![mariliz pereira jorge](https://cdn.statically.io/img/f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/16251366.jpeg)
� jornalista e roteirista.
Escreve �s quintas e s�bados.
Futebol continua sendo um reduto de homofobia
O futebol parece ser um daqueles redutos em que a homofobia segue firme, em que poucas pessoas se incomodam quando ela � manifestada. N�o consigo pensar em que outro setor um dirigente faria uma declara��o t�o cheia de preconceito, como a feita por Eurico Miranda, presidente do Vasco, e a repercuss�o ser praticamente nula.
Seguem alguns trechos da entrevista concedida ao rep�rter S�rgio Rangel, da Folha, no dia 19: "N�o tenho nada contra homossexual, mas contra veado", "Sou contra o gay espalhafatoso. Todos t�m direito de ter a sua op��o. S� n�o pode agredir o outro", "O cara espalhafatoso me agride. Mas acredito que nunca contratei um gay."
Ningu�m chiou. A declara��o, segundo o pr�prio Eurico, pol�mica, n�o causou nenhum tipo de indigna��o, seja da imprensa, do p�blico e muito menos dos atletas, mas nesse �ltimo caso j� era esperado. Nem � a primeira vez que o dirigente dispara a verborragia homof�bica. Em junho de 2015, ele disse as mesmas coisas, mas na ocasi�o ao menos a Comiss�o de Direito Homoafetivo da OAB-RJ condenou a declara��o e disse que ela era pass�vel de processo, o que n�o aconteceu, infelizmente.
Em menos de dois meses � a segunda vez que o presidente do Vasco fala sem constrangimento algum sobre o que pensa da presen�a de gays no futebol. No come�o de fevereiro, o alvo foram os �rbitros. Ele � contra profissionais gays nessa �rea. "Ele (�rbitro) pode tender para o namorado dele. Todo gay tem namorado. Ele � gay, tem que ter namorado".
Pelo racioc�nio, �rbitro gay � necessariamente mau car�ter, porque beneficiaria um poss�vel namorado em detrimento do profissionalismo.
Eurico Miranda continua com sua artilharia conservadora e ultrapassada porque n�o lhe acontece nada, porque o futebol ainda � um reduto machista e homof�bico e o que ele diz apenas reflete o pensamento da maioria das pessoas ligadas ao esporte. E, principalmente, porque a grande maioria dos gays do mundo do futebol continua dentro do arm�rio. Quem vai comprar uma briga dessa?
Pelo visto ningu�m. Nem a imprensa, nem os profissionais da �rea, nem os movimentos de prote��o aos direitos dos homossexuais. Uma pena, porque apenas refor�a o senso comum de que futebol � coisa de macho -dentro e fora de campo.
O recado, principalmente aos jogadores, � claro. Fa�am o que quiserem, mas "n�o sejam veados", n�o soltem a franga, n�o queiram mostrar que h� diversidade dentro dos gramados, porque n�o queremos saber e muito menos ver.
Em 2009, o jogador Richarlyson moveu a��o contra um dirigente do Palmeiras que teria dito que ele era gay. Na senten�a, o juiz Manoel Maximiniano Junqueira Filho n�o apenas mandou arquivar a queixa, como fez quest�o de reafirmar a "masculinidade" do esporte. "Futebol � jogo viril, varonil, n�o homossexual."
Junqueira Filho foi punido por um colegiado de magistrados que considerou sua delibera��o "impropriedade absoluta de linguagem". Passados quase dez anos, vemos que o pensamento que predomina no futebol ainda � carregado de preconceito. "N�o h� �dolos de futebol que sejam gays", disse ele, na �poca. Se depender de gente como Junqueira Filho, Eurico Miranda e todo mundo que se cala diante de homofobia, nunca haver� mesmo. E segue o baile.
Livraria da Folha
- Cole��o "Cinema Policial" re�ne quatro filmes de grandes diretores
- Soci�logo discute transforma��es do s�culo 21 em "A Era do Imprevisto"
- Livro de escritora russa compila contos de fada assustadores; leia trecho
- Box de DVD re�ne dupla de cl�ssicos de Andrei Tark�vski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade