'A gente est� com medo de virem aqui matar todo mundo', diz preso no AM
Marlene Bergamo/Folhapress | ||
Preso no Compaj, em Manaus, onde 56 detentos foram mortos, fala com reportagem pela janela de cela |
"A gente est� com medo de virem aqui arrebentar a porta e matar todo mundo."
A declara��o, de dentro do Compaj (Complexo Penitenci�rio An�sio Jobim), cen�rio da matan�a de 56 presos entre domingo (1�) e segunda (2) em Manaus, foi dada � Folha pelo detento A., 27.
Foragido desde novembro, ele foi recapturado no centro da cidade na quarta-feira (4) pela Pol�cia Militar –que, em seu �ltimo balan�o, afirmava tamb�m ter resgatado 65 dos 184 que escaparam dessa e de outra pris�o alvo de motim em Manaus.
A. foi colocado com outros quatro detentos em uma cela fechada com cadeado de frente ao p�tio principal do Compaj, por onde circulavam livremente nesta semana parentes de detentos para as visitas, sem qualquer barreira.
Ele conversou com a reportagem pela abertura gradeada da porta e contou ter fugido do complexo em 15 de novembro, um m�s e meio antes da matan�a –atribu�da a uma guerra entre as fac��es PCC e Fam�lia do Norte.
"Estavam falando que iam me matar aqui dentro. A� eu pulei um muro, fui pelo mato, corri numas casas, peguei uma carona e fui para a cidade", relatou A., que nega ser associado a qualquer organiza��o criminosa e se sente ainda mais amea�ado de morte que outros detentos.
Isso porque foi preso sob acusa��o de estupro de uma mulher de 27 anos –crime que ele nega ter cometido e que � malvisto pelos detentos no sistema penitenci�rio.
A. diz ter sido condenado a cinco anos e quatro meses de reclus�o e que j� estaria "h� mais de sete anos na cadeia".
O detento disse que se escondeu por alguns dias e depois passou a trabalhar como carregador na feira central de Manaus, onde recebia cerca de R$ 80 por dia. "Esse dinheiro era para sustentar meu filho de seis anos", afirmou.
A. pediu que a Folha entrasse em contato com sua fam�lia para dizer que estava bem. Sua mulher, H., afirmou � reportagem nesta quinta-feira (5) que j� estava a caminho do pres�dio para tentar uma visita ao marido.
O acesso ao Compaj foi aberto � imprensa e aos familiares na quarta. Na frente do pres�dio, mulheres denunciavam supostas m�s condi��es de alimenta��o e a superlota��o no pres�dio. Elas falaram sob a condi��o de n�o ter os nomes publicados.
A dire��o da penitenci�ria n�o atendeu a reportagem.
Segundo familiares, a comida e a �gua na pris�o chegam a ter vermes e sujeira. "Os presos que s�o de fora, que n�o t�m parentes aqui para trazer comida, s� eles comem a comida do pres�dio. Ningu�m come aquilo, nem porco come", disse uma mulher.
No enterro de um detento morto na rebeli�o, fam�lias recontavam a apreens�o vivida no dia da matan�a.
"A gente estava no guarda-volume para pegar as coisas e sair no �ltimo port�o quando come�ou [a rebeli�o]. Em vez de abrir a porta de livre acesso, para a gente sair, os policiais diziam 'fecha, fecha'. Os presos n�o ficaram com a gente de ref�m, n�o. Os policiais, em vez de abrir a porta pra gente sair logo, deixaram fechada", afirmou uma das mulheres.
Nos �ltimos tr�s dias, a Folha colheu diversos relatos de familiares de que PMs atiraram em presos que estavam fugindo. Disseram ainda ter visto que corpos foram colocados em viaturas e levados para �reas distantes do pres�dio e, por isso, n�o estariam na contagem oficial de mortos feita pelo IML (Instituto M�dico Legal).
A Secretaria de Seguran�a P�blica do Amazonas negou, em nota, ter recebido den�ncia formal sobre esses relatos, assim como o delegado de Pol�cia Civil respons�vel pela investiga��o dos homic�dios.
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