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Dilema europeu
Foco de tensão econômica
na UE se desloca para a
Espanha; solução satisfatória
para a crise e seus altos custos
sociais parece distante
Nos primeiros momentos da crise europeia, no final de 2009, o
problema principal era a Grécia. O
tamanho da dívida pública do
país, próximo a 110% do PIB então, e as perspectivas sombrias
para o crescimento de sua economia inviabilizaram a tomada de
novos empréstimos no mercado financeiro. As autoridades foram
forçadas a intervir com um pacote
de ajuda de 110 bilhões.
Quando a solução foi anunciada, o problema já se apresentava
como uma dificuldade geral de financiamento para outros países
da região, e o euro perdia valor
acentuadamente. Novas medidas
foram adotadas: a criação de um
pacote de financiamento intraeuropeu de 500 bilhões, complementado por até 250 bilhões do
Fundo Monetário Internacional.
Além disso, o Banco Central Europeu anunciou que temporariamente compraria no mercado papéis dos países atingidos. A contrapartida são novos programas
de austeridade, aprovados às
pressas em vários países.
Tais medidas representaram
passos concretos na direção de
um mecanismo de financiamento
coletivo, a ser concedido sob duras condições, monitoradas pela
Comissão Europeia e pelo FMI. A
falta deste mecanismo sempre foi
considerada um ponto de fraqueza da moeda única. Fica claro,
portanto, que a Europa, pelo menos até aqui, resolveu apostar na
integração. Levará tempo para
que esse processo político apresente os resultados desejados.
Os mercados não dão tempo. O
foco de tensão passou a ser a Espanha, que teve sua capacidade de
tomar empréstimos severamente
comprometida. Teme-se que a
austeridade fiscal reduza o crescimento e leve bancos e governo à
insolvência.
Note-se que o problema da Espanha não nasceu de deficit fiscal
elevado, como na Grécia. Ao contrário, até 2008 o governo espanhol vinha tendo superavit. Os
problemas têm outra origem: na
última década, o país foi destaque
no crescimento europeu, com
grande volume de investimento
em construção civil financiado
por capitais externos.
Como resultado da bolha imobiliária, o deficit em conta corrente
permaneceu próximo a 10% do
PIB por anos, e a contrapartida foi
o crescimento da dívida externa.
Foi o setor privado que se endividou, mas o argumento não ajuda o governo espanhol, que mesmo assim vê seu crédito cortado
na praça. Os países em desenvolvimento se acostumaram nas últimas décadas a passar pelo fenômeno conhecido como "parada
súbita" dos capitais. Nesses casos,
o ajuste em geral envolveu desvalorização cambial e algum mecanismo de socialização de perdas.
O caminho na Europa parece
ser o de impor austeridade nacional em troca da solidariedade regional -com grandes custos sociais e políticos. O drama europeu
ainda está longe do fim.
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