K�tia Abreu � senadora (PMDB-TO) e a principal l�der da bancada ruralista no Congresso. Formada em psicologia, preside a CNA (Confedera��o da Agricultura e Pecu�ria do Brasil).
Desmatamento eleitoreiro
Na C�pula do Clima em Nova York, nesta semana, foi anunciado com grande estardalha�o que o Brasil havia se recusado a aderir a um acordo mundial, visando � redu��o do desmatamento. N�o deixa de ser estranho, embora tenha se tornado usual, culpar o Brasil pelo desmatamento em geral, quando somos um dos pa�ses mais preservacionistas do planeta. Os que nos criticam n�o preservam l� o que querem preservar aqui.
O Brasil conserva 61% de suas vegeta��es e florestas nativas, chegando a mais de 80% na floresta amaz�nica. Nenhum pa�s ostenta tais �ndices, sobretudo os mais desenvolvidos, cujas ONGS se voltam contra n�s. Deveriam, isso sim, atuar em seus pa�ses-sede para que imitem o nosso pa�s.
Nosso pa�s tem um instituto que n�o tem similar no mundo: o da Reserva Legal. Toda propriedade, segundo o bioma em que estiver situada, deve conservar a sua vegeta��o nativa, mantendo a biodiversidade local. Apenas o manejo sustent�vel � permitido. Na Amaz�nia Legal, o �ndice de conserva��o via Reserva Legal � de 80% da propriedade, no cerrado, 35%, e, no restante do pa�s, 20%. S�o �ndices alt�ssimos.
Por que os pa�ses desenvolvidos n�o adotam a Reserva Legal com �ndices n�o inferiores a 20%? Seria uma quest�o m�nima de coer�ncia e honestidade, ou estamos diante da hipocrisia. Por que n�o vociferam contra o desmatamento em seus pr�prios territ�rios? A quais interesses respondem?
A lei tamb�m obriga os produtores rurais brasileiros a manter �reas de Preserva��o Permanente (APPs) no entorno de cursos d'�gua, entre outros locais, para proteger as nascentes. Mas quando a CNA lan�ou -com a Ag�ncia Nacional de �guas e a Embrapa- a proposta das APPs mundiais, para que outros pa�ses tamb�m adotassem essa pr�tica, durante o F�rum Mundial da �gua de 2012 em Marselha (Fran�a), n�o recebemos apoio de nenhuma ONG ligada �s causas ambientais.
Novamente a apresentei na Rio+20, a Confer�ncia das Na��es Unidas sobre Desenvolvimento Sustent�vel, e tamb�m n�o vi nenhuma ONG que a defendesse.
O contexto eleitoral est�, tamb�m, sendo a ocasi�o de confus�es generalizadas sobre o desmatamento e o pr�prio significado desta palavra. � uma esp�cie de �pio ambientalista.
H� um sentido pejorativo que foi atrelado � palavra desmatamento, como se ela significasse um ato volunt�rio e arbitr�rio de destrui��o da natureza. Embora isto possa ocorrer, sobretudo quando a propriedade n�o � assegurada, como acontece com os madeireiros ilegais na Amaz�nia, a realidade � bem outra. Se comemos, � porque a terra foi cultivada e n�o deixada � sua forma nativa.
A produ��o de alimentos n�o cai do c�u, mas � produto de um longo trabalho de cultivo da terra. Belas paisagens cultivadas s�o o resultado dessa transforma��o da natureza. O ser humano deve ser alimentado e os alimentos ser�o cada vez mais demandados no mundo.
A fome deve necessariamente reduzir, pois o esc�ndalo da pobreza n�o pode mais ser tolerado. A pr�pria FAO j� alertou o mundo sobre a urg�ncia dessa quest�o. A situa��o alimentar global n�o serve para contorcionismos ideol�gicos.
As terras ter�o de ser cultivadas com tecnologia para o aumento de produtividade para atender aos humanos, e o Brasil certamente ter� um papel de destaque neste processo, pois j� � um dos primeiros pa�ses produtores de alimentos e almeja a primeira posi��o.
A luta deve ser contra o desmatamento ilegal. Se um propriet�rio preserva al�m da Reserva Legal a qual � legalmente obrigado, lhe � facultado cultivar a terra excedente a essa obriga��o. � um direito seu, al�m de atender a uma demanda mundial por alimentos.
N�o podemos ser v�timas de um "desmatamento eleitoreiro", nem ref�ns de ONGS nacionais e internacionais, nem cair tampouco na armadilha de pa�ses que, para preservar os seus pr�prios interesses, se voltam contra n�s. Desmatam l� e querem a preserva��o aqui.
Logo, devemos reformular essa quest�o do "desmatamento". Somos sim contra o desmatamento ilegal e totalmente favor�veis a que os pa�ses desenvolvidos adotem os mesmos crit�rios brasileiros da Reserva Legal e da APP, exemplos para o mundo.
Livraria da Folha
- Cole��o "Cinema Policial" re�ne quatro filmes de grandes diretores
- Soci�logo discute transforma��es do s�culo 21 em "A Era do Imprevisto"
- Livro de escritora russa compila contos de fada assustadores; leia trecho
- Box de DVD re�ne dupla de cl�ssicos de Andrei Tark�vski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade