São Paulo, quarta-feira, 16 de junho de 2010

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Editoriais

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A outra questão iraniana

Em novembro passado, durante visita ao Brasil, o dirigente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, ouviu do presidente Lula uma declaração de princípio: a política externa brasileira tem compromissos com a democracia e a defesa dos direitos humanos.
Não poderia ser diferente, embora as relações externas de qualquer país devam ser conduzidas com espírito pragmático, subordinadas ao interesse estratégico nacional. O apoio à democracia e aos direitos humanos deve traduzir-se em pressões comedidas e proporcionais, evitando, tanto quanto possível, ingerência nos assuntos internos dos demais países.
Nesse sentido, as palavras de Lula em novembro equilibraram-se bem entre os imperativos do interesse nacional e da coerência com as diretrizes da diplomacia.
Transcorreu um ano desde que a teocracia do Irã reprimiu com violência manifestações de partidários do candidato rival, Mir Hossein Mousavi, contra alegadas fraudes na reeleição de Ahmadinejad. Foram mortas em confrontos com a Guarda Revolucionária entre 36 e 70 pessoas -segundo versões, respectivamente, de governo e oposição.
Os protestos prosseguiram por alguns meses, mas arrefeceram até desaparecer. Os pretorianos dos aiatolás voltaram a ocupar as ruas no aniversário da eleição para impedir protestos. Esmagada, a oposição não sensibiliza mais a opinião pública internacional.
O governo brasileiro contribuiu para a invisibilidade desse tema ao lançar sua diplomacia numa controvertida e temerária iniciativa, com a Turquia, para manter abertas negociações com o Irã acerca de seu programa nuclear.
O objetivo central foi alcançado: projetar o Brasil no cenário internacional como ator relevante. O acordo obtido, porém, pouco afeta a capacidade persa de vir a construir armamento atômico.
Tampouco impediu que os EUA fizessem aprovar, no Conselho de Segurança da ONU, novas sanções contra o Irã, pela recusa de sujeitar seu programa a controle internacional. Mas contribuiu, sem dúvida, para fortalecer o regime iraniano, no plano interno, e ofuscar o drama irresolvido da repressão a seus opositores.


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