O futebol est� virando cultura do �dio, diz Aranha, finalista do Paulista
Destaque da Ponte Preta, finalista do Paulista, o goleiro Aranha, 36, procura manter o seu estilo discreto, que o caracterizou nas passagens por Palmeiras e Santos.
O camisa um do time de Campinas muda o tom de voz e o semblante em jogos e treinos para orientar os companheiros e quando fala sobre preconceito, principalmente, em est�dios de futebol.
V�tima de inj�ria racial em 2014, quando defendia o Santos em um duelo contra o Gr�mio, em Porto Alegre, pelas oitavas de final da Copa do Brasil, o goleiro afirmou que os atos racistas ainda est�o presentes nos est�dios do esporte mais popular do pa�s.
"[Os atos racistas] n�o acabaram e n�o v�o acabar de forma t�o simples assim. Depois que eu me posicionei, o pessoal viu que tem puni��o e que a imagem para o time fica ruim. Ent�o, eles simplesmente mudaram os termos. Se me chamam de alem�o, voc� acha que n�o querem me ofender? Voc� acha que querem dizer o que? Isso vai perdurar por muito tempo porque o futebol est� virando cultura de �dio", disse.
Em entrevista � Folha, o goleiro afirma que levar a Ponte Preta ao t�tulo do Paulista ser� o �pice da sua carreira. Ele foi vice-campe�o paulista pelo clube em 2008 -quando perdeu a final do Estadual para o Palmeiras.
"Eu quero muito que seja esse o momento. Se conquistarmos esse t�tulo para a Ponte, ser� o maior momento da minha vida", afirmou.
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Folha - A Ponte nunca ganhou um t�tulo de express�o. O que falta para o time ser campe�o?
Aranha - N�o sei explicar o que falta para conquistar esse t�tulo. Tivemos v�rias oportunidades ao longo dos anos, mas sempre deixamos escapar. Espero que a gente possa contar com a sorte, que no futebol � muito importante, al�m da nossa disposi��o e aplica��o. Eu quero muito que seja esse o momento, mas sabemos que vai ser muito dif�cil. Vamos ter que brigar contra v�rios fatores. Se formos campe�es, ser� o maior momento da minha vida.
Qual a diferen�a da atual Ponte Preta para a equipe que foi vice-campe� em 2008?
Em 2008 t�nhamos uma boa equipe, bons jogadores, mas que estavam surgindo, como o Elias, o Caj�, o Aranha. Naquela oportunidade, tudo era novo para a gente. Era muita responsabilidade, muita cancha para os jogadores que o clube tinha na �poca. Agora, temos atletas mais experientes, mais preparados para jogar decis�es.
O que representa a Ponte Preta na sua vida?
Eu sou muito grato com todas as oportunidades que tive na minha carreira, mas aqui foi o come�o para eu conquistar minhas coisinhas, como a minha casa, a casa da minha m�e. Eu tenho uma d�vida eterna com a Ponte. A minha fam�lia tem um carinho enorme pelo time. Eu tor�o realmente pelo clube. Sempre deixei bem claro por onde passei que sou torcedor da Ponte.
Como voc� v� o seu momento no futebol, aos 36 anos?
Comigo sempre falam que � o momento. Nunca falam que sou bom. Eu fui regular o campeonato inteiro e at� em alguns jogos fui acima da m�dia. S� porque agora os jogos est�o sendo transmitidos falam que estou atravessando um bom momento. Se voc� n�o vai bem, a� j� era sua carreira. Estou bem tranquilo e com os p�s no ch�o. Temos que ir bem de qualquer jeito.
Como analisa sua passagem pelo Palmeiras ? Ficou alguma m�goa? E com o Santos ?
No Palmeiras o que foi combinado comigo foi cumprido. No Santos, n�o foi apenas a quest�o do sal�rio atrasado. N�o tinha previs�o de futuro, sabia que n�o teria o contrato renovado. J� tinham me comunicado que gostariam de contar com outro goleiro. Ent�o, eu ia continuar l� fazendo o que? Eu fiz o que � correto e procurei a Justi�a. Se voc� n�o honra os compromissos, a vida fica dif�cil. Seu filho n�o vai no col�gio. S�o v�rias situa��es que voc� atravessa.
Ainda presencia atos racistas no futebol brasileiro?
[Atos racistas] n�o acabaram e n�o v�o acabar de uma forma t�o simples assim. Depois que me posicionei, o pessoal viu que tem puni��o e que a imagem para o time fica ruim. Ent�o, eles simplesmente mudaram os termos. Se me chamam de alem�o, voc� acha que n�o querem me ofender? A ofensa � muito clara, mas � uma palavra que podem usar tranquilamente. Isso vai perdurar por muito tempo porque o futebol est� virando cultura de �dio. O pai quando leva o filho para o campo e come�a a xingar acaba incentivando, ensinando a crian�a. � assim que a crian�a aprende a menosprezar, a humilhar, a fazer gestos obscenos e at� a ser violenta. Temos que educar os mais velhos para essa situa��o melhorar.
Pedro H. Tesch/Brazil Photo Press/Folhapress | ||
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O goleiro Aranha aponta para torcedores ap�s sofrer ofensa racista em jogo contra o Gr�mio |
RAIO-X
Nome completo
M�rio L�cio Duarte Costa
Nascimento
17.nov.1980 (36 anos), em Pouso Alegre (MG)
Clubes
Ponte Preta, Atl�tico-MG, Santos, Palmeiras e Joinville
Principais t�tulos
Campeonato Mineiro (2010); Campeonato Paulista (2011 e 2012); Copa Libertadores (2011); Recopa Sul-Americana (2012) e Copa do Brasil (2015)
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