K�tia Abreu � senadora (PMDB-TO) e a principal l�der da bancada ruralista no Congresso. Formada em psicologia, preside a CNA (Confedera��o da Agricultura e Pecu�ria do Brasil).
As li��es de Carlos Lacerda
A escassez de lideran�as pol�ticas no Brasil, evocada com o tr�gico desaparecimento de Eduardo Campos, remete a uma reflex�o sobre nosso passado, em que talvez se encontrem algumas explica��es para tal fen�meno.
A verdade � que as grandes lideran�as pol�ticas nacionais, recentes e remotas, nem sempre desfrutaram em vida do prest�gio "post mortem". E isso porque a pol�tica, entre n�s, foi sempre, com maior ou menor intensidade, uma atividade malvista e difamada.
Nosso primeiro imperador, d. Pedro 1�, abdicou; seu sucessor, d. Pedro 2�, foi deposto e exilado em 24 horas. Nosso primeiro presidente da Rep�blica, marechal Deodoro da Fonseca, renunciou, e o primeiro presidente eleito, Prudente de Moras, foi v�tima de uma tentativa de assassinato.
Ruy Barbosa, "o maior dos brasileiros", foi acusado de ter roubado as estantes do Minist�rio da Fazenda, porque as de sua casa ostentavam as iniciais "RB", que se referiam obviamente �s iniciais de seu nome, mas que os advers�rios afirmavam significar "Rep�blica Brasileira", nome que o pa�s jamais teve.
Os exemplos n�o se esgotam a�, mas esses servem como mostru�rio. Todos os citados tiveram seus m�ritos reconhecidos pela posteridade, nem sempre pelos contempor�neos. � claro que tal ambiente, que s� se agravou, n�o encoraja o surgimento de novos talentos. As pessoas de bem n�o querem ser difamadas; as sem escr�pulos n�o se importam, desde que se mantenham longe dos tribunais –e pr�ximas do poder.
Em abril deste ano, registrou-se o centen�rio de nascimento de uma das maiores lideran�as republicanas –Carlos Lacerda. Sua presen�a, goste-se ou n�o, marcou quatro d�cadas de nossa pol�tica, sendo que pelo menos em duas como protagonista. Tinha ideias e n�o receava defend�-las, quer na imprensa, como um dos maiores jornalistas que o pa�s j� teve, quer no Parlamento, como um dos maiores tribunos que j� o integraram.
Tinha talento, coragem e voca��o –e pagou caro por isso. Entre seus pecados, n�o estava o de esconder o jogo. Iniciou-se na vida p�blica como esquerdista, seguindo a tradi��o do pai, Maur�cio de Lacerda, de quem herdou a voca��o e a natureza arrojada. Fez parte do PCB, do qual acabou saindo, em meio a acusa��es rec�procas. Tornou-se, na sequ�ncia, um liberal cat�lico, termo em desuso, j� que os cat�licos que hoje entram na pol�tica o fazem pela porta esquerda da Teologia da Liberta��o.
Foi pe�a-chave em dois momentos decisivos da pol�tica brasilei- ra no s�culo passado: no ocaso do governo Vargas, cujo suic�dio, em agosto de 1954, deu-se duas semanas depois de um atentado a bala que sofreu por parte de integran- tes da Guarda Pessoal da Presid�ncia; e na deposi��o de Jo�o Goulart, em 1964.
O golpe que apoiou acabaria por lhe encerrar abruptamente a carreira. Estava, como lembrou o jornalista Otavio Frias Filho em brilhante ensaio publicado na revista "Piau�", prestes a empalmar a Presid�ncia da Rep�blica, meta para a qual se preparara ao longo de toda a vida.
Mas Presid�ncia � destino. Lacerda, que havia passado com �xito pelo governo do Estado da Guanabara (� reconhecido, at� pelos advers�rios, como um dos melhores administradores que a cidade j� teve), tinha todas as credenciais para chegar ao topo –inclusive pol�- ticas, j� que as for�as que triunfaram em 1964 o tiveram como l�der e refer�ncia.
Mas seu talento e apetite pol�tico assustavam at� os aliados. As elei��es presidenciais de 1965, compromisso inicial dos militares, foram canceladas. Lacerda tornou-se novamente oposi��o. E n�o hesitou em procurar os antigos advers�rios –Jango e Juscelino– para articular uma Frente Ampla contra a ditadura. Foi cassado em 1968, aos 54 anos, preso e banido da vida p�blica pelo AI-5, proibido at� de escrever em jornais.
Abominava o r�tulo "pa�s do futuro"; queria cumpri-lo no presente, e a pol�tica era –e �– a �nica via. Fica de sua mem�ria esta li��o: o Brasil precisa romper o falso paradigma de que pol�tica � sin�nimo de podrid�o, o que s� favorece os maus pol�ticos –e impede que voca��es leg�timas como a de Lacerda voltem a habitar a vida p�blica.
Livraria da Folha
- Cole��o "Cinema Policial" re�ne quatro filmes de grandes diretores
- Soci�logo discute transforma��es do s�culo 21 em "A Era do Imprevisto"
- Livro de escritora russa compila contos de fada assustadores; leia trecho
- Box de DVD re�ne dupla de cl�ssicos de Andrei Tark�vski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade