Sobrevivente do inc�ndio na boate Kiss vive rotina de tratamento
A universit�ria Kelen Ferreira, 20, sobreviveu ao inc�ndio da boate Kiss. Perdeu uma perna por ferimentos sofridos na ocasi�o e hoje usa uma pr�tese. Tamb�m teve graves queimaduras nos bra�os. Ap�s passar dois meses e meio internada, voltou ainda na fase de recupera��o � faculdade de terapia ocupacional e hoje diz que � preciso "celebrar a vida".
Leia depoimento:
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A nossa vida deu uma volta grande. Eu me olho no espelho e n�o me sinto a mesma de antes. Vai doer sempre na gente. Al�m das marcas f�sicas, as psicol�gicas.
Eu n�o sabia se iria � boate, n�o tinha dinheiro. Minhas amigas insistiam. Liguei para a minha m�e e disse: "Vou sair hoje". Ela respondeu: "De novo? Te cuida".
Fomos a p�. J� tinha uma fila at� a esquina para entrar. L� dentro, fomos direto para um bar no fundo. Ficamos por l� a noite inteira.
Jorge Ara�jo/Folhapress |
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Kelen Ferreira (centro), 20, que teve a perna amputada ap�s o inc�ndio na boate Kiss; Gabrielle (� esq.) e Angelica (� dir.) tamb�m sobreviveram) |
Lembro que foi quando come�ou uma m�sica do [cantor] Naldo, que a gente gostava e dan�ava. As gurias que estavam comigo falaram que iriam ao banheiro. Disse que n�o ia junto. Elas foram e deu a confus�o. N�o ouvi a m�sica parar. Ningu�m avisou nada no microfone do que estava acontecendo.
Quando vi, cruzaram umas 500 pessoas na minha frente [fugindo]. Um bolo de gente. Pensei que fosse briga. Quem estava perto de mim sumiu, correu. Fiquei sozinha.
Comecei a correr, mas ca� na frente de um bar. Pensei em voltar para buscar as gurias no banheiro do fundo. Dei uns tr�s passos para tr�s, e um homem de branco me pegou pelo bra�o e disse: "Tu n�o vais". Ou foi Deus ou foi o meu anjo da guarda. Corri, de salto, em dire��o � porta.
N�o tropecei em ningu�m, mas acabei caindo de joelhos. A fuma�a j� tinha tomado conta de tudo em cima de mim. Tapei o nariz com o meu vestido e comecei a rezar. Eu n�o queria morrer.
Era uma gritaria, mais de mulheres, um desespero mesmo.
Achei que ia morrer com o calor: sentia que meus bra�os estavam fritando. Disseram que a temperatura l� dentro chegou a 500�C.
Foi ent�o que outro homem me puxou. Meu p� ficou [preso] nas pessoas. "Estrangulou" meu tornozelo.
Quando ele me colocou l� fora [na rua], um dos guris que foi conosco me viu. Ele me p�s no carro de um amigo e me levou ao hospital. Sa� antes de bombeiros e ambul�ncias chegarem.
Fui a segunda ou terceira a chegar ao hospital. Estava com o rosto e bra�os pretos.
Lembro como foi at� ser entubada, umas 4h30. S� l� pelas 12h deixaram meu pai entrar. Ele n�o me reconheceu. Pensou que o queimado no bra�o eram tatuagens. Fiquei 15 dias inconsciente.
INTERNA��O
No leito da UTI ainda, pedi para colocarem uma TV. Foi a� que vi que j� eram 235 mortos. S� em mar�o me contaram sobre minhas amigas [que morreram].
No hospital, um [sobrevivente] ia visitar o outro nos quartos. As fam�lias se tornaram amigas, conversavam. Todo mundo se apoiava. A gente se fala at� hoje. S� sa� depois de 78 dias internada.
De maio a julho, cursei o quarto semestre da faculdade � dist�ncia. Os professores mandavam por e-mail trabalhos e eu fazia em casa.
RETOMADA
Fa�o fisioterapia de segunda a quinta-feira. �s quartas e sextas, tem a terapia ocupacional. Tamb�m fa�o acompanhamento em Porto Alegre para cirurgia pl�stica, com fisiatra e com pneumologista.
Em dezembro, tinha muita secre��o no meu pulm�o. Preciso manter o acompanhamento por mais quatro anos.
Hoje, prefiro ficar em casa.
A primeira vez que sa� foi em novembro e fiquei do lado da porta. Olho o teto, a sa�da de emerg�ncia, se tem escada ou n�o. Antes, todo fim de semana a gente sa�a e estava mais na Kiss.
J� me acostumei em sair na rua assim [com as queimaduras � mostra]. Dou risada das pessoas que ficam me olhando. Mas n�o vou passar calor por causa dos outros. Tenho que me aceitar assim.
Eu j� surpreendi muita gente pela maneira como eu tento superar. A gente vai reconstruindo a vida.
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