CR�TICA
CR�TICA: Filme 'Spotlight' exp�e entranhas da religi�o e da imprensa
A investiga��o jornal�stica retratada no filme "Spotlight - Segredos Revelados" foi o que deu visibilidade ao pesadelo subterr�neo dos abusos sexuais contra crian�as praticados por sacerdotes cat�licos. Antes havia den�ncias esparsas, sempre refutadas pela igreja.
As primeiras reportagens da s�rie publicada em 2002 pelo jornal "The Boston Globe" implicavam 70 padres na cidade, que abriga uma das maiores comunidades cat�licas dos Estados Unidos. Essa cifra logo se multiplicou, conforme casos semelhantes passaram a irromper em toda parte.
Em 2014, o Vaticano alegava haver aplicado san��es contra cerca de 3.500 religiosos nos �ltimos dez anos (quase 1%, num universo de 400 mil); os papas anterior e atual amontoaram pedidos de desculpas. O assunto � dram�tico para a institui��o porque os crimes n�o se restringiam aos abusos cometidos, em geral por padres que cativavam meninos em situa��o familiar vulner�vel.
Como atestaram as reportagens da equipe investigativa do jornal (chamada "spotlight", holofote), um meticuloso esquema de acobertamento dos delitos e prote��o dos infratores era mobilizado por superiores hier�rquicos, no caso de Boston por seu infame arcebispo, o cardeal Bernard Law, que renunciou em dezembro de 2002.
Parece �bvio que uma parcela de sacerdotes mant�m alguma vida sexual, o que deve favorecer certo "sil�ncio obsequioso" na corpora��o. Al�m disso, embora as estat�sticas n�o sejam conclusivas ao comparar a pr�tica de crimes sexuais por adultos leigos e religiosos, � de se imaginar que uma profiss�o que recruta celibat�rios e lhes confere poderes supostamente m�gicos corre o risco de atrair indiv�duos propensos a dist�rbios como a pedofilia.
O filme que o diretor Tom McCarthy fez da persistente apura��o levada a cabo pelo "Globe" � s�brio, cinzento como uma tarde bostoniana (dispens�vel o piano um tanto pern�stico da trilha). Em meio �s inevit�veis cenas de jornalismo expl�cito (anota��es fren�ticas, portas batidas na cara de rep�rteres etc.), uma aura de suave hero�smo banha a equipe do jornal.
O advers�rio aqui n�o � uma ditadura sanguin�ria, mas a mel�flua e sufocante influ�ncia que a igreja irradia sobre Boston e que se faz sentir dentro mesmo de seu principal peri�dico, onde muitos editores prov�m de tradicionais fam�lias cat�licas.
Foi devido � obsess�o de tr�s forasteiros –um editor-executivo judeu, um rep�rter de origem portuguesa e um advogado arm�nio– que se rompeu o circuito da in�rcia acomodat�cia, quando o jornal, depois de tatear �s cegas, decide enfim aprofundar a investiga��o dos ind�cios de abuso.
Esse aspecto do filme dissolve o manique�smo latente. Den�ncias contra padres e bispos haviam sido recebidas antes pelo "Globe" e registradas em notas despercebidas, quando n�o sumiram no buraco negro que existe em toda Reda��o, feito de falta de tempo, recursos, paci�ncia e incentivo para quebrar o h�bito. Demorou para a not�cia ser percebida, mas sua repercuss�o ainda ecoa.
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