Tapa-buraco cai sob Haddad e Doria, e cal�ada de SP vira desvio de cratera
Miguel Alves, 47, tem uma longa hist�ria com o buraco quase em frente � sua pequena distribuidora de �gua, no bairro da Aclima��o, centro de SP. A primeira vez em que ele topou com a cratera no asfalto foi ainda na �poca em que a prefeita era Luiza Erundina, nos anos 1990. Como o reparo nunca � feito direito, o obst�culo sempre reaparece.
Neste ano, o buraco voltou maior e com mais fome que de costume. J� engoliu bicicleta e motocicleta que passavam por ali. "V�o esperar morrer algu�m aqui para tapar de uma vez? A� n�o adianta mais", afirma Alves.
Assim como ele, � cada vez mais comum paulistanos encontrarem buracos no meio de seus caminhos. Os motivos passam pela redu��o de reparos nos �ltimos anos, a baixa qualidade do asfalto e a falta de manuten��o em galerias de �guas pluviais.
Al�m de afetar o tr�nsito, buracos espalhados pelas ruas tamb�m afetam a seguran�a dos pedestres. Na rua dos Perd�es, tamb�m na Aclima��o, carros sobem na cal�ada para desviar de uma cratera cercada por cones.
Somente nos �ltimos seis meses, incluindo quatro de Fernando Haddad (PT) e dois de Jo�o Doria (PSDB), a cidade deixou de tapar, em m�dia, 5.000 buracos por m�s, na compara��o os mesmos meses do ano anterior.
O passivo de reparos, no entanto, � muito maior.
Sob Haddad (PT), a quantidade de buracos tapados na cidade caiu de 428 mil, em 2013, para 197 mil, no ano passado, segundo dados obtidos pela Folha por meio da Lei de Acesso � Informa��o. A situa��o piorou no fim do mandato, quando a oficina que produz asfalto para o munic�pio chegou a ser paralisada.
J� Doria, apesar de ter ampliado o servi�o em rela��o a dezembro, teve uma queda de 7,3% na opera��o tapa-buracos no primeiro bimestre deste ano, na compara��o com o mesmo per�odo de 2016.
Com esse cen�rio, motoristas dizem ter que dirigir de um jeito novo em S�o Paulo. "� velocidade reduzida, porque sen�o parece que est� sobre um touro mec�nico, e desviando, para n�o sofrer um acidente ou ter um airbag acionado", diz o engenheiro Rafael Bertoni, 25, que relata uma s�rie de buracos entre sua casa, em S�o Mateus, e a Mooca, ambos na zona leste.
varia��o - Queda em rela��o ao ano anterior, em %
As fortes chuvas e o rompimento de galerias de �guas pluviais ainda agravam a situa��o, criando crateras pela cidade. "Aqui na Aclima��o [regi�o central] sempre teve muito buraco, mas nos �ltimos anos piorou. Vira e mexe voc� liga a TV e v� um buraco gigante que apareceu aqui", diz o marceneiro Ant�nio de Deus, 65.
Em frente � marcenaria onde ele trabalha, uma galeria de �guas pluviais voltou a estourar, e apareceu uma falha no asfalto onde caberia at� um carro de pequeno porte.
Segundo a engenheira civil Rita Moura Fortes, os buracos podem ser provocados por problemas que v�o de projetos voltados para um tr�nsito menor de ve�culos � baixa qualidade do material usado.
"Fora do Brasil, voc� utiliza estruturas de pavimentos perp�tuos e materiais mais porosos em cima, que v�o sendo substitu�dos", diz. J� no Brasil, afirma, h� casos de pavimentos com espessuras que n�o comportam a quantidade de carros local.
Outro problema � como se tapam os buracos na cidade.
"Quando voc� vai no dentista e ele vai cuidar de uma obtura��o, ele tem cuidado redobrado, faz limpeza, retira material estragado, porque sabe que, se n�o fizer bem o servi�o, na primeira mordida o reparo vai cair. No tapa-buraco, isso n�o acontece", diz.
Ela afirma que, em alguns casos, a massa asf�ltica que sai quente da usina j� n�o est� mais na temperatura adequada no final do trajeto, tornando o trabalho ineficaz.
Rubens Vieira, pesquisador de geotecnia do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnol�gicas), acrescenta que a falta de manuten��o em pequenas falhas gera mais transtornos e gastos. "J� em vias onde voc� tem que fazer muitos reparos ao mesmo tempo, seria mais interessante fazer um recape."
Procurada, a gest�o Haddad atribuiu a diminui��o do servi�o � crise financeira.
"N�o � novidade que a administra��o anterior enfrentou s�rios problemas, sobretudo em repasses de recursos da Uni�o, al�m de ter sofrido uma forte press�o na arrecada��o de tributos municipais", informou em nota.
A gest�o diz ainda que foram deixados R$ 5,5 bilh�es em caixa e que "indica��o ou n�o da opera��o tapa-buracos como prioridade � uma atribui��o da atual gest�o".
O vice-prefeito e titular da pasta de Prefeituras Regionais, Bruno Covas (PSDB), afirma que colocou mais equipes para fazer o servi�o. "Aumentamos de 32 para 75 caminh�es fazendo este tipo de servi�o", diz Covas.
DOA��ES
A gest�o Doria (PSDB) lan�ar� um novo programa de tapa-buracos e asfaltamento e que deve ter como vitrine o recape da avenida Paulista.
Batizado como Asfalto Novo, o programa incluir� doa��es de material pela iniciativa privada e um acordo com concession�rias que atuam na capital.
Doria quer que empresas como Sabesp, Eletropaulo e Cong�s fa�am o recape de uma �rea de 50 m� sempre que precisarem abrir um buraco. Al�m de muitas vezes haver demora para esse tipo de reparo, a grande quantidade de buracos tapados tamb�m torna as vias mais acidentadas.
Outro ponto ser� a doa��o de recape de ruas pela iniciativa privada. Nos �ltimos anos, tem diminu�do esse tipo de servi�o, o que a gest�o Doria agora quer acelerar.
O tucano pretende utilizar a verba do fundo de multas da CET para melhorar a qualidade do asfalto.
O ex-prefeito Fernando Haddad (PT) chegou a ser processado por utilizar este fundo para custeio da companhia e constru��o de corredores de �nibus e ciclovias. Ele acabou inocentado da acusa��o de improbidade administrativa.
Na �ltima semana, a Justi�a de S�o Paulo derrubou o veto que suspendia esse uso da arrecada��o de multas. A decis�o foi justificada por afirma��o de que, sem a verba do fundo, h� o risco de "les�o ao patrim�nio p�blico e ao interesse coletivo".
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