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Mães tiram férias para levar filho à escola
Adaptação de crianças pequenas costuma exigir que pais fiquem no colégio por até duas semanas; medida é recomendada por educadores
Criança se habitua mais facilmente ao colégio quando pode ir até a mãe; pais também podem sofrer com mudança
RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL
A microempresária Michele
Macedo, 29, está adiantando
seu trabalho ao máximo, deixando tudo engatilhado, porque vai ficar uma ou duas semanas fora do escritório. Mas não
serão dias de viagem nem de
descanso. Ela vai para o colégio.
Macedo está no grupo de
mães e de pais que escolhem a
dedo as férias ou os dias de folga: no início do ano escolar.
Querem estar lá quando os filhos mudarem de série ou estrearem no colégio.
Na sala de aula, ficam as
crianças recém-chegadas com a
professora. Numa sala ao lado,
"escondidas", as mães. A cada
berreiro que a professora não
consegue contornar, o pequeno
aluno é levado até a mãe. Recomposto, ele volta para a aula.
"O trabalho ou o filho? Não
há nem o que pensar. A prioridade é meu filho", pergunta e
responde Michele, referindo-se a seu Cauã Francisco, 2. Mãe
e filho entrarão de mãos dadas
no colégio Santa Amália (zona
sul de São Paulo) na semana
que vem. "Preciso estar lá, pois
é certo que ele vai estranhar."
Não é exagero ou superproteção tirar folga do trabalho para acompanhar os filhos, que
têm sido matriculados no colégio cada vez mais novos.
"É normal que tenham medo.
O espaço é novo, as pessoas são
novas", diz Marina Pedrosa,
orientadora do colégio Nossa
Senhora Aparecida (zona sul).
"A presença de alguém do mundo da criança ajuda a criar segurança. Ela não fica achando que
foi abandonada", acrescenta
Patrícia Bisseti, orientadora do
colégio Pio XII (zona oeste).
Quando a criança de um,
dois, três ou quatro anos pode
ir ao encontro da mãe toda vez
que se sente insegura, o processo de adaptação normalmente
dura de uma a duas semanas.
Sem esse vaivém e sem um
adulto de referência, a criança
pode não querer ficar na escola.
Foi o que aconteceu com Vicenzo Cirilo, 1, no final do ano
passado. Como a adaptação ao
berçário, com mãe ao lado, havia sido tranquila, a escola entendeu que o processo não precisaria se repetir no maternal.
"Comecei a ter uma série de
problemas. Ele, que amava o
berçário, passou a chorar para
não ir ao colégio", diz a analista
de sistemas Carla Cirilo, 37.
Após "quase entrar em parafuso", a mãe concluiu que seria
preciso mudar Vicenzo de escola. Foi o que fez. Tirou folga
do trabalho para ficar de plantão no jardim do colégio Pueri
Domus (zona sul). Em duas semanas, o filho estava adaptado.
Embora as mães sejam maioria, alguns pais, babás e avós
também participam. Qualquer
que seja o caso, o responsável
não pode se abalar com o choro.
"Orientamos os pais que não
deem total atenção à criança.
Devem dizer: "Estou aqui, fique
tranquilo. Pode voltar para sua
classe". E na mesma hora retomar o livro, o laptop ou a conversa com outro pai. Se não for
assim, o filho não vai querer se
desgrudar", diz Liamara Montagner, coordenadora do colégio Santo Américo (zona oeste).
A adaptação escolar pode ser
mais difícil para os pais do que
para a própria criança. "Os pais
ficaram até então vivendo só
para a sua cria e, de repente, ela
vira as costas, se desliga da família e vai para a escola. A separação é dolorosa para eles", diz
a psicanalista Diana Corso.
A escola deve ouvir a dor dos
pais, afirma Corso. "Eles ficam
mais tranquilos quando sabem
que a escola vai levar em conta
a visão que eles têm do filho."
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