Mulher de choro f�cil, a m�dica oftalmologista Jussara Mendes Lopes Matsuda, 53, emociona-se com quase tudo: quando lembra de alguns dos pacientes do IME (Instituto de Medicina Especializada) - Cl�nica Cidad�, ao falar dos primeiros anos de formada e quando conta seus planos.
Um dos poucos momentos em que as l�grimas n�o lhe v�m aos olhos � quando fala sobre a desclassifica��o de sua cl�nica multidisciplinar, que oferece consulta m�dica a R$ 30, em programa que reconhece pr�ticas de responsabilidade social.
A entidade, de Uberl�ndia (MG), dizia n�o entender "que se possa ter pr�tica de responsabilidade social prestando servi�os m�dicos a pre�os justos e acess�veis � comunidade. Mesmo cobrando abaixo do mercado, a empresa ganha financeiramente". Jussara, tamb�m mineira, pensa diferente. "N�o posso depender de recursos externos, que podem vir ou n�o."
Olhos abertos
Ela abriu os olhos para o problema do atendimento a pessoas de baixa renda em 1996. Morando em Bras�lia, dedicava quintas-feiras e s�bados � comunidade de Parano�. "Tinha mais a fazer [pela popula��o]", diz, com voz embargada.
Contrastava com os outros dias da semana, quando atendia pol�ticos em um consult�rio "herdado" ap�s um acidente que matou o dono da empresa.
Mas o cora��o a levou de volta a Minas Gerais. Depois de se divorciar, conheceu um novo amor e mudou-se para Uberl�ndia, sua cidade natal. Ela casou com Massami Matsuda, ortopedista, colega de faculdade, e foi trabalhar em hospitais. "Vi que poderia fazer algo e devolver um pouco do que recebi."
Em 2001, criou uma cl�nica. N�o havia, no entanto, orienta��o espec�fica para o atendimento � popula��o carente.
Dois anos depois, em um curso de p�s-gradua��o, a id�ia de uma "cl�nica cidad�" germinou. "Percebi que precisava fazer algo. Fui estudar para entender esse lado empreendedor t�o contido dentro de mim", diz.
O in�cio, diz ela, foi "dif�cil". "Voc� tem de quebrar barreiras, preconceitos, paradigmas. Tem de insistir na causa", analisa Matsuda, que, no come�o, contou com o apoio do marido e de um colega angiologista.
Outros profissionais n�o tardaram a chegar -especialmente estimulados pela proposta de trabalho da cl�nica. Empres�rios da sa�de tamb�m atenderam � convoca��o da m�dica.
Hoje, os pacientes t�m direito a um cart�o que d� descontos generosos em cirurgias, em exames e em medicamentos. "Esse � s� o come�o."