Cl�nicas usam realidade virtual contra medo de inje��o
Bruno Santos/Folhapress | ||
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Enzo Fraga, 9, toma vacina enquanto "participa" de anima��o com �culos de realidade virtual |
Enzo Fraga, 9, chega ao laborat�rio e veste um �culos com celular acoplado. Com a ajuda dele, mergulha em uma hist�ria sobre v�rus e bact�rias que querem atacar um reino. Para ajudar a defender o lugar, a crian�a recebe dois poderes: o gelo e o fogo.
O poder gelado, no mundo real, � um algod�o com �lcool. O poder do fogo, que a protege dos vil�es com superpoderes. � a picada da vacina.
"Foi legal. N�o doeu", diz ele, enquanto gira um spinner entre os dedos, logo ap�s ser vacinado na VacinVille, um dos laborat�rios de S�o Paulo que t�m usado �culos de realidade virtual para facilitar a aplica��o de vacinas e inje��es em crian�as.
Sua m�e, Marjorie Fraga, 43, diz que o medo � familiar. "Sempre sou eu que trago o Enzo. Meu marido n�o gosta de agulha, ent�o deixa isso para mim", conta ela.
Inicialmente em d�vida sobre a utilidade da realidade virtual, ela considera que o processo de vacina��o se tornou menos estressante.
"O choro nem sempre � por causa da dor. � pelo medo da vacina, da agulha e do ambiente. �s vezes ela teve uma experi�ncia ruim e s� de ouvir que vai tomar vacina come�a a chorar", diz Mayra Ardito, 30, enfermeira do laborat�rio.
Segundo ela, as crian�as choram com ou sem realidade virtual –afinal, n�o deixam de sentir a picada da agulha–, mas os �culos facilitam o trabalho e viram um atrativo para as crian�as a partir dos quatro anos.
"A crian�a n�o consegue entender que, mesmo existindo a dor da picada, existe um benef�cio", diz Melissa Palmieri, coordenadora do setor de vacinas do laborat�rio Hermes Pardini, que tamb�m usa hist�rias com realidade virtual para distrair as crian�as.
J� o Delboni Auriemo n�o faz uma correla��o entre a hist�ria da anima��o –um filme do Scooby Doo– e a aplica��o da vacina, mas diz que o efeito de distra��o do dispositivo � o mesmo e as crian�as s�o informadas do que ir� acontecer para n�o se assustarem.
"H� uma preocupa��o de tornar o processo menos doloroso e traum�tico e menos associado a um hospital", diz Ana Karolina Marinho, coordenadora do departamento cient�fico de imuniza��o da Asbai (Associa��o Brasileira de Alergia e Imunologia).
A Organiza��o Mundial da Sa�de, inclusive, afirma que n�o levar em conta a quest�o da dor durante a vacina��o pode ser um dos fatores que impacta negativamente as atitudes relacionadas � sa�de e pode levar ao atraso ou a evitar vacina��es futuras.
Segundo Marinho, al�m das pr�prias crian�as, � importante tranquilizar tamb�m os pais para que eles passem seguran�a para os filhos, j� que � imposs�vel tornar o processo totalmente indolor.
"A realidade virtual ser� o futuro, mas a ideia � a mesma de quando fazemos um teatrinho para distrair as crian�as ou quando enfermeiros usam roupas coloridas", afirma ela.
O custo da tecnologia, por�m, � uma das barreiras para a amplia��o do uso da realidade virtual, segundo Miriam Moura, membro da comiss�o de �tica da Sociedade Brasileira de Imuniza��es.
Na cl�nica VacinVille, por exemplo, foram gastos cerca de R$ 150 mil com desenvolvimento da anima��o e aquisi��o de seis �culos e seis celulares para tr�s estabelecimentos do laborat�rio.
Miriam alerta tamb�m para a necessidade de uma discuss�o franca com as crian�as sobre vacinas e a utilidade delas. "Eu n�o vou usar essa hist�ria em algu�m com 18 anos", diz. "O que eu acho complicado � que na realidade n�o se fala em vacina em momento algum na anima��o. Parece que est� enganando a crian�a."
Ana Karolina destaca que a honestidade quanto ao que vai acontecer � essencial. "N�o diga que n�o vai doer, porque isso seria uma trai��o. � melhor falar que vai doer um pouquinho, passa r�pido e que voc� estar� por perto."
A especialista das Asbai diz ainda que � importante, no dia anterior � inje��o –n�o muito antes, para n�o causar ansiedade–, falar para a crian�a que ela ser� vacinada e explicar como o processo funciona. Al�m disso, o carinho e acolhimento s�o indispens�veis.
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PICADA OU GOTINHA?
Entenda como funcionam as vacinas
VAI DOER?
Vacinas podem ser injet�veis ou orais; busca-se fazer uma aplica��o similar � maneira como as doen�as s�o contra�das
ORAIS
Normalmente feitas com agentes vivos –v�rus ou bact�rias atenuados que n�o causam doen�a e que provocam resposta imune duradoura
Exemplos: Poliomielite oral e rotav�rus humano
INJET�VEIS
A maior parte � feita com agentes inativos ou com fragmentos deles; rea��es adversas s�o menos frequentes
Exemplos: Meningite, influenza, HPV
EFEITOS COLATERAIS
Quando h�, quase sempre s�o tempor�rios e leves. Pessoas com imunidade baixa normalmente n�o devem tomar vacinas com agentes vivos
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DICAS CONTRA DOR
M�todos para reduzir inc�modo das vacinas
AMAMENTA��O
A pr�tica durante e ap�s a aplica��o pode ajudar crian�as de at� 2 anos. Conforto f�sico, distra��o e a ingest�o de algo doce ajudam a relaxar
A��CAR
Bebidas a�ucaradas para crian�as de at� dois anos distraem e servem de analg�sico
POSI��O
Deitar de barriga para cima aumenta a dor da vacina. Colocar no colo crian�as pequenas passa sensa��o de seguran�a
INFORMA��O
Pais e crian�as devem saber como ser� o processo, mas devem evitar palavras que possam aumentar a ansiedade
M�SICA
At� os 6 anos, a presen�a de um familiar e de uma distra��o, como m�sica, podem diminuir a dor
AI!
O enfermeiro n�o precisa puxar o �mbolo para ver se acertou algum vaso com a agulha –isso aumenta a dor e n�o � necess�rio, j� que n�o h� grandes vasos nos locais de aplica��o
Fontes: Canadian Clinical Practice Guidelines, Organiza��o Mundial da Sa�de, Ana Karolina Marinho (Associa��o Brasileira de Alergia e Imunologia) e Miriam Moura (Sociedade Brasileira de Imuniza��es)
Livraria da Folha
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