Paulistanos reclamam de falta de �gua ap�s Alckmin 'decretar' fim da crise
Governador de S�o Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), anunciou na segunda (7) que a crise h�drica que castiga o Estado h� mais de dois anos chegou ao fim.
A declara��o, no entanto, foi recebida com ceticismo por diversos moradores de S�o Paulo que relatam ainda sofrerem com torneiras secas em suas casas.
Em Guaianases, na zona leste da capital, a interrup��o no fornecimento come�a �s 14h e s� volta ao normal na madrugada do dia seguinte, por volta das 5h, dizem moradores. "Est�o racionando �gua ainda, nada mudou", relata a dona de casa Rafaela Coutinho Xavier.
Rivaldo Gomes/Folhapress | ||
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Cleusa Rodrigues, moradora de Itaquera (zona leste), relata falta de �gua que chega a dez horas |
No bairro de Itaquera, tamb�m na zona leste, moradores contam que a �gua falta todo dia a partir das 19h. As caixas s� voltam a receber �gua da rua a partir das 5h do dia seguinte. "Armazeno �gua em tambores porque n�o confio mais se vamos ser abastecidos todos os dias", diz a dona de casa Cleusa Rodrigues, 65. Ela conta que, no auge da crise h�drica, a rua onde mora chegou a ficar cinco dias consecutivos sem abastecimento. Hoje, afirma ela, a situa��o amenizou, mas ainda n�o voltou a ser como era antes da crise.
ZONA NORTE
A rotina de aperto e desabastecimento continua tamb�m na zona norte. Ao menos duas vezes por semana, a engenheira Roseleide Bibiano, 49, no Parque Edu Chaves, � obrigada a esquentar �gua no fog�o e a tomar banho de caneca quando chega do trabalho. "N�o recebemos a �gua pela qual pagamos todos os meses", diz.
A fam�lia de Roseleide j� se habituou a armazenar �gua da chuva em lat�es para usar na descarga dos banheiros e para limpar o quintal. A m�quina de lavar roupas s� � usada uma vez por semana.
"No fim de semana � pior, recebemos visitas de amigos e parentes e o constrangimento � geral", afirma ela.
SEM �GUA
Desde o agravamento da crise, a Sabesp e o governo Alckmin adotaram como principal estrat�gia contra a seca das represas a opera��o de "redu��o de press�o" nas tubula��es.
A ideia era fazer com que a �gua fosse empurrada pelos canos da cidade com menos for�a. Assim, menos �gua era perdida nas in�meras falhas da tubula��o da empresa.
Sem for�a, a �gua n�o consegue chegar a milhares de casas de S�o Paulo. A situa��o sempre foi mais grave na periferia, onde a popula��o se acostumou a n�o ter �gua nas torneiras durante horas todos os dias.
No auge da crise, esse racionamento (entrega controlada de �gua) deixou alguns bairros com 15 horas a 20 horas por dia de torneiras secas. Agora, com mais �gua nas represas gra�as ao bom volume de chuvas, a Sabesp diz estar reduzindo o per�odo em que faz a manobra de "redu��o de press�o".
A empresa diz, no entanto, que ajustes pontuais est�o sendo feitos para adequar o fornecimento de �gua a padr�es anteriores � crise, que come�ou em 2014.
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PERGUNTAS E RESPOSTAS
A crise da �gua acabou, como disse o governador?
Se comparada a do ano passado, sim, a situa��o est� bem melhor. Mas moradores da periferia ainda sofrem com os cortes no fornecimento de �gua, principalmente nos per�odos da noite e da madrugada. No auge da crise, o racionamento deixava algumas resid�ncias de 15 horas a 20 horas por dia com as torneiras secas. Agora a queixa � mais restrita.
Qual foi o ponto mais cr�tico da seca?
No fim de janeiro de 2015, o sistema Cantareira, principal reservat�rio da Grande S�o Paulo, operava com apenas 5% de sua capacidade. Isso j� contando com duas por��es de seu volume morto, que � a �gua do fundo das represas que nunca havia sido captada antes. Naquele m�s, j� se falava em buscar a terceira e at� a quarta por��es do volume morto do sistema de represas.
Meses antes, o diretor Metropolitano da empresa havia dito em uma reuni�o fechada que, se a chuva n�o chegasse, ele n�o saberia como fornecer �gua a S�o Paulo. Chegou a cogitar a hip�tese de evacuar parte da cidade.
O ent�o rec�m-empossado presidente da empresa, Jerson Kelman, dizia que aumentaria o per�odo em que a periferia de S�o Paulo ficava sem �guas em suas torneiras. Tudo para que a cidade pudesse atravessar o que ele chamava de "deserto em 2015", j� que o ano apontava ser pior do que o anterior.
A empresa come�ou a tra�ar um plano para atuar diante do colapso do fornecimento da �gua em S�o Paulo. Nessa situa��o, s� seria capaz de entregar �gua para alguns hospitais, cl�nicas de hemodi�lise e pres�dios.
Retirada de �gua do Cantareira
O que fez a situa��o da �gua melhorar?
Um conjunto de fatores. Por parte do governo, houve uma maior integra��o das tubula��es que permitiram flexibilizar a entrega de �gua dentro da Grande S�o Paulo. Com isso, passou a ser poss�vel, por exemplo, levar �gua da cheia Guarapiranga para bairros que tradicionalmente eram atendidos pelo sistema Cantareira, que esteve � beira de um colapso. Por parte da popula��o, houve uma forte redu��o do consumo de �gua. No ponto mais cr�tico da estiagem, cerca de 90% da popula��o reduziu seu consumo, muitas vezes incentivadas pelos programas de b�nus e pela sobretaxa (leia abaixo).
Outro fator determinante foi a volta do regime de chuvas, conforme o esperado. S�o Paulo passou dois anos com volumes de chuva extremamente baixos, em que o volume de �gua que entrou no Cantareira, por exemplo, foi 80% menor do que o previsto. Nos �ltimos seis meses, o Cantareira recebeu chuvas perto da m�dia.
O programa de b�nus e sobretaxa da Sabesp continua?
A empresa estuda a hora certa de acabar com os dois programas. Anunciado em fevereiro de 2014, o programa de b�nus confere descontos para quem gastar menos �gua do que o seu padr�o de consumo. Como muitas pessoas come�aram a reduzir o consumo, a empresa foi obrigada a conceder muitos descontos, e o programa acabou dilapidando a arrecada��o da Sabesp. Em dezembro de 2014, ap�s as elei��es a governador e o agravamento da crise, Alckmin anunciou o programa de sobretaxa, que pune quem aumenta o consumo de �gua sem justificativas.
Na virada do ano, a Sabesp mudou as regras de obten��o do b�nus para tornar mais dif�cil a concess�o do desconto.
Nova regra para b�nus e sobretaxa da Sabesp
Alckmin merece novos pr�mios pela gest�o da crise?
A popula��o e especialistas dizem que n�o. Durante o auge da crise faltou transpar�ncia ao governo do PSDB. Alckmin sempre minimizou a gravidade da crise e nunca admitiu que a Grande SP esteve sob um forte "racionamento" –preferia o eufemismo da "redu��o da press�o" nas tubula��es, o que, na pr�tica, � a mesma coisa. Durante a campanha eleitoral de 2014, quando era candidato � reelei��o, adiou a implanta��o da sobretaxa na conta dos "gast�es" de �gua. Em um debate eleitoral na televis�o, chegou a dizer que n�o faltava �gua em S�o Paulo, contrariando a experi�ncia di�ria de milhares de pessoas, principalmente na periferia da regi�o metropolitana. Pesquisa Datafolha, em outubro, mostrou que apenas 15% dos paulistanos consideravam a gest�o tucana da �gua como �tima e boa.
N�VEIS DOS RESERVAT�RIOS
N�vel dos reservat�rios que abastecem S�o Paulo
Estamos preparados para uma nova seca?
Caso a pr�xima seca seja t�o rigorosa quanto a �ltima, a popula��o de S�o Paulo dever� sofrer novamente. Mas segundo a Sabesp e o governo do Estado, as condi��es de opera��o e de distribui��o da �gua na cidade est�o melhores do que antes da crise.
De qualquer forma, caso ocorra uma seca ainda mais rigorosa, S�o Paulo poder� ter mais problemas j� que quest�es estruturais ainda n�o foram enfrentadas como um programa de individualiza��o de hidr�metros em condom�nios, incentivo � �gua de reuso etc.
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