![Reinaldo José Lopes](https://cdn.statically.io/img/f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15075554.jpeg)
� jornalista de ci�ncia com gradua��o, mestrado e doutorado pela USP. � autor do blog "Darwin e Deus" e do livro "Os 11 Maiores Mist�rios do Universo". Escreve aos domingos, a cada 2 semanas.
Com fama de horm�nio de trogloditas, testosterona pode ter seu lado 'do bem'
BluesyPete/Wikimedia commons | ||
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Babu�no abre a boca e mostra dentes pontiagudos |
A testosterona � um horm�nio com s�rios problemas de rela��es p�blicas, pessoal. Todo mundo s� pensa na coitada quando algum idiota bate na mulher ou quando os membros de torcidas organizadas se comportam feito chimpanz�s no Morumbi (minhas desculpas aos s�mios pela compara��o). Estou aqui para pedir justi�a para a testosterona: ela n�o � nem de longe t�o malvada quanto dizem por a�.
Antes de explicar o porqu� disso, por�m, vamos aos fatos b�sicos. A testosterona, como o nome sugere, � produzida principalmente nos test�culos dos mo�os (e tamb�m, em grau bem menor, nos ov�rios das mo�as; em m�dia, o n�vel do horm�nio no organismo de adultos do sexo masculino � umas sete ou oito vezes maior do que o encontrado no organismo de mulheres).
Tais quantidades elevadas de testosterona no corpo dos machos s�o importantes para o desenvolvimento das caracter�sticas t�picas de seu sexo, o que significa n�o apenas a matura��o dos �rg�os sexuais como tamb�m, no caso da nossa esp�cie, a musculatura mais desenvolvida, os ossos mais robustos e a barba dos homens.
At� a�, sem controv�rsia nenhuma. O caldo engrossa quando a gente tenta avaliar os efeitos comportamentais do "horm�nio da macheza", que s�o reais, mas complicadinhos. Existe correla��o entre n�veis de testosterona l� no alto e agressividade? Existe, a come�ar pela correla��o temporal –em muitas esp�cies, inclusive a nossa, a tend�ncia a arrumar encrenca alcan�a um pico na adolesc�ncia, mais ou menos junto com os picos da mol�cula no corpo.
A am�gdala, regi�o do sistema emocional do c�rebro muito ligada a comportamentos agressivos, tamb�m est� repleta de receptores (basicamente "fechaduras" qu�micas) que s�o ativadas especificamente pela testosterona. Como o pessoal da fazenda sabe, castrar machos � um �timo jeito de diminuir a agressividade deles. E receber uma dose extra de testosterona em experimentos de laborat�rio faz com que o sujeito aja de maneira excessivamente confiante e otimista.
Parece que ainda estamos no n�vel do estere�tipo malvado, certo? A quest�o, por�m, � que todos esses efeitos, em especial os ligados � agressividade, dependem muito do contexto social. � bem raro que a testosterona seja a causa do comportamento agressivo –o mais comum � que ela responda a fatores sociais que j� estavam l�, como disputas por status no grupo. Se esse tipo de disputa tiver de ser resolvido no bra�o, a�, de fato, ela pode estimular o combate.
Mas nem sempre, ou n�o necessariamente. Em experimentos de laborat�rio nos quais a reputa��o dos volunt�rios –portanto, seu status– dependia da generosidade deles com outros participantes (dividindo dinheiro em jogos econ�micos), injetar testosterona nos sujeitos fazia com que eles compartilhassem mais recursos.
Em suma, nesses casos, "homem de verdade" n�o era o sujeito que distribu�a sopapos, mas o que dividia seus recursos com os demais. Dependendo de como funciona a din�mica dos grupos sociais, portanto, o criticado "horm�nio da pancadaria" pode se tornar uma for�a para o bem.
Uma r�pida nota de rodap�: essas e outras informa��es iluminadoras est�o no mais recente livro do neurobi�logo americano Robert Sapolsky, da Universidade Stanford, cujo t�tulo � "Behave" ("Comporte-se") –leitura recomendad�ssima para quem se vira com o ingl�s.
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