Jornalista, escritor e diretor de cinema cubano. � autor de 19 livros, incluindo "O Homem que Amava os Cachorros" . Mora em Havana.
Lembran�as e esquecimentos
O dia 7 de novembro ser� o 98� anivers�rio de um acontecimento que pretendeu n�o apenas mudar a hist�ria, mas transformar o mundo do presente e do futuro. Com a tomada do Pal�cio de Inverno de S�o Petersburgo pelos bolcheviques, como todos sabemos (ou dever�amos saber) e o an�ncio de que o poder na R�ssia passava para as m�os dos sovietes, pretendia-se iniciar uma nova etapa de desenvolvimento do homem, da sociedade e da hist�ria.
A cria��o do novo tipo de Estado fomentado pelos revolucion�rios bolcheviques a partir das aplica��es pr�ticas da filosofia marxista se distinguiria por seu car�ter de modelo socioecon�mico que, respondendo � vontade da maioria trabalhadora, imporia uma nova forma de exercer o poder, praticar a economia e reger a pol�tica.
Seria uma estrutura social em que as grandes massas criadoras de riqueza e eternamente exploradas passariam a ser as novas beneficiadas e possibilitariam a concretiza��o de uma das utopias mais antigas do homem civilizado: viver em uma sociedade na qual, com um m�ximo de liberdade e uma democracia popular compacta, o ser humano alcan�aria a plenitude de seus direitos, capacidades e possibilidades. A id�lica sociedade dos iguais.
Leon Tr�tski foi um dos l�deres do levante popular que passaria para a hist�ria como a Revolu��o Bolchevique de outubro de 1917 (pois, segundo o antigo calend�rio russo, aconteceu no dia 26 de outubro, que corresponde a 7 de novembro) e foi exatamente Tr�tski o encarregado de anunciar "urbi et orbi", que o poder na R�ssia passava para os sovietes, ou comit�s de trabalhadores.
Como todos sabemos (ou dever�amos saber), Liev Davidovich Bronstein, j� ent�o conhecido por seu nome de guerra e pseud�nimo liter�rio, foi um dos pensadores e revolucion�rios mais radicais e influentes de sua �poca.
Foi tamb�m um dos primeiros invasores que tomariam aquele pal�cio russo, s�mbolo do poder e da pompa do regime czarista que chegava ao fim naquele dia, dando lugar a uma nova etapa hist�rica.
Mas precisamente nesse dia, 7 de novembro de 1917, o revolucion�rio Tr�tski completava 38 anos de idade, raz�o por que agora poderemos comemorar, juntamente com os 98 anos da Revolu��o, os 136 anos do nascimento de um de seus l�deres, ocorrido em 1879 num pequeno povoado ucraniano da prov�ncia de Kherson, hoje chamada Kirovograd.
Os mist�rios insond�veis das datas fizeram coincidir em um mesmo dia um momento da hist�ria que gerou mudan�as profundas e aceleradas e um anivers�rio significativo da vida de um personagem justamente hist�rico, protagonista daquele acontecimento.
Por�m, como tamb�m sabemos (ou dever�amos saber), para al�m de alguma coincid�ncia not�vel ou conjuntura especial, as datas n�o costumam ter peso muito grande nos caminhos da hist�ria: Tr�tski poderia ter nascido em 6 de novembro e a tomada do Pal�cio de Inverno poderia ter acontecido no dia 8, e embora a ess�ncia do que aconteceu poderia ter sido a mesma, o dia 7 de novembro de 1917 teria perdido seu peso hist�rico muito especial para o mundo e sua rela��o intr�nseca com a vida de um homem imerso na hist�ria.
O que importa de fato � o que aconteceu nesse dia e, dramaticamente, o que a hist�ria e o destino reservaram para o fato hist�rico e o homem unidos pela a��o e data.
Porque aquele sonho ut�pico de fundar a mais democr�tica, livre e igualit�ria das sociedades se frustrou em muito pouco tempo. As condi��es da hist�ria e o car�ter dos homens se conjugaram para que o poder dos sovietes e a ditadura do proletariado nascidos naquele 7 de novembro se convertessem na ditadura criminosa de Josef St�lin e sua pol�cia pol�tica e, � claro, na mais dolorosa pervers�o do velho e necess�rio anseio social da humanidade e no calv�rio que acabaria com a vida do homem que tinha anunciado em S�o Petersburgo o nascimento de uma nova era.
E a pervers�o do sonho foi t�o radical, t�o devastadora e criminal que hoje a alvorada de outubro de 1917 n�o passa de uma comemora��o nost�lgica de algo que poderia ter sido e n�o foi, enquanto a lembran�a da gl�ria de Tr�tski � apenas a convic��o, para seus seguidores, de que ainda � preciso sonhar com a utopia de um mundo melhor.
Mas lembrando as li��es do dram�tico fracasso de uma hist�ria cujos sinos tocariam pela �ltima vez no dia de 1991 em que se anunciou o fim oficial do pa�s e da sociedade nascidos entre as brumas de S�o Petersburgo, um 7 de novembro –ou um 26 de outubro.
Tradu��o de CLARA ALLAIN
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