O psiquiatra paulistano Auro Danny Lescher, 44, percebeu cedo que tinha a sensibilidade � flor da pele. "Tive uma inf�ncia muito bela, sem priva��es, mas psiquicamente dolorosa", diz.
Come�ou a fazer psicoterapia com 11 anos e s� parou aos 31. "A psiquiatria foi o caminho mais instigante que encontrei para me aprofundar na subjetividade humana e ajudar as pessoas a aliviar suas dores ps�quicas e conquistar autonomia."
A tend�ncia reflexiva, aliada a um grande gosto pela arte, acabou forjando o car�ter de um psiquiatra que, hoje, v� na manifesta��o art�stica uma poderosa aliada terap�utica.
A primeira centelha do que viria a se transformar no Projeto Quixote apareceu quando Lescher fazia resid�ncia no Hospital S�o Paulo (SP). Observando pacientes da ala feminina da psiquiatria, ele percebeu que havia entre elas uma din�mica semelhante � da hist�ria de um mito grego. Decidiu montar uma pe�a teatral. "Isso aproximou familiares, pacientes e funcion�rios e acelerou o processo terap�utico", conta.
Mais tarde, ele criou o Grupo Biruta de Artes C�nicas, na comunidade do entorno de um hosp�cio desativado, o que refor�ou em sua mente a import�ncia da arte na vida.
Outro elemento entrou em cena quando ele participou da Comunidade Terap�utica Enfance (criada pelo psiquiatra Oswaldo Di Loretto, hoje supervisor do Projeto Quixote), que oferecia pr�ticas terap�uticas a crian�as e adolescentes pobres com dist�rbios mentais.
Busca do belo
Em sua investiga��o acerca da "subjetividade humana", o psiquiatra acabou topando com crian�as e jovens que vivem nas ruas e sofrem com depend�ncia qu�mica, viol�ncia e falta de v�nculos e refer�ncias. Assim nasceu o Projeto Quixote.
Inspirados pela id�ia de Paulo Freire, de que a educa��o deve oferecer "boniteza e dec�ncia", Lescher e alguns amigos criaram um espa�o para v�rias oficinas, entre elas, as de artes pl�sticas, trabalhos em madeira e grafite. "A arte aumenta a propens�o � busca do belo", diz.
Os participantes -crian�as e jovens em situa��o de risco - e seus familiares recebem atendimento psicossocial e cl�nico.
O sucesso foi tanto que surgiram a Ag�ncia Quixote Spray Arte (de grafite), a Oficina de M�es e v�rias outras atividades. A ag�ncia de grafite � profissionalizante: os participantes recebem bolsa de R$ 100. Seus produtos, principalmente objetos de decora��o e roupas, s�o vendidos. Auro diz ainda ter um sonho: de que, um dia, seu projeto n�o seja necess�rio.