A americana Melissa Stockwell, 36, teve a perna esquerda amputada acima do joelho em 2004 depois de ser atingida por uma bomba quando servia o Ex�rcito do seu pa�s no Iraque.

Exatos 15 anos depois do evento que foi o estopim da guerra em que ela foi ferida, o ataque �s Torres G�meas, em Nova York, Stockwell recebeu sua primeira medalha, n�o mais como militar, mas como atleta paraol�mpica. Ela conquistou no domingo (11) o bronze no triatlo.

"Todo 11 de setembro � especial para mim. Quando aquelas torres ca�ram, senti que minha vida mudaria para sempre. O esporte me fez sentir valorizada de novo e me mostrou que tudo � poss�vel, tendo voc� uma perna ou duas", disse � Folha.

Assim como Stockwell, ao menos 27 esportistas paraol�mpicos que est�o no Rio s�o veteranos de guerra feridos em campos de batalha.

	Pilar Olivares/Reuters
	A americana Melissa Stockwell antes de prova na Rio-2016

Levantamento feito pela reportagem no sistema oficial de informa��es da Rio-2016 mostrou que atletas de oito pa�ses come�aram no esporte paraol�mpico depois de serem atingidos por tiros, pisarem em minas terrestres ou terem seus ve�culos explodidos por bombas improvisadas ou por m�sseis-granada de propuls�o.

Os EUA lideram a lista, com dez atletas, seguidos por Gr�-Bretanha, Israel, B�snia-Herzeg�vina, com quatro cada um, Sri Lanka (tr�s), Turquia, Holanda e Austr�lia, com um atleta cada um.

As guerras do Iraque e do Afeganist�o foram as que mais vitimaram ex-soldados que hoje est�o nos Jogos: 16.

O americano�Alfredo de los Santos, 46, do ciclismo de estrada, perdeu a perna esquerda no Afeganist�o, em 2008, quando seu blindado foi atingido por um disparo de lan�a-m�sseis. Foi tamb�m l� que o ingl�s Nick Beighton, 34, da canoagem de velocidade, perdeu as duas pernas ao pisar em um explosivo improvisado, igualmente em 2008.

O mesmo ocorreu em 2012 com o cano�sta australiano Curtis MacGrath, 28. �nico enfermeiro de sua equipe, ele precisou orientar os demais soldados sobre como deveriam aplicar-lhe morfina.

A holandesa Jaaike Brandsma, 29, do v�lei sentado, perdeu uma perna, teve les�es no bra�o e ficou parcialmente surda ao ser v�tima do ataque de um homem-bomba durante uma patrulha no pa�s asi�tico, em 2007.

Muitos deles veem no esporte uma forma de�seguir em frente com a vida, agora cercada de limita��es.

Para o nadador americano Bradley Snyder, 31, � tamb�m uma oportunidade de servir seu pa�s mais uma vez. Em 2011, durante miss�o de resgate de feridos no Afeganist�o, ele perdeu os dois olhos por causa de uma bomba. Snyder j� conquistou duas medalhas de ouro no Rio.

"Quando fiquei cego, enfrentei dificuldades que nunca imaginaria, como colocar creme dental na escova ou encontrar a minha comida no prato. Quando fa�o o que eu fa�o na piscina, provo para mim mesmo do que sou capaz", afirmou ele, que ter� sua vida retratada em um filme que est� em fase de reda��o do roteiro.

	Pilar Olivares/Reuters
	O nadador americano Bradley Snyder durante prova na Paraolimp�ada do Rio

OUTROS CASOS

Conflitos do s�culo passado tamb�m transformaram soldados em para-atletas. Tr�s dos quatro israelenses da lista tiveram ferimentos causados pelo conflito hist�rico entre Israel e L�bano, cujas primeiras hostilidades datam do fim dos anos 1960.

� o caso de Doron Shaziri, 49, do tiro esportivo, que perdeu a perna esquerda ao pisar em uma mina, em 1987, e do remador Reuven Magnagey, 44, que teve o tornozelo esquerdo estra�alhado por um tiro de fuzil durante a Batalha de Jenin, em 2002, na Cisjord�nia.

Quatro jogadores do v�lei sentado da B�snia participaram da guerra resultante da dissolu��o da Iugosl�via, nos anos 1990. Tr�s atletas do Sri Lanka foram v�timas do conflito entre o governo do pa�s e militantes separatistas do norte e do leste, chamados Tigres da Liberta��o da P�tria T�mil, cujos ataques deram in�cio � guerra civil, no final dos anos 1980.

H� ainda um ex-combatente na delega��o da Turquia, o atirador Muharrem Yamac, 43, que servia o Ex�rcito durante a revolta curda no pa�s, nos anos 1980 e 1990.