Jornalista, escritor e diretor de cinema cubano. � autor de 19 livros, incluindo "O Homem que Amava os Cachorros" . Mora em Havana.
O or�culo iorub� prev� um ano magn�fico para Cuba
Para os cubanos, crentes e ateus, o n�mero 17 tem conota��es m�gicas, definitivamente cabal�sticas.
Dentro da espiritualidade dos nascidos nesta ilha, a primeira conota��o da cifra remete ao 17 de dezembro, dia de s�o L�zaro, um santo muito venerado e com fama de milagreiro, por d�cadas rejeitado pelo Vaticano e que, entre os seguidores das cada vez mais populares religi�es afro-cubanas, se identifica com o orix� Obaluaiy�, tamb�m poderoso e dado a realizar prod�gios.
Para apostadores, � um n�mero dotado de atra��o especial. Para pessoas comuns, � uma cifra carregada de magnetismo inexplic�vel. O 17, enfim, n�o � um n�mero qualquer.
Como muitos sabem, talvez a primeira a��o cultural e espiritual de cada ano em Cuba seja o an�ncio da chamada Letra do Ano, uma previs�o pr�pria dos ritos iorub�s levados � ilha pelos escravos africanos e atrav�s da qual os sacerdotes iorub�s, ou babala�s, oferecem um panorama do futuro pr�ximo, baseado na consulta ao seu or�culo.
Renata Borges/Renata Borges/Editoria de Arte/Folhapress | ||
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Por ser este um ano que termina com a cifra m�gica 17 e que, na atualidade conturbada, come�a com mais interroga��es que respostas para todos os habitantes do planeta, muitos cubanos, crentes e ateus, aguardavam a famosa previs�o com interesse especial.
O curioso � que, apesar da expectativa inicial, ao final do per�odo sobre o qual foi tra�ada a previs�o ningu�m se recorda do que foi anunciado 12 meses antes nem se d� ao trabalho de contrastar o previsto com o acontecido.
Mas, no momento em que o progn�stico esot�rico � anunciado, muitos acreditam nele, com as doses de esperan�as e alertas que a Letra do Ano costuma incluir.
E a expectativa cresceu nesta ocasi�o de n�mero not�vel: devido ao 17 e porque os algarismos de 2017 somados d�o 10, o in�cio de alguma coisa.
O costume de consultar o or�culo dos orix�s acompanhou a vida religiosa e m�stica cubana por quase dois s�culos e � origin�rio dos reinos iorub�s da atual Nig�ria, onde essa pr�tica divinat�ria ainda � mantida.
Por alguma raz�o, embora essa tradi��o tenha deitado ra�zes em Cuba, o mesmo n�o se deu em outros pa�ses e regi�es onde s�o cultuados os orix�s, como � o caso de Salvador, na Bahia, ou Porto Rico, locais onde existem diversas formas de previs�o e divina��o, mas de caracter�sticas diferentes e n�o t�o pontuais como o plano do ano que se inicia, ditado a cada m�s de janeiro pelos babala�s cubanos e at� alguns estrangeiros que viajam a Havana para participar do evento.
Essa cerim�nia de previs�o consiste em uma s�rie de consultas que um grupo de sacerdotes iorub�s experientes realiza com o tabuleiro m�gico do If�, o or�culo que conhece o futuro e que se expressa por meio de uma complexa numerologia bin�ria atrav�s do orix� Olofi, aquele que det�m os segredos da cria��o.
Para este 2017, a Letra do Ano cubana anunciou que o orix� regente ser� Ogum, senhor dos metais, e que ao seu lado estar� a muito popular Iemanj�, a senhora dos mares. Entre as previs�es e advert�ncias, o documento elaborado pelos sacerdotes, com um sentido muito pragm�tico e pr�prio do momento hist�rico, pede aos crentes e aos n�o crentes que fa�am aten��o especial aos casos de corrup��o, roubo e dilapida��o do er�rio e, ao mesmo tempo, ajudem a refor�ar as transforma��es econ�micas e socioculturais.
Segundo um conhecido babala� cubano, se as advert�ncias dos poderes superiores forem levadas em conta o cabal�stico 2017 poder� ser "um ano magn�fico", pelo menos para Cuba, pois a evolu��o da economia ser� fortalecida, gra�as ao fato de que Ogum, como senhor dos metais, facilitar� os fac�es necess�rios para desmatar os bosques que separam os homens, as terras, as na��es.
Contudo, realista e menos metaf�rico, esclareceu que o resultado bem-sucedido de tal possibilidade n�o est� nas m�os dos orix�s, mas na disposi��o humana de faz�-lo.
Para isso, acrescentou, � preciso que as pessoas sejam flex�veis, pois ningu�m consegue apertar uma m�o amiga estando com o punho fechado.
Para os cubanos, a previs�o do or�culo iorub� encerra conota��es claras e leg�veis na realidade pol�tica e at� mesmo cotidiana: a nova rela��o com os Estados Unidos –n�o por acaso lan�ada em um 17 de dezembro, dia de S�o L�zaro– e a necessidade de ampliar e aproveitar essa proximidade, que pode ser crucial para o desenvolvimento melhor da deprimida economia da ilha, que se contraiu 0,9% em 2016 e que aspira a discretos 2% de crescimento, mesmo em um ano considerado de conota��es m�gicas e favor�veis como o de 2017. Agora ser� preciso ver, nos pr�ximos dias, semanas e meses, se Donald J. Trump, j� como presidente dos Estados Unidos, entende alguma coisa de or�culos africanos e se os punhos ser�o abertos dos dois lados ou se, pelo contr�rio, v�o se conservar cerrados, impossibilitando um aperto de m�os.
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