Aplicativo ajuda a diagnosticar depress�o em idosos de SP
Danilo Verpa - 21.fev.2017/Folhapress | ||
Jerson Nascimento, 73, teve depress�o ap�s se aposentar na constru��o civil; ele foi incentivado a fazer trabalhos de reparo e constru��o em casa |
Na popula��o idosa, frequentemente os casos de depress�o s�o ignorados. Um estudo piloto realizado na periferia de S�o Paulo tentou mudar esse panorama por meio de um aplicativo, encontrando casos n�o diagnosticados e tratando quem tem a doen�a.
Os autores do projeto, chamado Proactive, desenvolveram um aplicativo que guia profissionais de sa�de n�o especialistas –os agentes comunit�rios de sa�de, do programa Sa�de da Fam�lia –no atendimento �s pessoas com mais de 60 anos.
Ap�s serem treinados para lidar com o tema e com o software, os profissionais sa�am �s ruas munidos de um tablet e visitavam idosos, que poderiam ou n�o estar com depress�o.
"No in�cio, os idosos recebiam tr�s atendimentos nos quais os agentes explicavam a eles o que � depress�o", diz Marcia Scazufca, uma das autoras do estudo e pesquisadora do IPq (Instituto de Psiquiatria) do Hospital das Cl�nicas da USP. "Muitas vezes as pessoas n�o sabem que est�o deprimidas, elas acham que a vida � daquele jeito mesmo."
Parte das explica��es dadas nas visitas dos agentes ocorria por v�deos do aplicativo. O m�todo foi usado para conseguir prender a aten��o dos idosos e facilitar a compreens�o, j� que v�rios n�o eram escolarizados. A ferramenta audiovisual tamb�m permite maior padroniza��o.
Para realiza��o do diagn�stico, o idoso, com ajuda do agente de sa�de, respondia a perguntas relativamente simples no aplicativo, como "Com que frequ�ncia voc� se sente incomodado por ter pouco interesse ou prazer em fazer as coisas?"
As perguntas foram retiradas do PHQ-9, um reconhecido protocolo que auxilia no diagn�stico de depress�o. "A depress�o n�o � s� essa coisa de chorar que vemos nos filmes. Envolve estar mais irritado, mais quieto, n�o dormir bem ou dormir demais, comer pouco ou comer demais", afirma Scazufca.
Depois das visitas do agente de sa�de come�ava a chamada "fase de ativa��o de comportamento". Nesse momento, os agentes buscavam saber sobre as atividades preferidas dos idosos. Caso fosse poss�vel, os pacientes eram incentivados a se organizar, planejar e realizar a a��o favorita com mais frequ�ncia.
Participaram do estudo 33 idosos com depress�o. Segundo Scazufca, os resultados foram animadores: mais de 80% dos que participaram do grupo de interven��o apresentaram melhora.
A pesquisa foi financiada pela Fapesp (Funda��o de Amparo � Pesquisa de S�o Paulo), pelo Medical Research Council e pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Cient�fico e Tecnol�gico), e apoiada pela Prefeitura de S�o Paulo e pela Associa��o Sa�de da Fam�lia.
Danilo Verpa/Folhapress | ||
Loide Batista, 62, que teve que parar de trabalhar por causa de problemas de sa�de |
TRATAMENTO
A psiquiatra Rita Ferreira, do programa terceira idade do IPq, que n�o participou da pesquisa, diz que o tempo que se leva para o diagn�stico impacta no tratamento. "Como em todas as doen�as, se voc� identificar rapidamente, no in�cio, h� a possibilidade de um melhor resultado."
Segundo dados divulgados no final de fevereiro pela OMS (Organiza��o Mundial da Sa�de), h� cerca de 300 milh�es de pessoas vivendo com depress�o no mundo, o que equivale a 4,4% da popula��o mundial. S� no Brasil, s�o mais de 11 milh�es de casos –quase 6% da popula��o.
At� o in�cio do estudo, somente cerca de 30% dos idosos participantes haviam sido diagnosticados com depress�o. Rita diz que o preconceito � uma das principais raz�es pelas quais o diagn�stico da depress�o � t�o dif�cil. "Muitas vezes os doentes t�m queixas que n�o s�o valorizadas pela fam�lia. As pessoas t�m a ideia de que idoso � cheio de mania", diz.
Para a psiquiatra, rem�dios n�o s�o a �nica forma de controlar a depress�o, mas apenas parte do tratamento. "Estimular o idoso para que ele fa�a alguma atividade f�sica e procure os amigos tamb�m � m�todo terap�utico."
Scazufca lembra que, apesar do bom resultado, � necess�rio ter uma amostra maior e mais diversa para validar o estudo piloto.
A pesquisa seguinte envolver� 1.440 idosos com depress�o de cerca de 20 UBS (Unidades B�sicas de Sa�de) e tamb�m vai analisar os gastos do tratamento. "N�o esperamos que o programa seja s� efetivo, mas que tenha um custo razo�vel para o sistema de sa�de", afirma ela.
APOSENTADORIA
Jerson de Jesus Nascimento, 73, n�o sabia direito o que estava acontecendo, mas se sentia em um "estado de nervos constante". "�s vezes os meus netos se aproximavam de mim e eu j� ficava nervoso", diz ele, que participou do projeto-piloto.
Nascimento diz que a depress�o –doen�a que, at� experimentar na pr�pria pele, n�o acreditava que existia– come�ou ap�s a aposentadoria na constru��o civil. Segundo ele, n�o havia alegria, n�o existia prazer. "� uma das piores doen�as que existem", diz ele.
O aposentado foi incentivado pelos agentes de sa�de a sair e conversar com amigos, al�m de fazer pequenos trabalhos manuais de reparo e constru��o na pr�pria casa. "Quando o sentimento come�a a me apertar muito, eu saio e vou bater um papo com os amigos", afirma Nascimento. "Voc� come�a a conversar e alivia."
A doen�a tamb�m atingiu Loide Batista, 62, depois que ela foi obrigada a parar de trabalhar em seu carrinho de lanches por problemas de sa�de. A situa��o foi agravada por causa de desentendimentos com a filha.
A recupera��o de Batista foi auxiliada por uma coisa simples: plantas. Hoje, al�m do curso de constru��o que faz, a aposentada fala com orgulho de um abacateiro que ela plantou e que agora cresce em seu quintal.
"O abacateiro que me ajudou muito", diz. "Tirei o foco do problema pelo qual eu passava e foquei em algo que eu gostasse."
Livraria da Folha
- Cole��o "Cinema Policial" re�ne quatro filmes de grandes diretores
- Soci�logo discute transforma��es do s�culo 21 em "A Era do Imprevisto"
- Livro de escritora russa compila contos de fada assustadores; leia trecho
- Box de DVD re�ne dupla de cl�ssicos de Andrei Tark�vski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade