Jornalista, escritor e diretor de cinema cubano. � autor de 19 livros, incluindo "O Homem que Amava os Cachorros" . Mora em Havana.
Dist�ncia curta, tempo longo
O m�s de agosto chegava ao fim e um avi�o da companhia a�rea norte-americana Jet Blue, pilotado por dois oficiais cubano-americanos e com 220 passageiros a bordo, aterrissava no aeroporto da cidade cubana de Santa Clara, no centro da ilha, onde era recebido do modo como era de praxe festejar acontecimentos especiais em aer�dromos: com um banho de �gua lan�ada das mangueiras rotat�rias usadas para apagar inc�ndios.
O motivo do festejo n�o podia ser mais justificado: a aterrissagem do Jet Blue 387 era o primeiro voo comercial a Cuba de uma empresa a�rea americana em 55 anos, depois de essa travessia ter sido cancelada em meio a todas as rupturas e os bloqueios ordenados pelo governo dos EUA naqueles tempos de m�xima hostilidade, guerra fria, cancelamento de rela��es diplom�ticas e decreta��o de embargo comercial. Depois desse avi�o da Jet Blue vir� a avalanche que, por enquanto, vai trazer mais de 135 voos semanais para a ilha vizinha, provenientes de v�rias cidades americanas, enquanto fala-se em alcan�ar uma frequ�ncia de 20 voos di�rios para Havana.
Renata Borges/Folhapress | ||
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A concretiza��o desse acordo entre os governos de Cuba e dos Estados Unidos, em meio a seu processo de poss�vel normaliza��o das rela��es econ�micas e pol�ticas, � sem d�vida o primeiro a estender seus benef�cios concretos a uma parte importante da popula��o cubana residente de um e outro lado do estreito da Fl�rida. Segundo foi dito, as tarifas desses trajetos v�o cair mais de 50% em rela��o ao pre�o pago hoje por passagens em voos fretados (uns US$ 500 pelo trajeto Havana-Miami-Havana, de apenas 42 minutos de dura��o). Com isso, os cubanos que viajam para visitar os Estados Unidos e os muitos cubanos residentes na Am�rica do Norte que viajam � ilha poder�o faz�-lo mais frequentemente, e gastando menos.
Mas um ru�do estranho ainda se ouve neste novo panorama de conex�es a�reas entre os dois pa�ses: nenhum cidad�o americano vai poder ir a Cuba na condi��o de turista, porque a lei do embargo, que ainda est� em vigor, assim o estipula. S� poder�o beneficiar-se desses voos os cubano-americanos e os norte-americanos que fazem parte de alguma das 12 categorias aprovadas pelo governo americano para viajar ao pa�s ex-inimigo (licen�as religiosas, acad�micas, esportivas, etc.).
Mesmo assim, um efeito imediato do novo panorama ser� o aumento das viagens aos Estados Unidos de cubanos residentes na ilha com vistos norte-americanos m�ltiplos ou portadores de passaportes espanh�is (v�rias centenas de milhares), que v�o intensificar o neg�cio da importa��o de artigos adquiridos nos Estados Unidos (especialmente roupas) e trazidos a Cuba para serem vendidos no mercado negro. Porque, apesar dos pre�os das bagagens, das fortes restri��es alfandeg�rias cubanas (que incluem o pagamento em divisas de todo bem importado que n�o seja considerado artigo de uso pessoal e que n�o ultrapasse ao todo 30 quilos de peso) e da proibi��o de vender artigos industrialmente manufaturados nas pequenas lojas privadas que hoje existem em Cuba, esse tr�fico continua a ser lucrativo, gra�as � demanda existente na popula��o cubana, devido ao desabastecimento ou abastecimento insuficiente das lojas estatais que vendem mercadorias em d�lares.
Mas com a garantia de um fluxo grande de viajantes dado por esses "importadores" de roupas e quinquilharias (viajantes conhecidos como mulas, apesar de n�o praticarem o narcotr�fico), mais os cubanos que fazem visitas familiares e os americanos autorizados a vir para Cuba, parece que o aparato todo montado pelas empresas a�reas comerciais est� fazendo uma aposta clara: a de manter as portas abertas para uma esperada abund�ncia de turistas que pode acontecer com o levantamento definitivo do embargo ou com outro enfraquecimento dele que pode acontecer se for abolida a proibi��o de esses cidad�os viajarem a Cuba como simples turistas. Pois, como diz o velho refr�o espanhol, "quando o rio soa, � porque traz pedras".
Enquanto isso, os aeroportos da ilha, especialmente os de Havana, observam imp�vidos e subdesenvolvidos o presente e o futuro. Se hoje, entre a chegada de um passageiro ao aeroporto e sua sa�da para a rua a espera pode chegar a ou at� ultrapassar duas horas, em uma sala sem assentos, com pouco ou nenhum ar-condicionado, sem uma m�quina de venda de �gua, com centenas de pessoas disputando um espa�o para alcan�ar suas bagagens que demoram para chegar... como ser� se a avalanche previs�vel se concretizar? Espero que os encarregados de resolver estes problemas pelo menos se fa�am essa pergunta. E, se n�o for muito para lhes pedir, que se proponham a fazer alguma coisa. Esses voos comerciais abrem a possibilidade de um neg�cio que vai beneficiar a todos.
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