an�lise
an�lise: Talvez Pessoa se lembrasse de sua vasta legi�o de perdas
Reprodu��o | ||
![]() |
||
Pessoa, em 1929, em foto do livro 'Fernando Pessoa. Uma Fotobiografia', de Maria Jos� de Lancastre |
Quem escreve sobre algum autor, durante longo tempo, sempre sonha encontrar um in�dito dele. Pelo prazer de ter feito a descoberta. Ou por imaginar que o destino conspirou para que assim tenha sido.
Este caso de agora � curioso.
Trata-se de um caderno de aut�grafos que vai trocando de m�os. Sem que nenhum dos seus anteriores propriet�rios se tenha dado conta de que o texto de Pessoa, ali escrito, era mesmo um in�dito. Talvez porque, em 2005, algo que seria um rascunho dele tenha sido publicado em "Poemas de Fernando Pessoa: 1915-1920", numa edi��o de Jo�o Dion�sio para a Imprensa Nacional - Casa da Moeda, em Portugal.
Arquivo Pessoal | ||
![]() |
||
� esq., um dos rascunhos do poema no acervo de Pessoa; � dir., o poema in�dito encontrado agora |
Reprodu��o | ||
![]() |
||
� esq., um dos rascunhos do poema no acervo de Pessoa; � dir., o poema in�dito encontrado agora |
Pensava-se, era mesmo natural, que seria o tal poema sem t�tulo que come�a pelo verso "Cada palavra dita � a voz de um morto". Mas desse rascunho, publicado antes, Pessoa manter� s� os dois primeiros versos. E outros dois, em seguida. Os demais foram reescritos - em alguns casos, alterando radicalmente o pr�prio sentido original do texto. Ou foram exclu�dos. Com numerosos acr�scimos. Tudo a resultar em algo novo.
Para compreender como isso aconteceu, � preciso voltar no tempo.
O CADERNO DE COURO VERMELHO
Em 29 de janeiro de 1913, o jovem Jos� Os�rio de Castro e Oliveira est� "No alto mar, a bordo do K�nig Wilhelm II" - assim, com letra desenhada de quem acabara de fazer 13 anos, escreve ele na primeira p�gina daquele caderno.
Presente de sua m�e, Ana de Castro Os�rio (pioneira na luta pela igualdade dos sexos, em Portugal), por ocasi�o do anivers�rio de seu filho Jeca (apelido pela qual o chama), ocorrido h� dois dias. Como recorda��o de sua viagem de regresso � formosa Terra da P�tria, escreve ela.
O pai, Paulino e Oliveira, poeta e ativo membro do Partido Republicano, depois de frustrada rebeli�o em que participou, est� residindo no Brasil (onde morreria pouco depois, de tuberculose, em 13/03/1914).
Apenas m�e e filho viajam, de volta a Portugal.
No alto dessa primeira p�gina est� um selo do Deutsches Reich (com carimbo da Linie Hamburg S�damerika, de 30/01/1913). E pouco abaixo, escrito � m�o, Livro de Aut�grafos.
No canto inferior esquerdo h� hoje, colado, um ex-libris com desenho de castelo crist�o medieval com quatro torres e a inscri��o, numa bandeira, For�a na Paz. Colada posteriormente, tem-se a impress�o. Dado refletir sentimento comum no pa�s a partir da Primeira Guerra, sobretudo. Marca pessoal do Jos� Os�rio, talvez (a conferir).
Seja como for, era mesmo algo ent�o natural, dado ser o ex-librismo usado com frequ�ncia no s�culo 19/princ�pios do s�culo 20.
Em consulta ao Servi�o do Correio Imperial Alem�o, se v� que essa companhia transatl�ntica usava dois grandes navios na rota Am�rica do Sul (Buenos Aires, Montevid�u, Rio de Janeiro) - Europa (Lisboa, Hamburgo). O K�nig Friedrich August e o dito K�nig Wilhelm II.
A imprensa de Lisboa anunciou em 1� de fevereiro de 1913, um s�bado, que este �ltimo estava no porto. Vinha do Rio. E seguiria, depois, na dire��o da Alemanha. Ali, nas gares mar�timas de Alc�ntara, desceram Jos� Os�rio e sua m�e.
Curioso � que a bordo desse mesmo K�nig Wilhelm II Fernando Pessoa, em f�rias sab�ticas do padrasto, veio pela primeira vez de Durban para Lisboa. "Malhas que o Imp�rio tece!",disse o poeta em "O menino de sua m�e".
O jornal O S�culo de 14 de setembro de 1901 (p�g. 4) faz constar: "No navio alem�o K�nig, vieram de Durban o c�nsul [Jo�o Miguel dos Santos] Rosa e 3 filhos –que seriam Pessoa (com 13 anos), a irm� Teca (com 5) e o irm�o Luiz (com 2).
Faltaram, nessa rela��o, a m�e de Pessoa, dona Maria Magdalena Pinheiro Nogueira; a ama Paci�ncia; e tamb�m, para serem enterrados em Portugal, os ossos (ou talvez fossem as cinzas) de uma irm� morta de Pessoa, Magdalena Henriqueta.
ANOTA��ES
O jovem Jos� Os�rio come�a, ent�o, a colecionar depoimentos de viajantes daquele navio. Quase todos desconhecidos.
Uma argentina, R. (mais sobrenome ileg�vel), o chama de "simp�tico portuguesito" (29/01/1913). Outra, Maria Lia Lobo, de "simp�tico compa�ero" (31/01/1913). Um argentino, J. Auber, escreve conselhos "si tu veux devenir um bonito rapaz" (31/01/1913).
H� mais, no caderno, instigante coincid�ncia.
Arquivo Pessoal | ||
![]() |
||
A primeira p�gina do caderno de aut�grafos do colecionador Jos� Paulo Cavalcanti |
Uma anota��o, de 01/02/1913, dirigida "Ao meu sobrinho adoptivo Jos� Os�rio". Assinada por Manuela Nogueira. Uma hom�nima da sobrinha verdadeira de Pessoa, autora bem conhecida em Portugal.
Inquirida sobre esse fato, declarou dona Manuela Nogueira jamais ter ouvido falar de algu�m que tivesse o seu mesmo nome. Fica o mist�rio. Como ensina uma das "Regras da Vida" de Pessoa, "felizes aqueles para quem o mist�rio se resume em Padre, Filho e Esp�rito Santo. Deles � a felicidade."
O MENINO CRESCE
Nascido em Set�bal (27/01/1900), ainda cedo Jos� Os�rio se destaca como jornalista, cr�tico liter�rio e ficcionista.
Mais tarde se tornaria escritor de renome, com pref�cios usualmente assinados por seu irm�o Jo�o de Castro Os�rio. Primeiro ensaio foi sobre Oliveira Martins e E�a de Queiroz (1922). Depois, mais dez livros. Inclusive, editado no pr�prio ano de sua morte (Lisboa, 3 de dezembro. De 1964), "Hist�ria breve da literatura brasileira".
Em 1917, j� com 17 anos, d� in�cio a publica��es liter�rias nas p�ginas do jornal "A Capital". A partir dos anos 1930, torna-se um divulgador da literatura cabo-verdiana e defensor da aproxima��o entre Portugal e Brasil.
Casado com a escritora Raquel Bastos, em 1930, sua filha Isabel (Maria Bastos Os�rio) de Castro (e Oliveira) foi atriz de sucesso, com v�rios pr�mios no teatro e na televis�o, tendo participado em cerca de 50 filmes.
NOVAS ANOTA��ES
A partir de 1915, Jos� Os�rio decide aproximar-se das letras. E usa seu caderno para colher mais depoimentos.
Como, sem data, o de Carmem de Burgos (Almer�a, 1867-Madrid, 1932), que discorre sobre o interesse pela arte. Carmem —jornalista, escritora e ativista dos direitos da mulher espanhola— era, certamente, pr�xima da m�e de Jos� Os�rio, Ana Castro.
Artur Ernesto de Santa Cruz Magalh�es (Lisboa, 1864-1928) deixa (tamb�m sem data) enigm�tica frase: "Ser bom � saber sofrer". Talvez uma reflex�o sobre sua pr�pria vida.
Cruz Magalh�es, com numerosos livros publicados, � respons�vel (sem colabora��o do governo) pelo magn�fico Museu Bordalo Pinheiro, instalado num anexo de sua resid�ncia —na Rua Oriental do Campo 28 de Maio (atual Campo Grande), em Lisboa. E veio a morrer, pouco depois, sem jamais ter tido o reconhecimento que imaginava merecer.
Contando-se ainda, nessa rela��o, tr�s nomes importantes do "Primeiro Modernismo" - que nasceu com a gera��o da revista Orpheu. A seguir referidos.
LUIZ DE MONTALVOR
Em 1917, Montalvor escreve, no caderno, sobre tempos anteriores � Restaura��o Portuguesa. E finda com essa afirma��o: "Filippe II foi o Rembrandt do claro-escuro da Morte..."
Luiz da Silva Ramos, seu nome verdadeiro, foi assessor de Bernardino (Lu�s) Machado (Guimar�es), Ministro Plenipotenci�rio de Portugal (1912-1915) no Rio de Janeiro, cidade em que nasceu.
O mesmo Bernardino que, depois, foi Presidente da Rep�blica por duas vezes - em 1915/1917 e 1925/1926. Um carioca Presidente de Portugal... Pessoa, que tinha opini�es cr�ticas sobre nosso pa�s ("E tu Brasil,"rep�blica irm�", blague de Pedro �lvares Cabral, que nem te queria descobrir", assim disse no "Ultimatum"), deve ter se divertido com isso.
Montalvor, que dirigiu (foi, tamb�m, respons�vel pela introdu��o) o primeiro n�mero da revista "Orpheu", depois dirigiria a revista Centauro. E seria respons�vel, juntamente a Jo�o Gaspar Sim�es, pela edi��o das obras completas de Pessoa, pela Editora �tica, sete anos depois da morte do amigo - por ele definido como "o �caro de um sonho".
Mais tarde (02/03/1947), em grav�ssima crise financeira e com problemas familiares, lan�a-se com seu carro no Tejo. Junto com mulher e filho.
AUGUSTO FERREIRA GOMES
Em maio de 1917, Augusto Ferreira de Oliveira Bogalho Gomes deixa no livro seu poema "Hydromel", que come�a pelo verso "Meu elmo j� n�o brilha em tardes de parada".
Gomes foi administrador das minas do Porto de M�s, jornalista, especialista em artes gr�ficas e tamb�m poeta que escreveu para a terceira edi��o da "Orpheu" (que nunca seria editada), e para as revistas "Contempor�nea" e "Athena" (dirigida por Pessoa).
Seu livro "Quinto Imp�rio" teve pref�cio escrito por Pessoa.
Acabaram se aproximando a partir do interesse de ambos pelo misticismo. Ou pela cren�a comum na Utopia do Quinto Imp�rio. E continuaram amigos, em Lisboa, inclusive depois que Gomes passou a ter rela��es mais pr�ximas com o primeiro-ministro Ant�nio de Oliveira Salazar.
Enquanto Pessoa, ao tomar as dores da Ma�onaria, escrevia poemas (censurados) como "Liberdade" (1935), dizendo que "Mais que isto/ � Jesus Cristo/ Que n�o sabia nada de finan�as" —sutil cr�tica �quele que um dia foi professor de Ci�ncias das Finan�as, em Coimbra.
Ou esse (um dos tr�s escritos em 29/03/1935, com t�tulo �nico de "Salazar"), assinado pelo heter�nimo Um Sonhador Nost�lgico do Abatimento e da Decad�ncia —nome inspirado em discurso de Salazar, na entrega dos pr�mios (em 1935) num concurso em que "Mensagem" ganhou o Pr�mio Antero de Quental para poesias curtas:
Este senhor Salazar
� feito de sal e azar.
Se um dia chove,
A �gua dissolve
O sal,
E sob o c�u
Fica s� azar, � natural.
Oh, com os diabos!
Parece que j� choveu.
Luiz Pedro Moitinho de Almeida era filho do patr�o de Pessoa na Casa Moitinho, onde foi escrita a Tabacaria. Essa tabacaria, s� para constar, era a Habaneza dos Retrozeiros - situada na esquina da Rua da Concei��o (ent�o dos Retrozeiros) 63/65 com a Rua da Prata 65. Onde hoje est� a Pelaria Pampas, especializada em vender artigos de couro argentino. E n�o A Morgadinha (como consta na maioria dos textos portugueses), situada esta na Rua Silva Carvalho 13/15. Bem pr�xima do apartamento de Pessoa.
O engano se deve aos versos "Janelas do meu quarto/ Do meu quarto de um dos milh�es do mundo..."
Algo mesmo natural, posto que seria das janelas desse quarto que saudava o amigo �ntimo (Joaquim) Esteves, � porta daquela tabacaria, em conversa com seu propriet�rio (Manuel Alves Rodrigues).
Mas se trata de algo imposs�vel. Porque o quarto em que dormia Pessoa, na Rua Coelho da Rocha 16 (em Campo de Ourique), para evitar o frio respons�vel por suas frequentes crises de gripe, nunca teve janelas. Como confirmaram sua sobrinha Manuela Nogueira (que ocupava o quarto da frente, aquele com janelas) e Ant�nio Manass�s (filho do barbeiro de Pessoa —que acompanhava o pai quase todos os dias �quele quarto, para a barba).
E nem poderia, mesmo. Porque a dita A Morgadinha seria constitu�da s� em 03/06/1958 (registro 32.082 na Conservat�ria do Registro Comercial). Enquanto o poema foi escrito bem antes, em 1928 (publicado, em junho de 1933, no n�mero 39 da revista Presen�a).
Voltando a Luiz Pedro, � dele o depoimento "O Augusto Ferreira Gomes deixou-me a impress�o de ser o melhor amigo de Pessoa —ou, pelo menos, aquele com quem Pessoa mais frequentemente privava".
Gomes participaria, tamb�m, no estranho epis�dio do suic�dio do mago ingl�s Aleister Crowley.
Nascido Edward Alexander Crowley, em crian�a cuspia na �gua benta e martirizava moscas para desafiar Deus. Consta que matou um ind�gena, no Oriente, para sentir o prazer de gosto para ele at� ent�o desconhecido. Um m�stico e charlat�o que que chegou a ser considerado, pelos jornais brit�nicos, o pior homem da Inglaterra.
Crowley veio a Portugal, em 2 de setembro de 1930, para se encontrar com Pessoa —quando estava era em fuga dos credores pela fal�ncia da sua editora, a Mandrake Press. E ter-se-ia, segundo o Di�rio de Not�cias de Lisboa (27 de setembro), suicidado no Mata-c�es de Cascais.
O mesmo Gomes (ligado ao jornal), em divertida trama com a participa��o de Pessoa, declarou ter encontrado, no local do (suposto) suic�dio, uma cigarreira que seria do Mago (na verdade emprestada, para a encena��o, pelo cunhado de Pessoa, Caetano Dias —que a comprara em Zanzibar). E um bilhete, em papel timbrado, do primeiro dos hot�is em que ficou (o L'Europe). Escrito por c�digos e assinado Tu Li Yu. Quando Crowley, em 23 de setembro, atravessava placidamente a fronteira de Vilar Formoso, na dire��o da Alemanha —onde j� estava, � espera, sua amante (de 19 anos) Hanni Larissa Jaeger.
O POEMA DE FERNANDO PESSOA
A �ltima p�gina do caderno foi escrita por Pessoa. Ele e Jos� Os�rio foram bons amigos, pela vida.
Ficaram na arca (de Pessoa) c�pias de duas cartas que lhe escreveu. Uma, de 14 de maio de 1932, em que Pessoa promete-lhe artigo sobre Goethe. E outra, sem data (mas seguramente de 1932), respondendo pergunta de Jos� Os�rio: "Quais foram os livros que o banharam numa mais intensa atmosfera de energia moral, de generosidade, de grandeza de alma, de idealismo?"
Pessoa diz terem sido: "Em minha inf�ncia, e primeira adolesc�ncia... Pickwick Papers, de Dickens... Em minha segunda adolesc�ncia,... Shakespeare e Milton, assim como acessoriamente, aqueles poetas rom�nticos ingleses... talvez Shelley, aquele com cuja inspira��o mais convivi. E,no que posso chamar de terceira adolesc�ncia a... D�g�n�rescence, de Nordau."
Findando a carta com indica��o, escrita por Pessoa, "O paradoxo � meu: sou eu". Sem mais not�cias da rela��o entre os dois. Sabe-se, apenas, que Jos� Os�rio n�o foi ao enterro de Pessoa (em 2 de dezembro de 1935, no Cemit�rio dos Prazeres).
"Cada palavra dita � a voz de um morto", assim come�a o poema.
Dif�cil imaginar em que pensava, quando escreveu o verso. Talvez se lembrasse da j� vasta legi�o de perdas que o assustavam: "Os fantasmas de meus mortos eus", como definiu em "The mad fiddler".
O pai morre tuberculoso, em Lisboa, quando tem Pessoa apenas cinco anos (1893). O irm�o Jorge (1894), tamb�m tuberculoso, sem ter um ano de vida. A av� materna, Magdalena Pinheiro Nogueira (1896), na Ilha Terceira. O tio Manuel Gualdino da Cunha (1898), em Pedrou�os.
Duas irm�s —Magdalena Henriqueta (1901), em Durban; e Maria Clara (1906), em Lisboa. A querida av� paterna Dion�sia (1907), que sofria de "loucura rotativa", no hosp�cio de Rilhafoles. A m�e do padrasto, dona Henriqueta Margarida Rodrigues (1909), numa casa de sa�de em Belas. A tia-av� Maria e a tia-av� Adelaide (1911), em Lisboa. Tamb�m o amigo Sampaio Bruno (1915), em Lisboa —o mesmo que, para Pessoa, morreu logo que morreu. A tia-av� Rita (1916), em Pedrou�os.
E, finalmente, o querido S�-Carneiro (Lisboa, 1890-Paris, 1916), sua mais s�lida e duradoura amizade.
A Pessoa ele deixou bilhete, quando se suicidou no Hotel de Nice (hoje des Artistes), na zona do Butte Montmartre, em 26 de abril: "Um grande, grande abra�o do seu pobre M�rio de S� Carneiro".
Pessoa lhe dedica poema em que diz "�ramos s� um".
O tema de morte � recorrente, na obra de Pessoa. Alguns exemplos de �lvaro de Campos, s� para
"A morte, a morte, a morte, entre mim e a vida!" ("Passagem das horas"). "Agora que estou quase na morte vejo tudo j� claro" ("Dois excertos de ode"). "N�o sentem o que h� de morte em toda a partida./ Do mist�rio em toda chegada,/ De horr�vel em todo o novo" ("Nuvens").
H� outros mais assinados com o nome real de Pessoa:
"Sou j� o morto futuro,/ S� um sonho me liga a mim -/ O sonho atrasado e obscuro/ De que eu devera ser - muro/ Do meu deserto jardim" ("O Andaime"). "Toma-me, � noite eterna, nos teus bra�os/ E chama-me teu filho" ("Abdica��o"). "Primeira Veladora: Por que � que se morre?/ Segunda Veladora: Talvez por n�o se sonhar o bastante" ("O marinheiro").
Muitos outros. Como, agora se v�, est� nesse poema in�dito. Superior. � altura do melhor Pessoa. E que segue, aqui, como prova de devo��o.
Cada palavra dita � a voz de um morto.
Aniquilou-se quem se n�o velou
Quem na voz, n�o em si, viveu absorto.
Se ser Homem � pouco, e grande s�
Em dar voz ao valor das nossas penas
E ao que de sonho e nosso fica em n�s
Do universo que por n�s ro�ou;
Se � maior ser um Deus, que diz apenas
Com a vida o que o Homem com a voz:
Maior ainda � ser como o Destino
Que tem o sil�ncio por seu hino
E cuja face nunca se mostrou.
JOS� PAULO CAVALCANTI FILHO, advogado e bibli�filo, � autor de "Fernando Pessoa: Uma Quase Autobiografia" (Record)
Livraria da Folha
- Box de DVD re�ne dupla de cl�ssicos de Andrei Tark�vski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenci�rio
- Livro analisa comunica��es pol�ticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade