São Paulo, sábado, 07 de julho de 2007

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5� Flip

Oz e Gordimer "rasgam seda" na Flip

Escritores debateram peso da história de seus países nos romances que assinam; público aplaudiu efusivamente

Autora disse que paciência dos negros evitou confronto mais grave na África do Sul; Oz evitou comparações com situação atual de Israel

EDUARDO SIMÕES
SYLVIA COLOMBO
MARCOS STRECKER
ENVIADOS ESPECIAIS A PARATY

A última mesa da noite de ontem da Festa Literária Internacional de Paraty reuniu o israelense Amós Oz e a sul-africana Nadine Gordimer, num encontro em que a rasgação de seda foi intensa e elegante.
Antes de começar o debate, Oz disse ao mediador que ficasse tranqüilo porque ele conhecia Gordimer há dez anos e que ambos "dançariam lindamente". Dito e feito: os dois trocaram elogios mútuos tanto pelo seu engajamento político quanto pela qualidade literária de suas obras. O público aplaudiu-os efusivamente.
A escritora disse que o apartheid acabou na África do Sul porque os negros tiveram paciência e não deixaram que o país fosse levado a um confronto que poderia ter sido terrível.
Oz ponderou que a situação em Israel não poderia ser comparada ao apartheid sul-africano, pois cada caso é um caso. O escritor defende a idéia de dois estados num mesmo país.
Os dois também reclamaram do fato de que as pessoas costumam entender tudo o que escrevem como alegoria política, e que sua ficção deveria ser vista de modo mais amplo.

Violência
Um pouco mais cedo, o roteirista mexicano Guillermo Arriaga e o autor de livros policiais norte-americano Dennis Lehane enfrentaram-se ao discutir a presença da violência na literatura e no cinema.
Arriaga disse que viver na Cidade do México, Bogotá ou Rio de Janeiro faz com que seja possível tratar a violência de modo mais frontal e realista e que isso não acontecia nos EUA, onde esta surge mais como uma caricatura.
Lehane rebateu, dizendo que, em seu país, a violência fornece elementos tão reais quanto a América Latina para a ficção, e citou como exemplos Baltimore e o Bronx.
Ambos contaram que "usam" seus amigos ou pessoas que os rodeiam como inspiração para construir seus personagens. Lehane disse que, entre suas fontes, estão as pessoas com quem cresceu, e que teme que isso acabe as constrangendo em algum momento.
Já Arriaga contou que utiliza os amigos e também pessoas simples e "generosas" do campo, com quem costuma se encontrar em seus passeios pelo deserto e suas caçadas.

Risadas
No começo da tarde, um debate entre escritores de língua portuguesa reuniu o moçambicano Mia Couto, o brasileiro Antonio Torres e o angolano José Eduardo Agualusa, que fez a mediação. O clima foi de cordialidade e piadinhas, que fizeram com que o auditório, cheio, desse risadas.


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