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10/07/2004 - 07h43

Escritores e cr�ticos analisam literatura brasileira em Parati

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CASSIANO ELEK MACHADO
LUIZ FERNANDO VIANNA

enviados especiais a Parati

Paul Auster, Martin Amis, Ian McEwan e Margaret Atwood. OK. Mas e n�s? Aproveitando o dia mais brasileiro da Festa Liter�ria Internacional de Parati, que ter� de manh� Ferr�z, pela tarde o trio Lygia Fagundes Telles, Moacyr Scliar e Luis Fernando Verissimo e Chico Buarque na entrada da noite, a Folha ouviu escritores, cr�ticos, agentes liter�rios para bater uma chapa da fic��o que fica aqui depois que o circo da Flip for desmontado. Qual a situa��o da literatura brasileira hoje?

O ca�ula do festival, Daniel Galera, 25, d� o mote da toada. "� imposs�vel definir como � a fic��o feita hoje no pa�s. � tudo muito variado, cada um seguindo sua viagem." Escritor e dono da microeditora Livros do Mal, ele � inimigo ferrenho de "gera��o 90", "gera��o 00" e outras estampas que pregam nas costas dos autores que se consolidam agora.

A �nsia de classificar o que est� sendo feito agora, opina Augusto Massi, � sinal da falta de "esp�rito cr�tico". Ator, diretor e contra-regra, ou seja, editor, ensa�sta, professor e poeta, ele acredita que o problema n�o est� na produ��o liter�ria nacional nem naqueles que a imprimem. "Quando ningu�m consegue se localizar montam-se logo antologias. S�o colet�neas feitas por gera��es, g�neros ou 'os cem melhores'. Mas essas listas s�o pouco confi�veis." Massi acredita que faltam cr�ticos novos, que possam organizar um mercado que d� espa�o "para todo mundo: do cara dos poemas porn�s ao best-seller".

Raimundo Carrero, 14 romances nas costas, discorda. "Faltam � leitores." E a oferta nacional das nov�ssimas gera��es ("nova gera��o sou eu tamb�m, n�o morri"), segundo ele, � das mais generosas poss�veis. "Vivemos a perplexidade de um novo mil�nio. A literatura brasileira vive o que Alejo Carpentier chamou de terceiro estilo, que � a falta de um estilo", aponta o autor pernambucano.

Os "nov�ssimos" apontam a internet como multiplicadora desses modos t�o variados de prosear. "A palavra � jogo. N�s jogamos os textos na internet e estamos jogando literariamente para encontrar nossos caminhos, nossos estilos", opina Em�lio Fraia, 22, paulistano.

Essa "busca de caminhos" o trouxe �s Veredas da Literatura. Esse � o nome de um projeto liter�rio da Flip que reuniu de quinta a hoje uma trupe de 50 autores in�ditos ou nos primeiros passos para uma oficina com o romancista e professor Milton Hatoum.

Vindos de diversas cidades, e agrupados "woodstockianamente" em uma pousada, eles ter�o um m�s a contar de hoje para apresentarem projetos de livros. Dois deles ser�o brindados pela Vivo, patrocinadora do projeto, com R$ 12 mil (oito de R$ 1.500) para conclu�rem os escritos.

Os "nov�ssimos" far�o "vanguardismos"? N�o necessariamente. Antonia Pellegrino, 24, carioca, fala sem meias palavras. "Caguei para a vanguarda. Escrever uma boa hist�ria j� � �timo. Se quer fazer vanguarda, tem que ser g�nio. Ficar no meio do caminho n�o d�", diz a neta do poeta e psicanalista Helio Pellegrino.

Um dos principais contistas brasileiros, S�rgio Sant'Anna, safra 1941, n�o pensa assim. "A palavra 'vanguarda' envelheceu, mas o desejo de inovar n�o. Quem prega que o que importa � s� o enredo, e n�o a linguagem, s�o setores conservadores, um pouco reacion�rios", diz o escritor, que p�s o tema na roda ontem em encontro com Luiz Vilela.

Carrero, Marcelino Freire, Ivana Arruda Leite e Daniel Galera, reunidos em frente � Igreja da Matriz, rezam nessa cartilha. Em conversa com a Folha, dizem eles que a fic��o brasileira tem muita gente experimentado bem a linguagem, sim. Mas n�o acreditam que esse (ou qualquer outro tra�o) possa ser amarrado nas novas escrituras brasileiras.

"Tentar definir o que est� acontecendo � como abrir o liq�idificador enquanto a vitamina est� sendo feita. Voa abacate para todo lado", diz o poeta, prosador e editor Joca Reiners Terron. Sem receio dos "abacates", Augusto Sales, editor da revista liter�ria "Paralelos" e um dos organizadores da Veredas da Literatura, arrisca um retrato de corpo inteiro.

"Os autores cariocas trabalham mais a partir da mem�ria afetiva. S�o pequenas obsess�es, crises existenciais e o inc�modo com a superficialidade do mundo contempor�neo. J� S�o Paulo � mais 'faca no bucho', fala mais da viol�ncia urbana. Tem influ�ncia de Rubem Fonseca e do cinema. No Sul, vejo mais elementos fant�sticos. Mas, em comum, t�m a concis�o, o apre�o pelos minicontos, o que � influ�ncia da internet."

Contam-se em dedos minguados os jovens autores que n�o trabalham com a "rede", a julgar pela amostragem da oficina Veredas. Uma delas vem do interior paulista. Fab�ola Moura, 31, � o nome da "avis rara". "Sou uma exce��o aqui, porque n�o tenho blog. Sou autora do s�culo passado. O que acho �timo nos novos autores � a desmistifica��o da escrita. A busca de comunica��o direta pela net possibilita isso."

Outra "desmistifica��o" � a de que n�o � poss�vel exportar nossa literatura. Lucia Riff, principal agente liter�ria brasileira, diz que n�o passa nenhum m�s sem negociar autores brasileiros com o exterior. "Tenho recebido pedidos de pa�ses que nunca publicaram nossa literatura. Anos atr�s o desconhecimento da literatura brasileira chegava a ser constrangedor. Agora estamos na moda."

Mas ainda falta. Com a palavra o enviado do jornal espanhol "El Pa�s", Jos� Andr�s Rojo: "O leque da literatura brasileira � imenso, com obras de variedade surpreendente. � literatura ainda praticamente desconhecida, que precisa ser posta em �rbita".

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