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Fantasmas do passado

Em autocr�tica in�dita na imprensa, "O Globo" admite que foi um erro ter apoiado o golpe de 64

Diante dos gritos "A verdade � dura, a Globo apoiou a ditadura!", que se ouvem nos protestos de rua, a rea��o esperada de um grande �rg�o de imprensa seria: 1) ignorar a provoca��o; 2) desmenti-la; 3) tentar justificar-se.

No domingo passado, as Organiza��es Globo surpreenderam ao n�o fazerem nada disso. O jornal "O Globo" publicou um editorial no qual reconhece que o apoio dado ao golpe militar de 1964 foi um erro.

"De fato, trata-se de uma verdade, e, tamb�m de fato, de uma verdade dura", admite o jornal. O editorial cita o contexto da �poca -Guerra Fria, radicaliza��o do governo Jo�o Goulart e a promessa dos militares de que seria uma "interven��o passageira"- para justificar o apoio dado ao golpe, chamado por muito tempo de "revolu��o".

O "Globo" fez quest�o de sublinhar que, ao concordar com a interven��o militar, estava "ao lado de outros grandes jornais, como 'O Estado de S. Paulo', Folha, 'Jornal do Brasil' e o 'Correio da Manh�'". De fato, dos grandes peri�dicos, s� a "�ltima Hora", de Samuel Wainer, ficou ao lado de Jo�o Goulart.

S� que o "Globo" deu apoio � ditadura praticamente at� o fim, o que o jornal admite, embora ressalve que "sempre cobrou (...) o restabelecimento, no menor prazo poss�vel, da normalidade democr�tica".

"'O Globo' n�o tem d�vidas de que o apoio a 1964 pareceu aos que dirigiam o jornal e viveram aquele momento a atitude certa, visando ao bem do pa�s. � luz da hist�ria, contudo, n�o h� por que n�o reconhecer, hoje, explicitamente, que o apoio foi um erro, assim como equivocadas foram outras decis�es editoriais do per�odo que decorreram desse desacerto original", diz o texto divulgado na internet e na TV.

� a primeira vez que se v� tamanho ato de contri��o na imprensa brasileira. Trata-se do principal conglomerado de m�dia assumindo um erro editorial -n�o de informa��o- sobre um momento decisivo da hist�ria recente do pa�s.

A Globo tinha ensaiado algo semelhante ao incluir no livro "Jornal Nacional, a not�cia faz hist�ria" (2004) avalia��es que pretendiam refutar duas acusa��es que pesam sobre a emissora: a de que fez uma cobertura p�fia dos com�cios que pediam as Diretas-J� e a de que favoreceu Collor na edi��o do debate presidencial com Lula em 1989.

A diferen�a � que nesses casos havia mais explica��es visando afastar imputa��es de m�-f� do que admiss�o de erros, num tom muito diferente do assumido agora.

A Folha, o jornal mais aberto a cr�ticas e o �nico, entre os grandes, que mant�m um ombudsman, nunca fez algo parecido.

Por ocasi�o da pol�mica em torno do termo "ditabranda", em 2009, publicou apenas uma nota em que dizia que o uso da express�o em editorial tinha sido um erro. "O termo tem uma conota��o leviana que n�o se presta � gravidade do assunto. Todas as ditaduras s�o igualmente abomin�veis", dizia a nota, cujo t�tulo -" Folha avalia que errou, mas reitera cr�ticas"- mostrava que o jornal estava fazendo a corre��o meio a contragosto.

O estrondoso mea-culpa global, que ocupou quase tr�s minutos do "Jornal Nacional", foi impulsionado pelos protestos de junho. O texto que introduz o editorial "1964" assume isso, ao dizer que "governo e institui��es t�m, de alguma forma, que responder ao clamor das ruas".

N�o importa tanto se h� interesses outros nessa autocr�tica, feita �s v�speras dos 50 anos do golpe, ou se havia muito mais para ser dito. O principal � perceber que se est� dando uma satisfa��o ao p�blico, que hoje, gra�as �s redes sociais, tem uma capacidade in�dita de express�o -e de press�o.

� um primeiro passo no longo caminho para a transpar�ncia, que passa pelo respeito ao "outro lado", pela obsess�o com o equil�brio, pelo reconhecimento r�pido dos erros cometidos e por canais que permitam uma cr�tica constante.

Quem sabe "o futuro j� come�ou", como diz o slogan de fim de ano da emissora.


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