Jornalista, escritor e diretor de cinema cubano. � autor de 19 livros, incluindo "O Homem que Amava os Cachorros" . Mora em Havana.
Cuba, o que � que tem Cuba?
Com a visita pastoral do Papa Francisco no horizonte e com a expectativa de que a qualquer momento, e depois de mais de cinco d�cadas, a bandeira dos Estados Unidos volte a tremular sobre a sede diplom�tica do pa�s em Havana, a capital cubana se converteu em uma esp�cie de encruzilhada � qual acorrem gregos e troianos.
Todos t�m prop�sitos espec�ficos, mas todos est�o interessados na mesma coisa: estar perto da ilha nesse momento em que Cuba se converteu em uma esp�cie de passarela social e pol�tica com caminhos que conduzem � Am�rica Latina, � �frica, a uma Europa que est� recompondo suas rela��es pol�ticas com Havana e aos Estados Unidos, que est�o dando uma reviravolta not�vel em sua posi��o pol�tica e possivelmente econ�mica com rela��o ao seu pequeno e problem�tico vizinho de baixo.
Adalberto Roque/AFP | ||
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Cubanos celebram partida de futebol entre a sele��o local e o New York Cosmos em 2 de junho |
Agora, o ministro do Exterior da Alemanha chegou � ilha, em uma aproxima��o que jamais havia acontecido nesse n�vel de governo. Ainda est�o na atmosfera as visitas do presidente franc�s, Fran�ois Hollande e do presidente salvadorenho, Salvador S�nchez Cer�n, e a pista do aeroporto de Havana recebe a cada dia algum pol�tico norte-americano (j� n�o importa muito se democrata ou republicano), ou talvez um ministro espanhol ou dirigente latino-americano. Al�m de uma avalanche de jornalistas.
Al�m dos gestos pol�ticos, simb�licos ou concretos que essas visitas possam abarcar, o que mais elas podem oferecer?
N�o se trata de uma pot�ncia econ�mica, como bem sabem todos, e nem mesmo do atraente mercado que alguns otimistas tentam apresentar (pois ainda que faltem muitos produtos, dos 11 milh�es de cubanos n�o s�o muitos os que poderiam praticar o consumismo, j� que suas economias pessoal n�o s�o exatamente pr�speras), e as riquezas naturais do pa�s n�o s�o t�o abundante para que se as dispute como nos tempos da conquista do velho oeste.
E se o exposto acima n�o basta, apesar de o governo cubano ter apresentado uma nova lei de investimento estrangeiro que parece menos restritiva que a vers�o anterior, e de as obras do porto de Mariel conferirem melhor capacidade comercial ao pa�s, at� o momento n�o se produziu a avalanche de investidores que alguns previram: nem a nova lei parece assim t�o magn�tica e nem Mariel � o Eldorado...
No n�vel da sociedade cubana, no qual vivem os 11 milh�es de seres mencionados acima, esses movimentos pol�ticos de alto n�vel e as pretens�es econ�micas potenciais n�o provocaram modifica��es importantes.
� certo que existe mais mobilidade social e econ�mica nos �ltimos anos, como fruto das reformas empreendidas pelo governo e, mais recentemente, do incremento no n�mero de turistas, entre os quais muito mais visitantes norte-americanos. Mas tamb�m � certo que, embora um restaurante privado nas zonas privilegiadas da cidade possa faturar quantias not�veis (para Cuba), o resto do pa�s, ou seja, a maioria dos cubanos, n�o parece estar vivendo melhor (o valor real dos sal�rios � dr�stico e revelador quanto a essa certeza), de acordo com a minha experi�ncia di�ria e emp�rica.
H� alguns dias, por causa de uma filmagem que realizamos no meu bairro (popular e perif�rico), o estado de deteriora��o f�sica de muitas pessoas e de incont�veis im�veis e ruas chegou a me alarmar, por ter chegado a um desgaste que nunca, em meus quase 60 anos de vida, eu havia observado de maneira t�o dram�tica e chocante.
E da�? Da� a raz�o mais vis�vel para esse interesse renovado por estar perto da ilha do Caribe talvez seja, exatamente, aquilo que poderia ser mobilizado por uma rela��o econ�mica mais apraz�vel com os Estados Unidos, e pelo surgimento de um relacionamento econ�mico e comercial ascendente, sobretudo se desaparecerem as limita��es que a exist�ncia da lei de embargo imp�e.
Mas podem existir raz�es invis�veis. Quais? Minha capacidade de adivinha��o n�o chega t�o longe. Se existem ou podem existir, veremos em um futuro mais ou menos pr�ximo... Enquanto isso, o fluxo de visitantes not�veis n�o para e, a menos que aconte�a alguma virada imprevista, tudo parece indicar que n�o se deter� - bem pelo contr�rio
Tradu��o de PAULO MIGLIACCI
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