Brasil patina no combate � homofobia e vira l�der em assassinatos de LGBTs
Keiny Andrade/Folhapress | ||
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Rubi de La Fuentes, 32, faxineira e banqueteira que tem cicatrizes de agress�es sofridas |
O pa�s que exportou duas das transexuais mais requisitadas do mundo da moda, Valentina Sampaio e Lea T., tamb�m � um dos que mais mata transg�neros no mundo.
S� no primeiro quadrimestre deste ano, o n�mero de assassinatos no grupo mais vulner�vel da comunidade LGBT subiu 18% em rela��o ao mesmo per�odo de 2016, at� agora o ano mais violento da d�cada para essas pessoas. A informa��o � dos grupos brasileiros Rede Trans Brasil e GGB (Grupo Gay da Bahia).
De acordo com o �ltimo relat�rio da ILGA (Associa��o Internacional de L�sbicas, Gays, Bissexuais, Transg�neros e Intersexuais), o Brasil ocupa o primeiro lugar em homic�dios de LGBTs nas Am�ricas, com 340 mortes por motiva��o homof�bica em 2016 - a GGB conta 343. Os grupos brasileiros estimam que 144 desses homic�dios sejam de travestis e transexuais.
RASTRO DO PRECONCEITO - Assassinatos de transg�neros no 1� quadrimestre
Apesar de question�vel devido � falta de monitoramento em pa�ses onde a homossexualidade � criminalizada, como Guiana e Barbados, e pela escassez de pesquisas oficiais por parte dos pa�ses, o dado � destaque desse relat�rio, que embasa as discuss�es da ONU sobre o tema e � lan�ado todos os anos para o Dia Mundial Contra a Homofobia, festejado nesta quarta-feira (17).
Embora haja conquistas recentes, como a autoriza��o para servidores p�blicos usarem o nome social –aquele assumido publicamente e n�o o da certid�o de nascimento– o pa�s engatinha na promo��o do respeito ao segmento no ambiente familiar, nas escolas e no trabalho.
"� nesses lugares onde nasce o preconceito que joga as travestis e transexuais na prostitui��o [estima-se que 90% se prostituem], estimulando o �dio desmedido de parte da sociedade", afirma Bruna Valim, 42, mulher transexual e articuladora da Rede Trans Brasil para SP.
Os registros da Rede e do GGB, colhidos a partir de not�cias publicadas na imprensa e em redes sociais, revelam que os assassinatos de transg�neros n�o envolvem um, mas sim v�rios tiros de arma de fogo, m�ltiplas facadas e espancamento com pedras e pauladas –como no caso de Dandara dos Santos, 42, que teve sua morte por apedrejamento e tiros filmada por agressores em Fortaleza (CE).
Assassinatos de transg�neros - Por m�s
Exterm�nio que Rubi de La Fuentes, 32, escapou de agress�es desse tipo quando, em 2015, uma amiga travesti foi morta a pauladas no parque do Carmo, na zona leste de S�o Paulo.
"Lembro muito bem quando a vi jogada no ch�o, com o c�rebro para fora. Isso � muito comum na rua. Tenho cicatrizes por todo o corpo das facadas e das pauladas que levei. O medo de morrer me tirou da prostitui��o", conta.
H� cinco anos Rubi ganha a vida como faxineira e banqueteira. H� dois conheceu o namorado, com quem vive atualmente. No pr�ximo m�s, far� o que poucas iguais conseguem: completar o ensino m�dio. "Precisava provar para mim mesma que eu conseguiria estudar."
AUTOFLAGELO
Segundo o secret�rio de Educa��o da Associa��o Brasileira de L�sbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais, Toni Reis, por causa da discrimina��o nas escolas s�o raros os trans que conseguem concluir os estudos.
"Eles s�o expulsos n�o oficialmente. A transfobia � t�o grande que a discrimina��o sofrida por eles � duas vezes maior do que com homens gays, que �s vezes passam batido por n�o aparentarem ser homossexuais", explica.
A primeira Pesquisa Nacional Sobre Estudantes LGBT e o Ambiente Escolar, realizada em 2015 e conduzida por ele, aponta que 7,7% dos estudantes declarados LGBT s�o travestis ou transexuais. "Os depoimentos da maioria desses jovens [com idade m�dia de 16 anos] revelaram, por exemplo, propens�o ao suic�dio."
O autoflagelo tamb�m ocorre em pris�es. O m�dico S�rgio Ferreira estudou por dois anos a preval�ncia de tuberculose em LGBTs presos no Complexo Prisional Campinas-Hortol�ndia (SP) e constatou que v�rias evitam buscar apoio m�dico para doen�as por medo de preconceito.
"Muitas que eram portadoras de HIV deixavam de se tratar porque se sentem hostilizadas at� no posto m�dico. Elas cortam os cabelos e s�o tratadas como homens no pres�dio, sendo destitu�das da feminilidade", diz o m�dico.
Em 2016, segundo a Rede Trans Brasil, 64 transexuais e travestis tentaram suic�dio -12 delas conseguiram.
O coordenador geral de pol�ticas LGBT da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania, Ivan Batista, afirma que a pasta planeja criar um observat�rio, ainda sem prazo, que re�na informa��es sobre a popula��o LGBT.
Os dados partiriam dos quatro CRDs (Centro de Refer�ncia � Diversidade) mantidos pela Prefeitura de S�o Paulo, que orientam e d�o ajuda psicol�gica ao grupo. "Entendo que � dif�cil criar a��es direcionadas sem dados precisos, e � isso que a secretaria quer conseguir", diz Batista.
Mortes por homofobia em 2016 - Em %
ESTADO LAICO
Uma quest�o levantada por especialistas, ativistas e transexuais ouvidos pela reportagem sobre o preconceito contra LGBTs tem a ver com a intoler�ncia religiosa. A mulher-trans Rubi de La Fuentes, por exemplo, diz que "encontra com Deus sozinha, em casa", porque j� foi expulsa de muitos templos religiosos.
Mas nem em casa fam�lias homoafetivas est�o alheias aos efeitos do preconceito e da intoler�ncia religiosa. � disso que trata o document�rio "Em Defesa da Fam�lia", da cineasta brasiliense Daniella Cronemberger. O t�tulo faz refer�ncia ao "slogan" da bancada evang�lica no Congresso.
Lan�ado na internet nesta quarta (17), em p�gina hom�nima no Facebook, o curta mostra como o discurso religioso molda o conceito de fam�lia defendido pelos deputados.
Enquanto a tela mostra o cotidiano do casal Vanessa e Mar�lia, funcion�rias do Congresso, com seus tr�s filhos, o �udio de parlamentares em sess�es do plen�rio destila o discurso de �dio baseado nas cren�as religiosas.
"Eles [os deputados] refletem e reproduzem todas as agress�es que a comunidade LGBT sofre, e n�o se consideram agressores ao dizerem, por exemplo, que a inten��o dessas fam�lias [homoafetivas] � 'acabar com a ra�a humana'", explica Cronemberger, citando um dos �udios reproduzidos no filme. Nem o nome nem a imagem dos parlamentares � revelada.
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Document�rio "Em Defesa da Fam�lia" mostra a influ�ncia do congresso nas fam�lias homoafetivas |
No ano em que o discurso homof�bico e centrado na religi�o surge no horizonte da Presid�ncia da Rep�blica, com o deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) na vice-lideran�a das inten��es de voto das elei��es de 2018, segundo a �ltima pesquisa Datafolha, os movimentos LGBT reagem.
A 21� Parada do Orgulho LGBT de S�o Paulo, uma das maiores do mundo e que acontece no dia 18 de junho, na av. Paulista, ter� como tema o "Estado Laico".
"O evento trata o conceito do ponto de vista da toler�ncia com as religi�es, mas � claro que h� conota��o pol�tica quando mais de 80% dos congressistas se dizem crist�os e parte deles advoga pela causa, ampliando a homofobia", diz Renato Viterbo, um dos organizadores da Parada.
Ele adianta que um dos eventos paralelos homenagear� os 117 LGBTs assassinados at� agora neste ano, segundo dados do GGB (Grupo Gay da Bahia). A ideia inicial era que no dia 11 de junho um parque recebesse uma muda para cada morte, mas n�o houve parque na regi�o central que comportasse tantas �rvores.
O ato foi alocado no Parque Vila do Rodeio, em Cidade Tiradentes, na zona leste, e com apenas cem mudas.
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