A China vence com ampla folga, sem ser incomodada. Os EUA chegam apenas em quarto lugar. A Ucr�nia � a terceira e chega a brigar em alguns momentos pelo vice com os brit�nicos.
Quem olha o quadro de medalhas dos Jogos Paraol�mpicos em busca de alguma l�gica semelhante � da Olimp�ada quebra a cara.
A distribui��o de medalhas nas disputas dos para-atletas obedece a uma outra geopol�tica. Com objetivos e formas diferentes de encarar os esportistas deficientes, mas com um fator em comum: ainda � dif�cil manter o esporte para deficientes sem uso de verba estatal.
A situa��o da Ucr�nia salta aos olhos. Nos Jogos Ol�mpicos do Rio, em agosto, ficou l� atr�s no quadro de medalhas, em 31� lugar, com 11 p�dios e apenas dois ouros.
Nos esportes paraol�mpicos, no entanto, � uma pot�ncia. Terminou a competi��o em terceiro, � frente dos EUA. Em sua estreia no evento, h� exatamente duas d�cadas, em Atlanta, o pa�s ficou em um distante 44�.
O que ajudou nessa transforma��o foi o trabalho de Valeriy Sushkevych, fundador e presidente do comit� paraol�mpico local e ex-nadador da antiga URSS.
Sergio Moraes/Reuters | ||
Da esquerda para a direita, os ucranianos Oleksandr Komarov, Maksym Krypak, Bohdan Hrynenko e Denys Dubrov, que ganharam o ouro na nata��o 4 x 100 m |
Ele pr�prio j� ouviu que deveria estar em um hospital e n�o em uma piscina.
Membro do parlamento da Ucr�nia, desenvolveu um sistema que prev� ao menos uma escola em cada regi�o do pa�s que ofere�a introdu��o de esportes para crian�as com defici�ncias.
Elas nadam, correm, levantam peso, jogam v�lei, basquete, tudo. A experi�ncia as ajuda a melhorar a auto-estima, ganhar confian�a, independ�ncia e ter uma sa�de melhor. E de uma base com muitos praticantes s�o pin�ados os atletas.
Para esses, a Ucr�nia tem um dos melhores centros de treinamento da Europa, totalmente adaptado aos deficientes. O governo banca a maior parte do programa. Sem essa verba, ele seria invi�vel.
Esse parece o calcanhar de aquiles da maioria dos pa�ses, at� na elite.
FOR�A CHINESA
A China talvez seja o �nico entre os dez primeiros que n�o enfrenta essa dificuldade –ao menos n�o oficialmente divulgada.
O pa�s domina o cen�rio paraol�mpico nos Jogos desde 2004. Quando recebeu o direito de sediar o evento de 2008, iniciou um forte aporte de verba no esporte para brilhar em casa. E isso incluiu os para-atletas.
Carlos Garcia Rawlins/Reuters | ||
Zhang Chuncui, Rong Jing e Zhou Jingjing, da esq. � dir., celebram a conquista do ouro na esgrima |
Assim, tornou-se poss�vel dar espa�o a uma popula��o de 83 milh�es de deficientes ainda marginalizados.
Enquanto a China reina sem dificuldades, seu principal rival ol�mpico pena para se manter no top 5. A falta de investimento � um dos fatores que levam os EUA e n�o repetirem o sucesso ol�mpico em Paraolimp�adas –na Olimp�ada no Rio, foram 121 p�dios contra 67 da China, que apareceu em terceiro.
Num passado recente, os EUA s� lideraram o quadro de medalhas paraol�mpico em casa, em 1996. Com exce��o de Pequim-2008, quando ficou em terceiro, n�o consegue passar do quarto lugar. Na �ltima Olimp�ada, acabou em sexto. At� sexta-feira (16), estava em quarto.
Os militares veteranos contam com apoio governamental e estrutura mais s�lida. Os civis, no entanto, dependem do suporte dos patrocinadores. E ele � raro, at� l�.
Sergio Moraes/Reuters | ||
A norte-americana Rebecca Meyers, ouro na nata��o, ao lado das cazaques Muslima Odilova, � esq., e Fotimakhon Amilova |
O apoio do comit� ol�mpico aos para-atletas tem crescido, mas ainda est� distante do ideal. No caminho para o Rio, por exemplo, foram US$ 4 milh�es por ano (cerca de R$ 32 milh�es no ciclo). O restante da verba necess�ria para a prepara��o dos atletas � obtida por patrocinadores individuais, clubes, vaquinhas, etc.
O Brasil investiu R$ 375 milh�es de 2013 a 2016, a maior parte de dinheiro p�blico.
A Gr�-Bretanha, vice tanto nos Jogos Ol�mpicos quanto nos Paraol�mpicos, repete sua f�rmula nas duas equipes: a verba principal sai da mesma fonte, as loterias.
O topo da pir�mide do quadro de medalhas do Rio mostra que, sem apoio do governo, o esporte paraol�mpico ainda dificilmente consegue se desenvolver e se manter. E que com investimento bem feito, � poss�vel criar novas pot�ncias que n�o brilham no universo ol�mpico.