Mesmo 'sem crise', Sabesp deve cortar 45% dos investimentos em esgoto
Mesmo ap�s o governador Geraldo Alckmin (PSDB) ter "decretado" o fim da crise h�drica, a Sabesp, empresa paulista de saneamento, anunciou nesta ter�a-feira (29) que pretende cortar quase � metade (45%) os investimentos em esgoto no Estado de S�o Paulo.
A informa��o foi dada pela empresa em teleconfer�ncia a investidores e jornalistas nesta ter�a-feira (29). Segundo a Sabesp, mesmo com a melhora dos n�veis das represas na Grande S�o Paulo, ainda h� necessidade de investir na seguran�a do setor de abastecimento de �gua. Ainda hoje, � poss�vel encontra relatos de cortes di�rios de �gua na Grande S�o Paulo.
Tradicionalmente, o investimento da empresa sempre foi superior no setor de esgoto, �rea em que as obras s�o mais caras e tamb�m onde h� maior defasagem no saneamento. Mas durante a crise h�drica, diante da necessidade de garantir o abastecimento de �gua para a Grande S�o Paulo, esse equil�brio se inverteu.
Juca Varella - 18.jun.2015/Folhapress ) | ||
Obras paradas em rede de esgoto em S�o Sebasti�o, que depende de nova licita��o |
Para se ter uma ideia em 2013, ano anterior � crise, dos R$ 2,7 bilh�es investidos pela empresa, 60% eram destinado � �rea de esgoto. Esse �ndice se manteve em 2014 j� que muitos investimentos j� haviam sido garantidos no ano anterior.
Mas em abril de 2015, a Sabesp anunciou uma forte redu��o de investimentos em esgoto em todo o Estado. Naquele ano, o investimento em esgoto somou R$ 1,3 bilh�o, o que representou queda de 37% em rela��o aos investimentos totais da empresa e cerca de 32% frente ao n�vel de investimento em 2014.
Dos R$ 1,3 bilh�o investidos em esgoto em 2015, R$ 1,16 bilh�o se referem a lan�amentos financeiros, que t�m efeito no caixa da empresa (excluindo projetos de PPPs e o pagamento de alguns tipos de juros, por exemplo). Em 2016, os lan�amentos financeiros para projetos de esgoto da companhia dever�o ser 45% menores do que em 2015. A retra��o �, portanto, a segunda realizada pela empresa no setor de esgotos nos �ltimos anos.
Mais cedo, a empresa havia divulgado valores de investimentos totais em 2015 que, se comparados com os lan�amentos financeiros de 2016, apontavam uma redu��o ainda maior nos investimentos de esgoto.
O investimento financeiro em �gua tamb�m dever� cair de R$ 1,25 bilh�es para cerca de R$ 1,17 bilh�es. Mas o setor dever� representar 65% dos investimentos da Sabesp.
A invers�o na balan�a entre �gua esgoto s� dever� ocorrer a partir de 2017, quando a empresa pretende alocar 52% de seus recursos em esgotamento.
Entre as maiores defasagens no saneamento no Estado est�o o aumento da rede de esgoto na regi�o do ABC e do Alto Tiet�, na por��o leste da Grande S�o Paulo e a despolui��o do rio Tiet�. No Estado, outros gargalos est�o no avan�o da rede de esgoto no vale do Ribeira e o tratamento de esgoto no litoral norte.
Das cerca de 26 milh�es pessoas atendidas pela Sabesp no Estado de S�o Paulo, cerca de 4 milh�es de paulistas n�o tem acesso a esgoto. Al�m disso, apenas 54% do esgoto produzido por elas � tratado.
FIM DO B�NUS
Na confer�ncia com investidores e jornalistas, executivos da Sabesp explicaram o fim dos programas de b�nus e sobretaxa na Grande S�o Paulo. Para a empresa, a recupera��o dos n�veis das represas justificam a decis�o dos dois programas. O fim da sobretaxa depende ainda de aprova��o da ag�ncia reguladora estatal.
O an�ncio do fim do programa de incentivo � redu��o de consumo de �gua veio dois meses ap�s o acirramento das regras de concess�o do b�nus para quem economizasse. O programa de b�nus foi um dos fatores que derrubou a arrecada��o da Sabesp ao longo da crise h�drica.
A mudan�a foi t�o dr�stica que em fevereiro apenas 44% da popula��o conseguiu o desconto na conta. Dois meses antes, esse �ndice era de 64%. At� mesmo a sede do governo do Estado, o Pal�cio dos Bandeirantes, passou a ganhar b�nus menores desde a mudan�a das regras.
Com essa queda, o volume de dinheiro que a Sabesp passou a dar de desconto em suas contas caiu de R$ 81 milh�es em dezembro de 2015 para R$ 36 milh�es em fevereiro deste ano.
PERGUNTAS E RESPOSTAS
A crise da �gua acabou, como disse o governador?
Se comparada a do ano passado, sim, a situa��o est� bem melhor. Mas moradores da periferia ainda sofrem com os cortes no fornecimento de �gua, principalmente nos per�odos da noite e da madrugada. No auge da crise, o racionamento deixava algumas resid�ncias de 15 horas a 20 horas por dia com as torneiras secas. Agora a queixa � mais restrita.
Qual foi o ponto mais cr�tico da seca?
No fim de janeiro de 2015, o sistema Cantareira, principal reservat�rio da Grande S�o Paulo, operava com apenas 5% de sua capacidade. Isso j� contando com duas por��es de seu volume morto, que � a �gua do fundo das represas que nunca havia sido captada antes. Naquele m�s, j� se falava em buscar a terceira e at� a quarta por��es do volume morto do sistema de represas.
Meses antes, o diretor Metropolitano da empresa havia dito em uma reuni�o fechada que, se a chuva n�o chegasse, ele n�o saberia como fornecer �gua a S�o Paulo. Chegou a cogitar a hip�tese de evacuar parte da cidade.
O ent�o rec�m-empossado presidente da empresa, Jerson Kelman, dizia que aumentaria o per�odo em que a periferia de S�o Paulo ficava sem �guas em suas torneiras. Tudo para que a cidade pudesse atravessar o que ele chamava de "deserto em 2015", j� que o ano apontava ser pior do que o anterior.
A empresa come�ou a tra�ar um plano para atuar diante do colapso do fornecimento da �gua em S�o Paulo. Nessa situa��o, s� seria capaz de entregar �gua para alguns hospitais, cl�nicas de hemodi�lise e pres�dios.
Retirada de �gua do Cantareira
O que fez a situa��o da �gua melhorar?
Um conjunto de fatores. Por parte do governo, houve uma maior integra��o das tubula��es que permitiram flexibilizar a entrega de �gua dentro da Grande S�o Paulo. Com isso, passou a ser poss�vel, por exemplo, levar �gua da cheia Guarapiranga para bairros que tradicionalmente eram atendidos pelo sistema Cantareira, que esteve � beira de um colapso. Por parte da popula��o, houve uma forte redu��o do consumo de �gua. No ponto mais cr�tico da estiagem, cerca de 90% da popula��o reduziu seu consumo, muitas vezes incentivadas pelos programas de b�nus e pela sobretaxa.
Outro fator determinante foi a volta do regime de chuvas, conforme o esperado. S�o Paulo passou dois anos com volumes de chuva extremamente baixos, em que o volume de �gua que entrou no Cantareira, por exemplo, foi 80% menor do que o previsto. Nos �ltimos seis meses, o Cantareira recebeu chuvas perto da m�dia.
Alckmin merece novos pr�mios pela gest�o da crise?
A popula��o e especialistas dizem que n�o. Durante o auge da crise faltou transpar�ncia ao governo do PSDB. Alckmin sempre minimizou a gravidade da crise e nunca admitiu que a Grande SP esteve sob um forte "racionamento" –preferia o eufemismo da "redu��o da press�o" nas tubula��es, o que, na pr�tica, � a mesma coisa. Durante a campanha eleitoral de 2014, quando era candidato � reelei��o, adiou a implanta��o da sobretaxa na conta dos "gast�es" de �gua. Em um debate eleitoral na televis�o, chegou a dizer que n�o faltava �gua em S�o Paulo, contrariando a experi�ncia di�ria de milhares de pessoas, principalmente na periferia da regi�o metropolitana. Pesquisa Datafolha, em outubro, mostrou que apenas 15% dos paulistanos consideravam a gest�o tucana da �gua como �tima e boa.
Infogr�fico: Reservat�rios da Grande SP
Estamos preparados para uma nova seca?
Caso a pr�xima seca seja t�o rigorosa quanto a �ltima, a popula��o de S�o Paulo dever� sofrer novamente. Mas segundo a Sabesp e o governo do Estado, as condi��es de opera��o e de distribui��o da �gua na cidade est�o melhores do que antes da crise.
De qualquer forma, caso ocorra uma seca ainda mais rigorosa, S�o Paulo poder� ter mais problemas j� que quest�es estruturais ainda n�o foram enfrentadas como um programa de individualiza��o de hidr�metros em condom�nios, incentivo � �gua de reuso etc.
Livraria da Folha
- Box de DVD re�ne dupla de cl�ssicos de Andrei Tark�vski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenci�rio
- Livro analisa comunica��es pol�ticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade
Acompanhe toda a cobertura dos blocos, festas e desfiles do Carnaval 2018, desde os preparativos
Tire as dúvidas sobre formas de contaminação, principais sintomas e o processo de imunização
Folha usa ferramenta on-line para acompanhar 118 promessas feitas por Doria em campanha