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por Eliane Trindade
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� editora do Pr�mio Empreendedor Social. Aqui, mostra personagens e fatos dos dois extremos da pir�mide social. Escreve �s ter�as, a cada duas semanas.
� hora de minha gera��o ocupar os espa�os de poder, diz Luciano Huck
Adriano Vizoni/Folhapress | ||
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O apresentador Luciano Huck |
Luciano Huck, 45, colocou blazer para gravar o primeiro "Caldeir�o" desta temporada, na quinta-feira (23).
A justificativa para o look formal para comandar o programa que vai ar neste s�bado (1�), marcando seus 17 anos na Rede Globo, foi homenagear cinco brasileiros no especial "Inspira��o".
O novo quadro d� visibilidade a l�deres e empreendedores sociais que unem quatro caracter�sticas que Huck espera ver tamb�m no candidato a presidente da Rep�blica em 2018: "Carisma, capacidade de implementa��o, �tica e altru�smo".
Em entrevista � Folha o apresentador diz que sua gera��o est� pronta para ocupar os espa�os de poder e que diante do colapso do sistema pol�tico e da crise �tica novas lideran�as v�o surgir.
Ele fica em cima do muro sobre o ass�dio de partidos e pesquisas de opini�o que o colocariam na corrida rumo ao Planalto.
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Folha - Como explica a trajet�ria de apresentador que lan�ou Tiazinha e que hoje leva ao palco pr�mio Nobel da Paz e professor de �tica de Harvard?
Luciano Huck - Fui amadurecendo. A pauta pessoal norteia muito a tua comunica��o. H� 20 anos, meu universo era de menino. Orbitava na escola ou na faculdade em que estudava, nos amigos que carregava desde a inf�ncia. Fui ampliando as �reas de interesse, tentando entender qual � a minha miss�o no mundo como apresentador, pai, marido, brasileiro, cidad�o.
Qual � sua miss�o?
O poder que conquistei atrav�s do microfone � resultado de muito trabalho. Tenho 40 milh�es de seguidores nas redes sociais e 18 milh�es de pessoas todo s�bado assistindo ao programa. Espero dar muito trabalho para o meu bi�grafo. No final da hist�ria, ficarei contente se puder ter melhorado o mundo � minha volta. N�o gosto da ideia de viver de forma passiva. Somos curadores em tempo integral do futuro que queremos, precisamos imagin�-lo e cri�-lo.
Que marca quer deixar?
A minha gera��o tomou as r�deas do dia a dia. Voc� v� um ministro do Supremo de 47 anos [Alexandre de Moraes, que tem 48]. O CEO da BRF [Pedro Faria] tem 42. � uma gera��o que ainda n�o est� na pol�tica como deveria, mas vai estar. A renova��o que a gente precisa passa por uma renova��o geracional. Tive o privil�gio, que pouca gente tem, de entrar nas casas das pessoas. Viajei o Brasil todo. Sem nenhum crach� pol�tico. Estou numa fase altamente produtiva, l�der de audi�ncia em um espa�o relevante e comercialmente vi�vel. Bicho, vamos usar isso para o bem.
Voc� abre a temporada com um quadro chamado "Inspira��o". O que te inspira?
Trope�ar em pessoas que tenham capacidade de tirar do papel ideias que melhorem a vida das demais. As lideran�as no mundo t�m que reunir quatro caracter�sticas principais. Carisma � fundamental, capacidade de implementa��o. Mas, se ficar s� nestas duas, voc� pode botar Hitler e Gandhi no mesmo saco. Acrescenta �tica e j� tira um monte da lista. S� que a pessoa carism�tica e �tica pode ser ego�sta. A� coloca o altru�smo e voc� encontra os l�deres que admiro.
Voc� se enxerga nestas carater�sticas?
Ih, eu preciso melhorar muito. Voc� n�o nasce necessariamente altru�sta. As experi�ncias de vida v�o te ensinando.
S�o qualidades que candidatos � Presid�ncia da Rep�blica deveriam ter?
S�o caracter�sticas fundamentais para que algu�m de fato possa transformar o pa�s e aproveitar essa oportunidade, que � o colapso pol�tico e a crise �tica, para liderar um projeto novo de pa�s.
H� dez anos, voc� declarou que poderia se lan�ar � Presid�ncia no futuro. Esse momento chegou?
Esta � sempre a pergunta pegadinha. N�o d� para responder na atual conjuntura. Falando seriamente, nossa gera��o chegou a um momento em que tem capacidade, sa�de, for�a de trabalho, relev�ncia, influ�ncia. Quem entrou na faculdade em 1990 est� chegando agora aos espa�os de poder. Fa�o parte desta gera��o. Estamos vivendo um trauma moral e �tico que se soubermos capitalizar para o bem, tenho convic��o de que daqui a 10, 20, 30 anos vamos ter um pa�s de fato diferente e mais justo.
Fazendo pol�tica?
J� fa�o pol�tica, fazendo televis�o aberta no Brasil, com o poder que a Globo tem, trazendo boas hist�rias, dando opini�o. Agora, se me perguntarem se vou concorrer a algum cargo eletivo, eu n�o sei responder. E qualquer tipo de resposta � especula��o, fofoca.
H� pesquisas que j� mostrariam seu nome entre os candidatos. Voc� foi informado dos resultados de tais sondagens?
Cara, o Brasil precisa de renova��o e tem uma classe pol�tica completamente desmoralizada, sem nenhum apelo popular, atra��o, charme. Se vou ser eu, n�o fa�o a menor ideia. Quero poder ajudar a identificar lideran�as. A resposta � pergunta objetiva � n�o.
� assediado por partidos?
N�o vivo encastelado. T� na favela, no sert�o, em Bras�lia. Tenho amigos pol�ticos, nas For�as Armadas, na torcida do Corinthians, na favela, no samba, no futebol.
Voc� n�o respondeu � pergunta. Partidos o assediam?
Nunca efetivamente.
N�o teve convite para se lan�ar a nada?
N�o, mas tamb�m n�o te responderia [risos].
Voc� foi �s manifesta��es?
N�o fui pra rua. Tenho minha opini�o pessoal.
Qual �?
A mobiliza��o n�o � contra A, B, C. O sistema todo entrou em colapso. Independentemente de partido, de ideologias. E a fal�ncia do sistema como um todo � uma oportunidade como poucas na hist�ria do Brasil. Vamos aproveitar que o castelo caiu e constru�-lo direito, em outras bases. Bicho, vamos colocar a base da �tica, da transpar�ncia. Independente de que partido voc� �, da cor da bandeira que voc� levanta. Todo mundo deveria querer usar as ferramentas pol�ticas e o poder do Estado para melhorar a vida de todos.
Como fazer isso diante da polariza��o?
O �nico jeito de arrumar esse pa�s � se a gente conseguir fazer um pacto apartid�rio. Sem revanchismo, sem revolta. Se foi golpe ou se n�o foi golpe, n�o importa.
E como mudar esse sistema?
O presidente Michel Temer pode ficar para a hist�ria do Brasil se souber usar a impopularidade dele para fazer o que precisa, para corrigir os erros da constru��o da nossa democracia. Fazer voto distrital e um monte de coisas para acabar com incongru�ncias, v�cios. Outro dia, fui gravar no interior de Alagoas, com uma empreendedora social. O munic�pio tinha IDH horroroso, com 50% de analfabetos. A iniciativa dela tinha, de verdade, transformado a comunidade. Na segunda grava��o, apareceu a prefeita, n�o vou dar nome, que n�o tinha nenhuma conex�o com o lugar. Ia l� duas vezes por m�s, morava em Macei�. �bvio que foi eleita porque o sistema est� errado.
O que espera da Opera��o Lava Jato? Qual � a sua opini�o sobre o juiz Sergio Moro?
Sou a favor de todos os movimentos que ajudem a refazer e ressignificar as bases morais e �ticas do Brasil. E sem d�vida a Lava Jato � o principal deles. Moro � um homem de coragem, e tenho certeza que os ecos das suas atitudes ir�o trazer muito benef�cios para as pr�ximas gera��es.
Dos nomes j� colocados, voc� tem alguma prefer�ncia para 2018?
Se falar isso agora, eu vou estar me colocando. N�o � hora. Tem muita gente se organizando pra isso, com projeto legal, boas ideias, vontade de botar a m�o na massa e voca��o p�blica. S� precisa de fato dar espa�o para quem n�o est� viciado em velhas pr�ticas.
Acham que voc� � tucano?
Eu n�o sou tucano, mas sou muito pr�ximo do Fernando Henrique, a cabe�a mais moderna do Brasil, e ele tem 85 anos. Sou amigo do A�cio [Neves, senador mineiro] desde que passei a dividir minha vida entre Rio e S�o Paulo, h� 17 anos. Tenho carinho por ele, mas foram pouqu�ssimas as vezes que misturamos esta amizade com pol�tica.
FHC andou falando a interlocutores que voc� poderia ser um nome em 2018?
O presidente gosta de mim, � meu amigo. Minha m�e � urbanista e casada h� d�cadas com o economista Andrea Calabi, que participou ativamente dos principais governos tucanos no �mbito federal e estadual. Natural que a pol�tica tenha pautado v�rios almo�os e jantares familiares desde que me entendo por gente. Minha vis�o pol�tica n�o vou colocar aqui publicamente neste momento. � delicada. Temos que ver como vai ser o financiamento de campanha. Quem pode dar dinheiro para campanha de maneira legal.
Neste cen�rio, a campanha de um nome da TV seria mais barata, por ser conhecido.
N�o tem campanha nenhuma. O que vai acontecer em 2018 est� ainda em aberto. Grande inc�gnita. Isso angustia todo mundo, o cidad�o normal, a imprensa, quem quer investir no Brasil. A solu��o pode ser muito boa, pois esse colapso da classe pol�tica pode gerar lideran�as positivas, como tamb�m pode gerar lideran�as controversas.
O brasileiro anda com a autoestima l� embaixo mesmo com Copa e Olimp�ada?
De novo, n�o tem lideran�a. N�o tem projeto. Voc� n�o v� ningu�m fazendo sinapses e reflex�es que de fato inspirem a sociedade como um todo. A hora em que aparecer uma lideran�a que fa�a as pessoas acreditarem que vai ter um novo cap�tulo de �tica, de altru�smo, junta todo mundo. S�o Paulo � um bom exemplo.
Por causa da elei��o do Jo�o Doria?
Sem d�vida. Jo�o n�o � pol�tico tradicional, n�o tem os v�cios nem coisas debaixo do tapete que a velha pol�tica teve. Isso faz diferen�a.
Como lidou com as vaias no Maracan�zinho na Olimp�ada?
N�o vou ser unanimidade nunca. Mas estou em paz com minha consci�ncia. O que a minha carreira me proporcionou e as rela��es que constru�, eu estou usando para o bem. E n�o s� de quem est� a minha volta. Podem n�o gostar do que eu fa�o, da televis�o que eu produzo, do que eu penso, mas eu sou isso a�.
O que achou da entrevista do seu irm�o Fernando Grostein � Folha, falando sobre a homossexualidade dele?
Nunca falei isso publicamente porque a vida � dele. Ser meu irm�o, imagino que tenha os prazeres, mas j� � um fardo. Fernando me contou isso quando tinha 19 anos, e eu, 28. Desde o primeiro dia, nunca foi um problema. E nunca ser�. Ele � um menino muito inteligente e fora na curva na capacidade de realizar e de defender as bandeiras dele, sempre com muita relev�ncia.
Uma das causas � o filme "Quebrando o Tabu", que defende a descriminaliza��o das drogas. Voc� tamb�m defende?
Eu produzi o filme com ele. Tenho absoluta certeza de que a guerra �s drogas e o que foi feito at� aqui n�o funcionou. As comunidades est�o cada vez mais armadas. O consumo nunca diminuiu, os pres�dios est�o superlotados. N�o � um problema de pol�cia, mas de sa�de p�blica.
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