Livraria da Folha

 
22/10/2010 - 16h33

Lula perdeu chance de Nobel da Paz, diz alem�o autor de "Brasil, Pa�s do Presente"

ARIADNE ARA�JO
colabora��o para a Livraria da Folha

Divulga��o
Jornalista alem�o Alexander Busch est� no Brasil h� quase 2 d�cadas
Jornalista alem�o Alexander Busch est� no Brasil h� quase 2 d�cadas
Divulga��o
Correspondente alem�o elege o pior e o melhor do Brasil recente
Correspondente alem�o elege o pior e o melhor do Brasil recente

A hora e a vez do Brasil? O mundo conhece o famoso postal brasileiro - carnaval, praias e futebol. Mas agora, algo destoa nessa imagem id�lica de para�so. Em vez de fazer samba e gols, o pa�s concentra-se agora em outra ambi��o. A de entrar para ficar no clube seleto das novas pot�ncias econ�micas do planeta. Nessa corrida, o Brasil aposta alto: � modelo na produ��o e consumo de combust�veis alternativos, grande fornecedor de mat�rias-primas, tem enorme potencial agropecu�rio, bancos s�lidos e d� suas cartas na diplomacia mundial.

Entre incr�dulo, assustado e interessado, o mundo acompanha de perto o boom brasileiro. Para os especialistas, a sa�de econ�mica brasileira promete. De olho nesse novo cen�rio, o jornalista alem�o Alexander Busch lan�ou "Brasil, Pa�s do Presente - O Poder Econ�mico do Gigante Verde" (Cultrix). Morando no Brasil h� quase 2 d�cadas, ele diz que o pa�s tem muitos trunfos para decolar, mas, a exemplo do que aconteceu nas empresas p�blicas e privadas, precisa dar um "salto de qualidade" tamb�m na sua pol�tica.

Mas h� ainda algumas pedras no caminho do Brasil. Em entrevista � Livraria da Folha, Busch diz que manobras pol�ticas mal pensadas, como a aproxima��o com o Ir� e Cuba, tiraram de Lula a chance de ganhar o Pr�mio Nobel da Paz e fizeram o pa�s perder simpatizantes. Agora, o Brasil precisa urgente investir em seguran�a, educa��o e preparar m�o de obra para o futuro que bate � porta.

Leia entrevista.

*

Livraria da Folha - No seu livro, o senhor diz que o tema Brasil como "pot�ncia" econ�mica e pa�s "concorrente direto" de outros grandes europeus, como a Alemanha, n�o tem interessado muito aos alem�es. Eles preferem o Brasil do carnaval, samba e futebol. No Brasil, no entanto, o seu livro encontrou forte interesse por parte do p�blico. Como foi a recep��o do seu livro a� na Alemanha?

Alexander Busch - Foi muito bem recebido. Confesso que fiquei um pouco incr�dulo no in�cio, pelo fato de ter sido publicado por l� h� um ano, quando a economia da Alemanha ainda estava mergulhada em uma tremenda crise. Ningu�m quis acreditar que um pa�s como Brasil que por d�cadas era sin�nimo de pa�s emergente em crise, estava se saindo melhor do que todas as outras economias da Europa e dos EUA. Tenho a impress�o de que meu livro ajudou a alertar o p�blico na Alemanha sobre o potencial pol�tico e econ�mico do Brasil. Principalmente na pol�tica e na administra��o p�blica, onde negligenciaram o Brasil at� recentemente. Este clich� do Brasil conhecido como o pa�s do carnaval, samba e futebol que permanece na sociedade alem� e principalmente na m�dia est� mudando rapidamente. H� uma nova demanda de informa��o sobre o Brasil na Europa. Prova disto � que este livro ser� reeditado na Alemanha j� em 2011.

Livraria da Folha - O senhor tem acompanhando o Brasil com olhos de jornalista europeu, conhecedor da quest�o Am�rica Latina. Na sua opini�o, esse pa�s que o senhor descreve no livro � "reconhec�vel" pela popula��o brasileira? Ou seja, os brasileiros e empresas brasileiras (os atores econ�micos) t�m uma vis�o clara do que est� acontecendo com o pa�s?

Busch - � necess�ria uma breve explica��o. Um jornalista estrangeiro, como qualquer observador de fora, tem a vantagem de poder acompanhar e descrever o desenvolvimento de uma sociedade ou economia com certo distanciamento. N�o � melhor nem pior do que um observador local. O correspondente simplesmente v� o pa�s de outro �ngulo. � talvez compar�vel a um historiador que analisa um acontecimento do passado. Como correspondente, tento juntar as diferentes opini�es e interesses particulares na sociedade e descrever o que acontece num pa�s em grandes linhas. No Brasil acontece uma coisa interessante: apesar das proje��es aparentemente muito diferentes sobre o futuro do pa�s, vejo uma surpreendente converg�ncia de ideias no �mbito das empresas, na pol�tica e na sociedade. Uma vis�o bastante clara - como voc� est� perguntando existe, em minha opini�o, nas elites dos diferentes grupos da sociedade. Do Itamaraty at� o sindicalismo, das empresas da ind�stria at� agroneg�cio e as ONG ambientais eu n�o vejo tantas diferen�as entre as vis�es deles em rela��o ao Brasil. N�o existe uma grande divis�o na sociedade brasileira como em outros pa�ses latino americanos. O Brasil � bastante admirado justamente por isso. O que mais atrapalha pa�ses como Venezuela ou Argentina s�o os grandes antagonismos dentro destas sociedades.

Livraria da Folha - O senhor cita no seu livro que o governo do Brasil, apesar da forte press�o mundial, n�o deu a devida aten��o � quest�o ecol�gica ou "verde". Tamb�m sabemos que parte importante e crescente do PIB do Brasil est� sendo engolida pelos gastos da m�quina governamental. Quais s�o, na sua opini�o, os reais problemas que poderiam atrapalhar o Brasil nesse plano de crescimento e de "pot�ncia emergente"?

Busch - A p�ssima infraestrutura, a sobrevaloriza��o do real, a pouca efici�ncia do Estado em providenciar implementos em setores como sa�de, seguran�a e educa��o estes s�o alguns dos problemas que em curto prazo mais atrapalham o pa�s como pot�ncia emergente. Nestes itens o governo melhorou muito pouco nos �ltimos anos. A respeito da quest�o ecol�gica, eu nem estou t�o pessimista. Eu vejo um fortalecimento de temas verdes na sociedade, na m�dia, na pol�tica e entre os empres�rios de uma rapidez surpreendente nos �ltimos dois, tr�s anos. Claro que o governo Lula e os candidatos Dilma e Serra menosprezam a pol�tica verde at� hoje mas eles receberam a conta no primeiro turno. Este potencial de eleitores verdes nenhum pol�tico esperto vai deixar de lado nas futuras elei��es.

Livraria da Folha - O Brasil se prepara para ser uma pot�ncia econ�mica, mas como o senhor v� o problema da nossa educa��o de base, mais baixa que em pa�ses da �sia? Sem prepararmos nossa m�o de obra para um mundo horizontal, como poderemos dar o salto? Isso vai atrasar o pa�s, comparando-se � velocidade dos outros?

Busch - Isso j� est� atrasando o pa�s tremendamente agora. Eu n�o vejo o pa�s crescer nas taxas projetadas de mais de uma m�dia de 5% ao ano na pr�xima d�cada. Porque faltam pessoas capacitadas suficientemente. � poss�vel perceber que o desemprego nas faixas dos jovens entre 18 e 24 anos est� crescendo e n�o diminuindo, apesar do crescimento e de muitas empresas buscando m�o de obra. Outro exemplo � o projeto do pr�-sal. Fala-se quase exclusivamente sobre as dificuldades de conseguir capital para investimento. Mas, em compara��o, � muito mais f�cil de conseguir dinheiro do que empregados bons. Nem falo da demanda n�o atendida de pesquisadores e engenheiros qualificados. � poss�vel melhorar este panorama em relativamente pouco tempo, talvez em 5 a 10 anos. Mas precisamos de governos determinados, que vejam educa��o como prioridade absoluta. At� agora estes n�o existiam no Brasil ainda que o pa�s j� tenha tido e tenha excelentes profissionais e dirigentes no ramo da educa��o.

Livraria da Folha - O senhor acha que o protecionismo contra importa��es de outros pa�ses pode ajudar em curto prazo a economia brasileira, mas a longo prazo enfraquec�-la?

Busch - Sim, exatamente. Eu n�o vejo outro jeito da economia local se proteger contra as importa��es no curto prazo com este Real forte a n�o ser de uma cerca mais alta de impostos de importa��o e ajuda aos exportadores. Mas este novo protecionismo com certeza vai atrapalhar o desenvolvimento do pa�s. Porque o que verdadeiramente atrapalha a capacidade de competi��o das empresas brasileiros � o que costumamos chamar de "Custo Brasil" ningu�m vai mexer de novo se todo mundo se acomoda numa ilha protegida por protecionismo. Politicamente � sempre mais f�cil aumentar imposto do que cortar custo. O custo que isto implica para a sociedade ser� alto: at� hoje o mercado de consumo local est� sendo muito mal servido pelas empresas apesar do forte aumento do poder aquisitivo. N�o � poss�vel que a maior parte dos produtos de consumo na Alemanha estejam mais baratos do que no Brasil, apesar das pessoas l� na Europa terem um sal�rio m�dio bem mais alto do que os brasileiros. Isto n�o � apenas uma consequ�ncia do Real forte e dos altos impostos como governo e as empresas gostam de alegar. J� faz parte de um mercado protegido.

Livraria da Folha - Ao contr�rio da China, com projeto claro e ambicioso de "ganhar o jogo", o Brasil tem tido boa dose de sorte nesse caminho de "pot�ncia". Tamb�m somos "pac�ficos", burocr�ticos, parte de nosso sistema � corrupto e somos lentos demais para as mudan�as. Como poderemos, assim, ganhar "essa corrida da globaliza��o", contando sempre com um "pouco de sorte" e sem uma boa estrat�gia?

Busch - A estrat�gia internacional do Brasil at� recentemente foi a de n�o se intrometer nos assuntos internos de outros pa�ses. E jogar com os meios de um "soft power" atrav�s de uma diplomacia muito bem preparada. Foi uma estrat�gia adequada para a posi��o do Brasil no mundo por um bom tempo. Sorte tamb�m n�o faltou nos �ltimos anos e o governo soube muito bem aproveit�-la. Agora com a nova import�ncia econ�mica do pa�s na era da globaliza��o, esta estrat�gia externa tamb�m tem que se adaptar. O governo Lula ensaiou algumas mudan�as para um maior papel internacional recentemente. N�o foram muito felizes em minha opini�o, como no caso de Cuba e do Ir�. Parecia uma desesperada tentativa de mostrar ao mundo que somos tamb�m importantes e n�o sempre os bons mo�os. Com isto, o Brasil perdeu simpatia no mundo. N�o sei se o presidente Lula est� ciente, mas eu penso que, com estas manobras mal pensadas, ele perdeu uma grande chance de ganhar o pr�mio Nobel da Paz como o presidente que mais avan�ou no mundo em reduzir a pobreza num pa�s democr�tico. Mas isto, no futuro, ser� apenas um detalhe na trajet�ria pessoal de Lula. Tenho esperan�a de que a pol�tica externa do Brasil seja guiada de novo na tradi��o preponderante das �ltimas d�cadas, mas, claro, ampliado na altura da crescente import�ncia do pa�s do mundo.

Livraria da Folha - Como a Europa, acompanha nossa elei��o? Quais s�o os principais receios mencionados? Ou a confian�a se mant�m, independente de quem ven�a a elei��o?

Busch - Esta elei��o � de longe a mais observada na Europa desde que trabalho como correspondente no Brasil, ou seja, dos �ltimos quase 20 anos. Todos os meios da Alemanha mandaram equipes ou jornalistas renomados. Reportagens sobre Dilma e Lula at� apareceram no jornal "Bild", o maior tabloide da Alemanha, o que � muito dif�cil de acontecer. Nas reportagens em geral domina ainda a surpresa sobre o "Brasil que est� dando certo". Se vai ser o Serra ou a Dilma que presidir� o pa�s a partir de 2011 n�o faz muito diferen�a nestas reportagens de destaque. Em geral, as elei��es totalmente transparentes, limpas e r�pidas s�o positivamente mencionadas.

Livraria da Folha - Alguma nova observa��o a mais sobre o tema geral do livro, que o senhor acrescentaria � edi��o, caso fosse poss�vel?

Busch - Eu escrevi o livro em abril e maio de 2009 no auge da crise econ�mica mundial, que neste momento tamb�m amea�ou se alastrar no Brasil. Apesar de o tradutor Fl�vio Quintiliano e eu termos atualizado a edi��o para o Brasil, n�o � f�cil acompanhar o ritmo das mudan�as no pa�s. As mudan�as negativas na pol�tica internacional do Brasil, j� mencionei na edi��o brasileira. Outro exemplo que mudou para o lado negativo � a crescente influ�ncia do Estado na economia. Eu vi no meu livro, como uma grande vantagem das empresas do Brasil, que o controle do universo deles est� equilibrado entre o Estado, a iniciativa privada e o capital estrangeiro. Temo que o Estado, num governo parecido com o de Lula, aumentar� o controle estatal al�m do equil�brio. Isto vai diminuir a efici�ncia e aumentar a corrup��o, sem d�vida. Por causa destas mudan�as r�pidas, a editora na Alemanha n�o quer apenas atualizar o livro, mas reedit�-lo. No ano que vem a nova posi��o do Brasil na economia mundial j� ser� um fato, mas o menos consumido. Interessante agora ser� observar como e se o Brasil vai conseguir a segunda etapa do fortalecimento e se estabelecer como novo poder mundial. Tenho certeza de que esta segunda etapa ser� muito mais dif�cil do que a primeira. Mas tem boas chances de acontecer.

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"Brasil, Pa�s do Presente"
Autor: Alexander Busch
Editora: Cultrix
P�ginas: 256
Quanto: R$ 33,00 (pre�o promocional, por tempo limitado)
Onde comprar: 0800-140090 ou na Livraria da Folha

 
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