Jornalista, escritor e diretor de cinema cubano. � autor de 19 livros, incluindo "O Homem que Amava os Cachorros" . Mora em Havana.
O quarto poder?
O assassinato do jovem rep�rter Rub�n Espinosa na capital mexicana foi, para alguns, a gota de �gua que fez o copo transbordar.
Depois de ter de fugir do Estado de Veracruz por medo do que poderia lhe acontecer nesse territ�rio, que se converteu em t�mulo de jornalistas, Espinosa, instalado no Distrito Federal, achou-se a salvo da ca�ada organizada contra os profissionais de imprensa no M�xico. Mas o pa�s n�o foi grande o suficiente para ele ficar a salvo. Chegamos ao fundo do po�o, disseram alguns de seus colegas e ativistas civis.
J� no in�cio deste ano, tivemos a sensa��o de ter chegado ao fundo do abismo, e um grupo de escritores assinamos uma carta, dirigida ao diretor do Hay Festival, de Xalapa, pedindo que esse prestigioso encontro cultural fosse tirado do Estado de Veracruz, pois um lugar onde o assassinato de jornalistas converteu-se em praxe macabra n�o merecia o reconhecimento que significa a presen�a ali de escritores reconhecidos de todo o mundo.
Naquela ocasi�o, o fato que pareceu ser a gota de �gua foi o assassinato (por degolamento) do colega Mois�s S�nchez, depois de ser arrancado de sua casa por for�as paramilitares.
Mais de cem jornalistas j� foram assassinados neste s�culo no M�xico, e dezenas deles foram deslocados de seus locais de trabalho e origem pelas amea�as recebidas. O pior lugar de todos � precisamente Veracruz, cujo governador, ante as cr�ticas recebidas pelo estado de inseguran�a em que ali vivem os jornalistas, disse: "Lamentavelmente, alguns dos colaboradores e trabalhadores dos meios de comunica��o t�m v�nculos com grupos da criminalidade e tamb�m est�o expostos a essa situa��o. Comportem-se bem, todos sabemos que quem anda pelo mau caminho...".
E ainda h� quem pergunte sobre as raz�es do estado calamitoso do jornalismo em n�vel universal? Se o que acontece no M�xico pode ser visto como caso extremo, em muitos outros pa�ses do mundo os jornalistas vivem em estado de risco f�sico ou profissional, pressionados pelas esferas de decis�o pol�tica, econ�mica ou editorial que n�o querem de modo algum que exista um jornalismo com fun��o informativa e c�vica, como a que se sup�e que deve ter esse "quarto poder".
Porque se no M�xico se assassinam os profissionais inc�modos, em outros lugares busca-se modos de silenci�-los, ou, melhor, de utiliz�-los. As dissid�ncias s�o castigadas das mais diversas maneiras, e muitos profissionais dos meios de comunica��o j� aprenderam a li��o muito bem.
Resultado: a superficialidade nas an�lises e o servilismo do poder p�blico, que tomou conta de grande parte do trabalho informativo. Por isso, fica cada vez mais evidente a improvisa��o e a falta de profissionalismo de muitos dos que vivem do exerc�cio do jornalismo.
Seus sal�rios s�o cada vez menos atraentes, e as reda��es se enchem cada vez mais de jovens pouco preparados, que precisam ganhar o p�o e n�o buscar complica��es para suas vidas. Em lugares onde se fala com orgulho da liberdade de express�o e dos direitos humanos, matam-se moralmente os profissionais da imprensa com as press�es pol�ticas, econ�micas e editoriais que eles precisam acatar... Ou buscar outro trabalho.
Para ganhar a vida, s� lhes resta o caminho da obedi�ncia, uma forma �s vezes muito pouco sutil de prostitui��o intelectual.
� l�gico, ent�o, que fazer hoje um jornalismo honesto, comprometido com a verdade e a sociedade, � uma postura que est� se tornando cada vez menos comum ao redor do mundo. Meus colegas da imprensa –e falo assim porque nunca deixei de fazer jornalismo e de sentir-me jornalista– sabem que falo a verdade, e espero que, em nome da verdade, n�o se ofendam.
A quest�o � conseguirmos, se for poss�vel, entre todos, termos o jornalismo que o mundo de hoje necessita. Mas os jornalistas n�o podemos sozinhos travar uma guerra em que poderes vis�veis e invis�veis, mas sempre castradores, decidem a sorte daquilo que j� foi visto como o quarto poder e que hoje � sobretudo um meio a mais para exercer e validar o dom�nio dos verdadeiramente poderosos: os pol�ticos e os donos do dinheiro em todas as partes do mundo.
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