Sutil, pol�cia su��a permitiu que cartolas da Fifa fizessem as malas
O lobby do Baur au Lac, um hotel cinco estrelas instalado h� 171 anos no centro de Zurique, estava sereno nas primeiras horas da manh� de quarta-feira.
Pilhas de jornais foram jogadas defronte � porta. Uma faxineira de uniforme preto limpava o ch�o de m�rmore. O concierge respondia � pergunta de um h�spede sobre se uma farm�cia local entregava rem�dios.
Ent�o, quando os rel�gios su��os bateram seis da manh�, mais de uma d�zia de agentes da lei � paisana entrou sem alarde pela porta girat�ria do hotel. Foram direto � recep��o, onde apresentaram documentos do governo e solicitaram os n�meros dos quartos de algumas das mais altas autoridades do futebol, hospedadas no hotel antes da reuni�o anual da Fifa, entidade que governa o esporte globalmente.
De repente, o venerando Baur au Lac, um ponto de passagem de m�sicos, artistas e da realeza, e, segundo o hotel, local de cria��o do Pr�mio Nobel da Paz, foi transformado em algo semelhante a uma cena de crime. O concierge foi instru�do a ligar para o quarto de um executivo, dando in�cio a uma das mais significativas derrocadas na hist�ria do esporte internacional.
"Senhor", disse o recepcionista, em ingl�s, "Estou apenas ligando para dizer que precisaremos que voc� v� at� sua porta e a abra para n�s, ou teremos de arromb�-la."
O hotel, defronte ao Lago Zurique, foi um cen�rio inusitado para a pris�o de seis executivos globais do futebol que foram presos sob a acusa��o de corrup��o e agora enfrentam a possibilidade de serem extraditados para os Estados Unidos. A opera��o levou menos de duas horas e foi curiosamente pac�fica - nada de algemas, ningu�m sacou armas. Tamb�m envolveu um uso incomum de um len�ol.
Opera��es semelhantes nos Estados Unidos s�o tipicamente executadas por membros armados da SWAT com coletes e capacetes � prova de balas, mas os su��os tiveram uma abordagem mais sutil. Ao inv�s de entrar nos quartos dos executivos e arrast�-los ainda de pijamas, os policiais esperaram que eles se vestissem e fizessem suas malas.
Os policiais pareciam levar os dirigentes um por um, usando diversas sa�das, incluindo uma porta lateral, a garagem do hotel e, em um caso, a entrada principal.
Eduardo Li, presidente da federa��o de futebol da Costa Rica, estava hospedado no quarto andar, com o quarto pr�ximo � escada em espiral ao centro do hotel. Dois policiais bateram � sua porta. Quando Li apareceu, os policiais n�o tentaram imobiliz�-lo, e ainda permitiram que ele levasse uma sacola com seus pertences pessoais enquanto o acompanhavam at� o elevador. A sacola escolhida trazia logotipos da Fifa.
Editoria de arte/Folhapress | ||
O executivo, que deveria entrar oficialmente neste final de semana para o poderoso comit� diretor da Fifa, saiu pacificamente, e a sequ�ncia inteira foi t�o discreta que um h�spede no quarto ao lado poderia facilmente n�o ter acordado.
Depois de acompanhar o sr. Li at� as entranhas do hotel, os policiais o levaram por uma porta lateral que se abria para uma rua estreita. Membros da equipe do hotel vestindo casacas com cauda estavam l� para encontr�-lo, estendendo len��is brancos no esfor�o de obscurecer a vista de pedestres curiosos ou membros da imprensa. Ele foi levado a um carro comum que o esperava - n�o um carro ostensivo de pol�cia - que passou um sinal vermelho ao deixar o local.
Logo depois, outro dirigente foi silenciosamente guiado para fora do lobby. Ele e seus acompanhantes passaram por uma grande pintura a �leo e duas tape�arias penduradas na parede, enquanto equipes de limpeza do hotel poliam candelabros e passavam aspirador de p� no assoalho. O executivo arrastava sua bagagem atr�s de si enquanto os policiais levavam duas sacolas pl�sticas que pareciam conter provas.
Enquanto as pris�es ocorriam sem transtorno, o caos se instaurava na recep��o do Baur ao Lac. Minutos depois de a not�cia da opera��o se espalhar, o telefone come�ou a tocar incessantemente. Ao mesmo tempo, os policiais come�aram a voltar � recep��o para pedir acesso a outras partes do hotel.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
"Senhor, n�o temos informa��es; por favor, ligue depois", disse o concierge a algu�m, antes de bater o telefone.
Em certo ponto, um dirigente do futebol - que n�o estava sendo preso - correu at� o lobby usando cal�a, uma camisa Oxford e os chinelos de pel�cia branca fornecidos aos h�spedes. Ele conversou rapidamente com um funcion�rio da recep��o antes de voltar correndo para seu quarto.
Ap�s todas as pris�es, um homem corpulento de terno chegou � recep��o. Perguntou se algu�m sabia o paradeiro de um dos executivos da Fifa.
"A mulher dele n�o sabe o que fazer ou onde ele est�", disse o homem.
�s 9 da manh�, o hotel, que havia sido palco de um casamento na noite anterior, estava coberto de seguran�as particulares. Do lado de fora, rep�rteres se reuniam e preparavam suas c�meras para transmitir ao vivo na televis�o. Do lado de dentro, as mulheres e namoradas dos homens que haviam sido presos sentaram juntas num sof� ornamentado fora do foyer principal. Elas se amontoaram ao redor de um computador e assistiram uma transmiss�o pela internet em que Walter de Gregorio, o porta-voz da Fifa, dava uma entrevista coletiva na sede da federa��o, poucos quil�metros adiante na mesma rua.
Quando De Gregorio disse que, em sua opini�o, este era na verdade "um bom dia" para a Fifa - porque livrar a organiza��o da corrup��o � uma prioridade -, as mulheres se aproximaram umas das outras. Uma delas come�ou a chorar.
Tradu��o de MARCELO SOARES
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