São Paulo, quarta-feira, 16 de junho de 2010

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Dilema europeu

Foco de tensão econômica na UE se desloca para a Espanha; solução satisfatória para a crise e seus altos custos sociais parece distante

Nos primeiros momentos da crise europeia, no final de 2009, o problema principal era a Grécia. O tamanho da dívida pública do país, próximo a 110% do PIB então, e as perspectivas sombrias para o crescimento de sua economia inviabilizaram a tomada de novos empréstimos no mercado financeiro. As autoridades foram forçadas a intervir com um pacote de ajuda de 110 bilhões.
Quando a solução foi anunciada, o problema já se apresentava como uma dificuldade geral de financiamento para outros países da região, e o euro perdia valor acentuadamente. Novas medidas foram adotadas: a criação de um pacote de financiamento intraeuropeu de 500 bilhões, complementado por até 250 bilhões do Fundo Monetário Internacional.
Além disso, o Banco Central Europeu anunciou que temporariamente compraria no mercado papéis dos países atingidos. A contrapartida são novos programas de austeridade, aprovados às pressas em vários países.
Tais medidas representaram passos concretos na direção de um mecanismo de financiamento coletivo, a ser concedido sob duras condições, monitoradas pela Comissão Europeia e pelo FMI. A falta deste mecanismo sempre foi considerada um ponto de fraqueza da moeda única. Fica claro, portanto, que a Europa, pelo menos até aqui, resolveu apostar na integração. Levará tempo para que esse processo político apresente os resultados desejados.
Os mercados não dão tempo. O foco de tensão passou a ser a Espanha, que teve sua capacidade de tomar empréstimos severamente comprometida. Teme-se que a austeridade fiscal reduza o crescimento e leve bancos e governo à insolvência.
Note-se que o problema da Espanha não nasceu de deficit fiscal elevado, como na Grécia. Ao contrário, até 2008 o governo espanhol vinha tendo superavit. Os problemas têm outra origem: na última década, o país foi destaque no crescimento europeu, com grande volume de investimento em construção civil financiado por capitais externos.
Como resultado da bolha imobiliária, o deficit em conta corrente permaneceu próximo a 10% do PIB por anos, e a contrapartida foi o crescimento da dívida externa.
Foi o setor privado que se endividou, mas o argumento não ajuda o governo espanhol, que mesmo assim vê seu crédito cortado na praça. Os países em desenvolvimento se acostumaram nas últimas décadas a passar pelo fenômeno conhecido como "parada súbita" dos capitais. Nesses casos, o ajuste em geral envolveu desvalorização cambial e algum mecanismo de socialização de perdas.
O caminho na Europa parece ser o de impor austeridade nacional em troca da solidariedade regional -com grandes custos sociais e políticos. O drama europeu ainda está longe do fim.


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