Em 15 dias de Olimp�ada, os sete Juizados Especiais do Torcedor e Grandes Eventos espalhados pelo Rio registraram 397 ocorr�ncias, envolvendo 508 pessoas, segundo levantamento da Justi�a do Rio.
O Tribunal de Justi�a decretou 76 pris�es preventivas durante os Jogos. Os detidos foram, em sua maioria, cambistas e desviantes de ingresso.
No topo das estat�sticas, a venda ilegal de ingressos contabiliza 182 casos, a maioria no Parque Ol�mpico da Barra (111).
Vendidos acima do pre�o da tabela, parte dos bilhetes era desviada por pessoas que tinham algum acesso � organiza��o dos Jogos (38 ocorr�ncias) e entregue para empresas ou cambistas comuns, que faziam a venda direta.
O caso mais significativo � o da empresa THG Sports, que vendia ilegalmente ingressos destinados a comit�s de oito pa�ses por at� US$ 8.000 (cerca de R$ 25 mil).
Um dos desviantes era o presidente do Comit� Ol�mpico Irland�s, Patrick Hickey, 71. Ele est� preso h� mais de uma semana na penitenci�ria de Bangu 10.
Tamb�m chamou aten��o uma rede de cambismo envolvendo 35 pessoas, que ainda est� sendo investigada.
"O restante � o que chamo de formiguinhas, muita gente que agia individualmente", disse o juiz Marcello Rubioli, um dos coordenadores dos juizados.
Como exemplo, ele conta que deu ordem de pris�o a um noruegu�s fantasiado de viking que tentava vender 30 ingressos dentro do Parque Ol�mpico da Barra e levava R$ 5.000 em esp�cie. Indiciado, o homem pagou R$ 8.000 e foi liberado.
Segundo Rubioli, as multas aplicadas ficaram entre R$ 5 mil e R$ 10 mil. A arrecada��o superou os R$ 200 mil e o valor foi repassado a institui��es de caridade na forma de benfeitorias ou produtos de primeira necessidade.
"Fizemos isso para os envolvidos n�o se sentirem extorquidos, para que n�o pensem que se trata de uma estrat�gia de arrecada��o", disse.
Questionado sobre os valores, o juiz explicou que o crit�rio das decis�es foi a repercuss�o das ocorr�ncias, que influi no car�ter exemplificativo da pena.
Por isso, o nadador americano James Feigen teve de pagar R$ 35 mil pelo crime de comunica��o falsa, no caso do suposto assalto aos quatro atletas dos EUA. O valor foi considerado baixo pelo Minist�rio P�blico do Rio, que recorreu e conseguiu liminar anulando a multa.
Al�m do cambismo, destacaram-se 18 casos de desacato e 13 ocorr�ncias de falsifica��o, geralmente envolvendo credenciais.
Quase todos os casos de desrespeito aconteceram com policiais da For�a Nacional. Mas, pelo menos uma vez, envolveu um funcion�rio da Rio-2016, quando um turista australiano cuspiu no rosto de um volunt�rio e foi preso.
Em outra situa��o, o pai de um competidor australiano n�o aceitou a revista e jogou a bolsa em um agente da For�a, sendo detido. O homem foi condenado a pagar multa de R$ 7.500 e acabou tendo o passaporte recolhido quando tentava sair do pa�s pelo Recife.
Na avalia��o do desembargador Mauro Martins, respons�vel pelo funcionamento dos juizados, as a��es passaram "um sentimento de seguran�a para quem ia aos est�dios e mesmo para atletas e funcion�rios".
"Em dado momento, tivemos claro que o p�blico sabia da exist�ncia dos juizados, para recorrer ou fazer den�ncias", afirmou.
Segundo Martins, o que mais causou esp�cie foram os casos de ass�dio sexual dentro de instala��es ol�mpicas, envolvendo atletas e funcion�rios.
"Ali era o �ltimo lugar onde poder�amos esperar esse tipo de coisa. Na verdade, isso denuncia o tipo de expectativa de alguns atletas com rela��o ao Brasil", disse.
Logo na primeira semana dos Jogos, os boxeadores Joas Junius, 22, da Nam�bia, e Hassan Saada, 22, do Marrocos, foram denunciados pelo crime de estupro ap�s assediarem camareiras da Vila dos Atletas. Os dois respondem em liberdade e n�o podem deixar o pa�s porque tiveram seus passaportes apreendidos.
Segundo o juiz Rubioli, na maior parte das ocorr�ncias envolvendo estrangeiros eles aceitavam a pena, mas tentavam deixar o pa�s sem cumpri-la. Por isso, a apreens�o de passaportes aconteceu algumas vezes, para al�m do caso dos nadadores americanos.
"N�s recolh�amos o passaporte e d�vamos uma c�pia autenticada do documento. Ningu�m ficava totalmente sem documenta��o", disse.
A maior opera��o envolvendo postos remotos do Judici�rio na hist�ria do pa�s atuou nos dois aeroportos e em cada uma das �reas ol�mpicas (Barra, Deodoro, Engenh�o, Maracan� e Copacabana).
Para os Jogos Paraol�mpicos, que t�m menos competi��es, dois postos ser�o mantidos na Barra e no Engenh�o.
INGRESSOS FALSOS
Bilhetes falsificados tamb�m foram um problema. Segundo Rafael Estrela, juiz que atuou no Maracan�, as ocorr�ncias s�o de dif�cil resolu��o devido a natureza virtual da maioria das negocia��es.
"A qualidade dos ingressos � realmente impressionante e ainda estamos investigando com a ajuda da pol�cia e fazendo varreduras na internet", afirmou.
Volunt�rios disseram � Folha que alguns dos bilhetes foram fabricados com papel diferente e n�o contavam com as marcas especiais no verso, vis�veis apenas com luz especial.
Uma das v�timas foi a estudante Mariana Castro, 17, que veio com a m�e de Ribeir�o Preto (SP) para assistir � final do futebol masculino entre Brasil e Alemanha.
Elas compraram dois bilhetes falsos por R$ 1.200 em um grupo de vendas do Facebook e receberam a encomenda no hotel Fasano, em Ipanema.
Ao tentarem entrar, foram barradas e policiais militares arrancaram o c�digo de barras das entradas, para inutiliz�-las. O vendedor, de nome Thales Bartoli, sumiu da rede social.
J� Aldenir Oliveira veio de Macap� e pagou R$ 2.000 em tr�s entradas e n�o conseguiu entrar. Ele comprou direto com um cambista, em Copacabana.