962 e com uma nova edi��o revista e ampliada em 1998, a mais significativa abordagem hist�rica da arte dram�tica brasileira.
S�bato Magaldi mudou-se para o Rio de Janeiro em 1948, onde concluiu, no ano seguinte, o curso de direito que havia come�ado na Universidade de Minas Gerais. Seu primeiro emprego na ent�o capital federal foi como chefe de gabinete do Departamento de Assist�ncia do Instituto de Previd�ncia e Assist�ncia dos Servidores do Estado, comandado pelo mesmo Cyro dos Anjos cuja cadeira na ABL ele viria a ocupar cinco d�cadas mais tarde.
"Posso testemunhar que n�o era f�cil redigir um despacho ou um simples telegrama para a assinatura de Cyro dos Anjos", disse S�bato. "Estilista impec�vel, ele exigia de uma informa��o processual uma eleg�ncia absoluta. Os memoriais deviam valer como pe�a liter�ria".
PRIMEIRAS CR�TICAS
As primeiras cr�ticas de S�bato foram publicadas no "Di�rio Carioca" a partir de 1950. Dois anos depois, como bolsista do governo franc�s, transferiu-se para Paris, onde obteve um diploma de est�tica na Universidade de Sorbonne. Assim que voltou ao Brasil, em 1953, foi convidado por Alfredo Mesquita para assumir a cadeira de hist�ria do teatro na Escola de Arte Dram�tica, que Mesquita havia fundado em 1948. Na EAD S�bato criou, em 1962, a disciplina de hist�ria do teatro brasileiro.
"S�bato Magaldi, como cr�tico, foi um homem t�o vocacionado para o teatro como um artista, um criador. Eu me lembro dele, no in�cio dos anos 50, muito jovem, se iniciando na cr�tica teatral, indo para a Fran�a em busca de um aperfei�oamento de estudos e de um enriquecimento cultural na �rea c�nica", revela a atriz Fernanda Montenegro.
"Dentro de um jornal, S�bato nunca foi um jornalista em disponibilidade � procura de uma tem�tica ou coluna onde pudesse se achar e se engajar. S�bato era um estudioso da mat�ria teatral. Ele sempre acreditou que o teatro � a fonte primeira da cultura de um Pa�s adulto e consequente. Essa � a sua imensa qualidade. Da� a sua respeitabilidade".
S�bato Magaldi conciliou a fun��o de professor da EAD com a de cr�tico teatral no jornal "O Estado de S. Paulo", onde come�ou a escrever tamb�m em 1953. Durante os anos de 1955 a 1956, atuou como cr�tico e redator-chefe da revista "Teatro Brasileiro", que teve apenas nove edi��es. Tamb�m foi o primeiro cr�tico de teatro do "Jornal da Tarde", desde sua funda��o, em 1966, at� o final de 1988, quando decidiu se aposentar da fun��o.
Seu lugar no "JT"foi ocupado por um dos seus ex-alunos e pupilos na EAD, o cr�tico e romancista Alberto Guzik, que costumava dizer que S�bato o havia ensinado "a olhar", uma li��o aparentemente simples, mas de import�ncia fundamental no exerc�cio di�rio da cr�tica. S�bato voltaria � administra��o p�blica em abril de 1975, quando aceitou o convite do prefeito Olavo Set�bal para ser o primeiro secret�rio municipal de Cultura de S�o Paulo.
CONTRIBUI��ES
S�bato Magaldi foi tamb�m professor da Escola de Comunica��es e Artes da Universidade de S�o Paulo, doutor pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ci�ncias Humanas, ao defender tese sobre o teatro de Oswald de Andrade, e ainda livre docente pela ECA com a monumental tese "Nelson Rodrigues: Dramaturgia e Encena��es".
Em 1980, o pr�prio Nelson Rodrigues pediu a S�bato, de quem era amigo pessoal, que organizasse uma edi��o de seu teatro completo. Em vez de hierarquizar as 17 pe�as do dramaturgo em ordem cronol�gica, S�bato preferiu agrup�-las tendo em vista seus estilos e procedimentos dram�ticos. Nasciam, assim, os tr�s grupos aceitos hoje por unanimidade quando se analisa a produ��o teatral de Nelson Rodrigues: as pe�as psicol�gicas, as m�ticas e as trag�dias cariocas.
"S�bato Magaldi pertence � mais conceituada gera��o de cr�ticos de teatro, da qual tamb�m faziam parte D�cio de Almeida Prado, Anatol Rosenfeld e Yan Michalski", diz a dramaturga e novelista Maria Adelaide Amaral.
"Nos anos 50, foi um dos primeiros a reconhecer o talento de Nelson Rodrigues, sobre cuja obra publicou v�rios estudos. Da mesma forma, nos anos 1960, assinalou a import�ncia de Pl�nio Marcos e apontou o surgimento dos novos autores que contribuiriam para renova��o da dramaturgia brasileira, como Jos� Vicente, Leilah Assun��o, Ant�nio Bivar e Consuelo de Castro."
Casado com a escritora catarinense Edla Van Steen, pai de dois filhos, S�bato Magaldi recebeu dezenas de pr�mios e distin��es, entre eles duas condecora��es oferecidas pelo governo franc�s, escreveu 15 livros sobre o teatro brasileiro e participou de um sem n�mero de obras coletivas que traziam o teatro como tema principal.
"Podia dizer que o S�bato foi um nobre, mas prefiro dizer que foi um artista", afirma o diretor Aderbal Freire-Filho. "O S�bato tinha alma de artista, sensibilidade de artista, e � isso que, somado a sua cultura, explica a qualidade das suas cr�ticas".
O vel�rio de S�bato Magaldi come�a por volta das 12h desta sexta (15) no cemit�rio Memorial Parque Paulista, onde o corpo ser� cremado �s 15h. O cemit�rio est� localizado � rua Doutor Jorge Balduzzi, no Jardim Mim�s, Embu das Artes (Grande S�o Paulo).
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