Jornalista, escritor e diretor de cinema cubano. � autor de 19 livros, incluindo "O Homem que Amava os Cachorros" . Mora em Havana.
�, Jerusal�m!
Acabo de viver uma das experi�ncias memor�veis de minha vida: visitar Jerusal�m, a Terra Santa.
Depois de percorrer tantos lugares no mundo, cheguei a uma cidade imprescind�vel para a hist�ria da cultura universal e entre cujas muralhas se compactam tr�s mil anos de hist�ria e mitos.
Um lugar cuja transcend�ncia � sustentada pelo protagonismo de personagens como os reis b�blicos Salom�o e Davi, o revolucion�rio Jesus de Nazar�, o rei Herodes e P�ncio Pilatos, o profeta Maom�, os cruzados e Saladino, os otomanos, os brit�nicos e os sionistas, e que entre seus moradores, de ontem e de hoje, abrigou judeus, pag�os, �rabes, crist�os, cat�licos de todas as denomina��es poss�veis, e mu�ulmanos, em um processo milenar que forjou uma cidade �nica, espetacular, sagrada para tr�s das grandes religi�es do planeta.
A mesma Jerusal�m que, por s�culos e s�culos, tem estado no centro de conflitos de toda esp�cie, ainda que promovidos por aquilo que a tornou grande e, em minha opini�o, tamb�m a tornou desventurada: o peso tremendo imposto a essa terra pela religi�o, essa maneira de assumir e interpretar o mist�rio por meio da qual os homens, al�m de se alimentarem espiritualmente, tamb�m se dedicaram a se repelir, ofender e at� massacrar mutuamente, desde as origens da civiliza��o.
Estive em Jerusal�m e bastou ver as pedras beges das muralhas para que se desencadeasse um processo de como��o que me acompanhar� por muitos anos. Percorri suas ruas estreitas, passando pelo bairro judeu e pelo bairro �rabe, e depois pelo crist�o e pelo arm�nio, cada qual com seus sinais de identidade exibidos como bras�es.
Visitei os lugares sagrados dos judeus, dos crist�os, dos mu�ulmanos. Mesquitas, igrejas, sinagogas. Inclinei-me com respeito pela hist�ria do Muro das Lamenta��es -os restos vis�veis do Segundo Templo do juda�smo, destru�do pelos romanos.
Visitei a Igreja do Santo Sepulcro, onde est�o, no exato lugar do G�lgota no qual se diz foi erigida a cruz do sacrif�cio de Jesus, a l�pide sobre a qual foi posicionado seu corpo humano e a gruta na qual ressuscitou seu corpo divino.
Visitei a Mesquita da Rocha, com sua c�pula dourada, da qual se diz que Maom� ascendeu aos c�us.
Vi, da perspectiva privilegiada do Monte das Oliveiras, as portas seladas das muralhas que s� se abrir�o quando surgir o verdadeiro Messias e se tornar imprescind�vel seu ingresso na cidade sagrada.
Tive ocasi�o de visitar o impressionante Museu do Holocausto, cr�nica de um horror.
Vi fragmentos expostos dos Pergaminhos do Mar Morto. Na cidadela da torre do rei Davi, percorri a hist�ria de Jerusal�m de suas origens at� a atualidade.
Vi, li, escutei, me comovi e tentei compreender.
Mas alguns poucos dias e um conhecimento parcial de uma hist�ria e de uma realidade com demasiados prismas n�o me permitem explicar coisa alguma. S� expressar impress�es, admira��es, o j�bilo espiritual de um homem ao deparar com pontos cardeais de muitas das ess�ncias primog�nitas de sua cultura, sem pretender (repito) explicar coisa alguma: Jerusal�m me sobrepuja com sua hist�ria conflituosa e maravilhosa, m�tica e real, a hist�ria que deu raz�es a diversos povos e cren�as para lutar por alguns poucos lugares e pedras que talvez sejam os mais pol�micos e tr�gicos do mundo.
Ainda que, diante da densidade de uma hist�ria e da trag�dia do presente, eu tenha compreendido (novamente) alguma coisa: que s� a justi�a, a toler�ncia, o respeito ao pr�ximo deveriam estar entre as cartas jogadas pelos homens. Mas lamentavelmente a condi��o humana muitas vezes prefere, necessita, considera imprescind�vel, colocar outras cartas em jogo.
At� em nome de Deus... �, Jerusal�m!
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