Jornalista, escritor e diretor de cinema cubano. � autor de 19 livros, incluindo "O Homem que Amava os Cachorros" . Mora em Havana.
Reaproxima��o dos EUA com Cuba tem futuro em suspenso at� a elei��o
Hoje a pergunta que mais se faz no mundo � quem, dentro de tr�s dias, ser� o novo presidente dos EUA.
Da resposta que dar�o os eleitores americanos dependem muitas coisas de enorme import�ncia, n�o apenas para seu pr�prio pa�s, mas para o resto do planeta.
E, embora as pesquisas ofere�am a muitas pessoas a esperan�a, relativamente tranquilizadora, de que Hillary Clinton parece ser a candidata com mais chances de vencer, j� sabemos o que pode acontecer com as pesquisas. Lembre-se da Col�mbia.
Renata Borges/Renata Borges/Editoria de Arte/Folhapress | ||
![]() |
||
Para Cuba, envolta em um processo que visa a normaliza��o das rela��es restabelecidas com o vizinho do norte, o resultado do jogo eleitoral americano apresenta-se como um dilema do qual pode depender, e muito, o destino de curto prazo do pa�s –talvez tamb�m de longo prazo–, e em todas as �reas poss�veis: econ�mica, pol�tica, social (migrat�ria, por exemplo).
O processo de aproxima��o entre os dois pa�ses –iniciado em 2014, coroado h� alguns meses com a visita de Obama a Havana e levado a um ponto explosivo com a inteligente absten��o da delega��o americana na vota��o das Na��es Unidas do pedido cubano de levantamento total do embargo comercial que pesa sobre a ilha–, tem todo seu futuro em suspenso at� 8 de novembro...
E depende do que depois decida fazer o novo inquilino da Casa Branca: levar adiante, acelerar, suspender, rejeitar a corajosa e pragm�tica pol�tica de aproxima��o realizada por Obama.
Para o governo e o povo cubanos, o tema da continua��o, do enfraquecimento (j� iniciado por Obama) ou da elimina��o total do embargo encerra conota��es que chegam at� a dignidade nacional.
Mas, entre todas elas, as limita��es comerciais e financeiras que essa lei norte-americana acarretou e continua a acarretar s�o, sem d�vida, as que pesam mais hoje em um pa�s que procura fazer alguns reparos a um sistema econ�mico que ainda n�o encontrou o caminho da efici�ncia e da produtividade.
Um eventual levantamento do embargo pode significar um empurr�o contra esse muro interno, condicionado pelo externo, que se nega a cair: porque, apesar das reformas, a economia cubana n�o cresce como � preciso, n�o consegue se revolucionar.
Nas �ltimas semanas, o assunto que ganhou mais espa�o na imprensa oficial cubana foi o tema do bloqueio e da necessidade de revog�-lo.
Muitas contas foram feitas do que o pa�s perde devido a essa pol�tica e do muito que poderia ganhar com sua elimina��o.
Todo o problema econ�mico nacional cubano, ou quase todo, tem sido visto desde essa perspectiva, dando a impress�o de que o levantamento do embargo ser� para o pa�s como aquele b�lsamo russo, creio que chamado Shostakovich ou algo semelhante, que com duas colheradas curava as �lceras estomacais. Uma po��o m�gica, mas que tinha o mais horr�vel dos sabores.
Se o novo presidente norte-americano optar por uma pol�tica de aproxima��o maior com a ilha vizinha e conseguir tamb�m que o Congresso concorde em desmontar o aparato legal do embargo, as empresas americanas de todo tipo ter�o a possibilidade de atravessar o estreito da Fl�rida e abrir seus escrit�rios e ind�strias em Cuba.
Mas ser� que o governo cubano aceitar� essa previs�vel invas�o de invers�es na ilha? Apostar� numa abertura de seu mercado interno, ao mesmo tempo em que cheguem �s cidades e praias do pa�s v�rios milh�es de turistas do norte desejosos de conhecer a ilha vizinha, mas de tomar sua Coca-Cola e comer seu McDonald's de sempre?
A resposta previs�vel, por ora, � que ele n�o aceitar� esse novo cen�rio, assim como j� n�o aceitou outras propostas comerciais por consider�-las no m�nimo uma inger�ncia, como foram qualificadas as mais recentes medidas de aproxima��o firmadas por Obama poucos dias antes do hist�rico voto de absten��o nas Na��es Unidas.
Contrariamente ao que alguns podem ter previsto depois do in�cio das conversa��es entre Washington e Havana, nunca desapareceu da parte americana o objetivo maior de conseguir uma mudan�a radical no sistema pol�tico cubano, enquanto o discurso cubano de reduto sitiado e de rejei��o a qualquer ind�cio de imperialismo se manteve quase intacto como forma de propaganda oficial e de pol�tica nacional e internacional.
Hillary ou Trump? Continuidade ou ruptura? Aceita��o ou recusa cubana de uma poss�vel aproxima��o mais intensa e profunda? Todas essas e muitas mais s�o as cartas que est�o sobre a mesa hoje e que, mais ou menos, nos permitem entender o jogo.
Mas ser� que todas as cartas j� est�o expostas? Ou haver� algumas, possivelmente as decisivas, enfiadas debaixo do tapete para serem postas em movimento pelos atores pol�ticos que ser�o os novos rostos das decis�es governamentais dos dois pa�ses? Lamentavelmente, mais uma vez a resposta est� no vento –e tamb�m no tempo.
Livraria da Folha
- Cole��o "Cinema Policial" re�ne quatro filmes de grandes diretores
- Soci�logo discute transforma��es do s�culo 21 em "A Era do Imprevisto"
- Livro de escritora russa compila contos de fada assustadores; leia trecho
- Box de DVD re�ne dupla de cl�ssicos de Andrei Tark�vski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade