|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Editoriais
editoriais@uol.com.br
A outra questão iraniana
Em novembro passado, durante
visita ao Brasil, o dirigente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, ouviu do presidente Lula uma declaração de princípio: a política externa brasileira tem compromissos com a democracia e a defesa
dos direitos humanos.
Não poderia ser diferente, embora as relações externas de qualquer país devam ser conduzidas
com espírito pragmático, subordinadas ao interesse estratégico nacional. O apoio à democracia e aos
direitos humanos deve traduzir-se
em pressões comedidas e proporcionais, evitando, tanto quanto
possível, ingerência nos assuntos
internos dos demais países.
Nesse sentido, as palavras de
Lula em novembro equilibraram-se bem entre os imperativos do interesse nacional e da coerência
com as diretrizes da diplomacia.
Transcorreu um ano desde que
a teocracia do Irã reprimiu com
violência manifestações de partidários do candidato rival, Mir Hossein Mousavi, contra alegadas
fraudes na reeleição de Ahmadinejad. Foram mortas em confrontos com a Guarda Revolucionária
entre 36 e 70 pessoas -segundo
versões, respectivamente, de governo e oposição.
Os protestos prosseguiram por
alguns meses, mas arrefeceram
até desaparecer. Os pretorianos
dos aiatolás voltaram a ocupar as
ruas no aniversário da eleição para impedir protestos. Esmagada, a
oposição não sensibiliza mais a
opinião pública internacional.
O governo brasileiro contribuiu
para a invisibilidade desse tema
ao lançar sua diplomacia numa
controvertida e temerária iniciativa, com a Turquia, para manter
abertas negociações com o Irã
acerca de seu programa nuclear.
O objetivo central foi alcançado: projetar o Brasil no cenário internacional como ator relevante.
O acordo obtido, porém, pouco
afeta a capacidade persa de vir a
construir armamento atômico.
Tampouco impediu que os EUA
fizessem aprovar, no Conselho de
Segurança da ONU, novas sanções contra o Irã, pela recusa de
sujeitar seu programa a controle
internacional. Mas contribuiu,
sem dúvida, para fortalecer o regime iraniano, no plano interno, e
ofuscar o drama irresolvido da repressão a seus opositores.
Texto Anterior: Editoriais: Dilema europeu Próximo Texto: São Paulo - Fernando de Barros e Silva: Fantasia e miséria na Copa Índice
|