Outras cirurgias n�o sofrem todo esse preconceito, diz m�dico de Rom�rio
Cristina Cabral/"O Popular"/Folhapress | ||
�ureo de Paula defende t�cnica de bari�trica que Conselho Federal de Medicina considera experimental |
O m�dico �ureo Ludovico de Paula est� no meio de um dos conflitos m�dico-jur�dicos mais intensos dos �ltimos tempos. Ele � um dos principais praticantes e defensores da t�cnica de cirurgia bari�trica conhecida como "gastrectomia vertical com interposi��o ileal (GVII)". Foi ele o respons�vel pelas opera��es do senador Rom�rio (PSB-RJ) e do apresentador Faust�o.
Nos �ltimos dias, Rom�rio apareceu em fotos nas redes sociais visivelmente mais magro. Ele declarou ter feito a cirurgia para controlar o diabetes –sua glicemia estava entre 300 e 400 mg/dl, quando o recomendado � ter um n�vel inferior a 100. O ex-jogador diz estar agora em 80 mg/dl.
Reprodu��o/Instagram/romariofaria |
Rom�rio apareceu mais magro nas redes sociais |
Em entrevista � Folha, o m�dico fala dos atritos com o Conselho Federal de Medicina, entidade para a qual a modalidade de bari�trica que realiza ainda � experimental, s� podendo ser realizada ap�s aprova��o por um comit� de �tica.
Na pr�tica, no entanto, a cirurgia est� liberada por uma decis�o da Justi�a que contraria o parecer do CFM. A decis�o se deu a partir da opini�o de uma junta de especialistas escolhida para avaliar o caso.
Para outros especialistas, como o m�dico Ricardo Cohen, coordenador do Centro de Obesidade e Diabetes do Hospital Alem�o Oswaldo Cruz, a pr�tica ainda � arriscada. "Precisamos de op��es de cirurgia para tratar o diabetes, mas para essa ainda faltam estudos de m�dio e longo prazo".
A mudan�a de status ainda pode levar alguns anos, especula Cohen. Para de Paula, no entanto, j� passou da hora de ela ser totalmente reconhecida no pa�s. "Desde 1985 ela � usada para o tratamento de diabetes e obesidade", afirma.
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Folha - H� quanto tempo o sr. realiza essa cirurgia? Qual � a vantagem dessa t�cnica?
�ureo de Paula - H� mais de dez anos. Na �poca, a cirurgia bari�trica era considerada de alto risco para tratamento da obesidade. Havia limites para tratar doen�as como o diabetes. Ap�s anos de estudos, ficou evidente seria poss�vel tratar a doen�a com essa cirurgia.
De onde veio o interesse dos famosos pelo seu nome?
Todos os pacientes nos procuram pelos resultados, pela efetividade e seguran�a. Em geral, at� 85 a 90% dos pacientes s�o curados ou entram em remiss�o do diabetes e outras doen�as, como o colesterol elevado, hipertens�o arterial, obesidade.
Houve testes cl�nicos e em animais o suficiente?
A GVII j� � feita em humanos desde 1928, com publica��o na revista "Annals of Surgery", e foi utilizada ao longo dos anos para m�ltiplas indica��es cl�nicas gastroenterol�gicas e at� urol�gicas. Houve in�meros trabalhos em animais. Para tratamento da obesidade e doen�as associadas, ela � feita desde 1985.
Por que o CFM deu parecer contr�rio � realiza��o dessa cirurgia fora de um contexto de pesquisa?
A C�mara T�cnica de Cirurgia Bari�trica e Metab�lica, composta por ilustres m�dicos e professores, aprovou a cirurgia GVII em 2010 como "n�o experimental" ap�s reuni�es e semin�rios. O �ltimo teve a presen�a de mais de 40 especialistas de todo o Brasil. Est� nas atas do CFM e no processo do Judici�rio.
A c�pula diretiva, n�o especialista, n�o referendou a decis�o t�cnica, em exemplo �nico na hist�ria desse tribunal �tico. A cirurgia est� documentada em dezenas de publica��es em revistas nacionais e internacionais com o meu nome e diversos outros autores, al�m de teses de doutoramento no Brasil e em outros pa�ses. Ela � realizada em pa�ses como Portugal, It�lia, �ndia, Estados Unidos, Fran�a.
A que o senhor atribui essa discord�ncia entre a Justi�a e o CFM?
A discord�ncia faz parte do esclarecimento das ideias e do aperfei�oamento cient�fico. A unanimidade � uma utopia. A Justi�a Federal tamb�m considerou a cirurgia como n�o experimental, e essa decis�o est� em vig�ncia, com efeito que atinge a todos no Brasil e que retroage no tempo. Portanto, a cirurgia nunca foi experimental.
A c�pula diretiva, integrada por m�dicos sem nenhuma viv�ncia na �rea, � que discordou por motivos que somente eles podem responder.
Pacientes j� morreram por causa dessa cirurgia?
Sim. Em pacientes com IMC [�ndice de Massa Corporal] abaixo de 35, o �ndice de mortalidade � de 0,4%. Ela � t�o segura quanto cirurgias de obesidade padr�o, em pacientes de alto risco.
Os outros tipos de cirurgias n�o teriam efeitos semelhantes no organismo?
Em um famoso estudo da Universidade de Cleveland, foi constatado que em 22% dos casos do bypass g�strico e em 15% dos casos da gastrectomia vertical h� remiss�o do diabetes. Em tratamentos cl�nicos [n�o cir�rgicos], a remiss�o � de 0%. Um estudo do Hospital S�rio-Liban�s comparou o bypass com o GVII e houve remiss�o de 29% e 75%, conforme noticiou a Folha.
Quem � o paciente ideal para esse tipo de cirurgia bari�trica?
O paciente com diabetes tipo 2, independente do peso. � indispens�vel uma avalia��o minuciosa com exames pr�-operat�rios e subsequente sele��o –alguns pacientes podem ser exclu�dos.
O senhor n�o corre risco de ser denunciado caso o entendimento da Justi�a se altere?
Os diab�ticos certamente t�m receio que a cirurgia permane�a proibida pelo CFM. J� eu tenho infinita esperan�a na Justi�a.
N�o se ousa pensar fora dos padr�es, agir de forma contr�ria ao estabelecido pelo status quo, sem correr riscos. Espero que a Justi�a continue endossando a cirurgia, que tem potencial para beneficiar milh�es.
As outras variantes de bari�trica tamb�m passaram por esse tipo de questionamento?
Existe expl�cito preconceito negativo por parte da c�pula diretiva do CFM. N�o houve justificativa, outro laudo, outro documento contraposto para a n�o homologa��o e a n�o inclus�o da GVII em uma resolu��o para tratamento da obesidade e diabetes tipo 2.
Outras cirurgias n�o passaram por nenhum dos passos que o CFM quer estabelecer para a GVII. O conselho n�o acata nem segue as pr�prias normas, pareceres e resolu��es.
A compet�ncia t�cnica sobre os diferentes t�picos de medicina n�o � do plen�rio do CFM, mas das c�maras t�cnicas das especialidades, compostas por profissionais especialistas –o que � l�gico.
Entretanto, segundo a pr�pria C�mara T�cnica (CT) de Cirurgia Bari�trica e Metab�lica, todas as cirurgias "legais" foram homologadas pela plen�ria sem avalia��o por comit� de �tica em pesquisa, nem pela Comiss�o Nacional de �tica e Pesquisa e sem aprecia��o da pr�pria CT de Cirurgia Bari�trica e Metab�lica do CFM, ainda n�o criada � �poca.
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RAIO-X
Nome
�ureo Ludovico de Paula
Idade
54 anos
Forma��o
M�dico pela Universidade Federal de Goi�s (UFG); doutor em cirurgia pela Faculdade de Medicina da USP
Atua��o
Membro de equipe de cirurgia do aparelho digestivo do Hospital de Especialidades de Goi�nia, Hospital das Am�ricas, no Rio e S�rio-Liban�s, em S�o Paulo
CURA VIA BISTURI? - Conhe�a dois tipos de cirurgia usadas como tratamento para diabetes
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