K�tia Abreu � senadora (PMDB-TO) e a principal l�der da bancada ruralista no Congresso. Formada em psicologia, preside a CNA (Confedera��o da Agricultura e Pecu�ria do Brasil).
Desconhecimento ou m�-f�?
No come�o desta semana, em semin�rio promovido pela Folha, tive a oportunidade de ouvir, ao vivo, um dirigente de uma ONG ambiental que foi o segundo na hierarquia do Minist�rio do Meio Ambiente quando Marina Silva era ministra do governo Lula. Ele exp�s sua vis�o –que � tamb�m a de seu grupo de fi�is– sobre os males do agroneg�cio para o nosso pa�s.
Embora todas as pessoas livres para pensar reconhe�am que o agroneg�cio � o maior feito da nossa economia nos �ltimos 50 anos, experimentei, por alguns segundos, a sensa��o de que a moderna agropecu�ria brasileira foi um erro.
Felizmente, essa sensa��o durou pouco. Quando ele passou a desenvolver seus argumentos, percebi logo o tamanho de seus equ�vocos e, mais uma vez, perguntei-me, sem ainda encontrar a resposta, por que essas pessoas nos repudiam tanto.
Da longa lista de acusa��es, s� tenho espa�o para contradizer algumas. A primeira delas � que a agricultura brasileira � a maior consumidora de agroqu�micos do mundo. Dito assim, parece grave. Mas vamos aos fatos.
O Brasil � o terceiro maior produtor agr�cola do mundo, atr�s apenas dos Estados Unidos e da China. Mas ocorre que a agricultura americana e grande parte da chinesa situam-se nas latitudes temperadas, e a nossa � a maior agricultura tropical do planeta.
Qualquer leigo percebe que, nos tr�picos, o calor, a umidade e a menor diferencia��o das esta��es s�o muito mais prop�cias aos insetos e aos diversos agentes patog�nicos do que as zonas temperadas.
Assim, se quisermos produzir aqui, temos que conviver com pragas e doen�as, combatendo-as com os agentes criados pela tecnologia e certificados pelos �rg�os sanit�rios do mundo e do Brasil.
O caminho mais eficiente para a redu��o do uso de defensivos qu�micos � a utiliza��o de sementes geneticamente modificadas que repelem os agentes patog�nicos e dispensam os agroqu�micos.
Mas o avan�o da transgenia entre n�s quase foi paralisado na gest�o desse dirigente no Minist�rio do Meio Ambiente. Para ele, o �nico caminho parece ser n�o produzir e importar da Europa, matriz dessa esp�cie de ambientalismo.
A acusa��o seguinte � a de que a produ��o rural brasileira � respons�vel por 62% das emiss�es dos gases de efeito estufa em nosso pa�s.
Se isso fosse verdade, a solu��o seria simples. Bastaria reconverter os campos de milho, soja, arroz e feij�o, bem como as pastagens, novamente em cerrado ou mato. E, mais uma vez, importar alimentos do resto do mundo. Era o que faz�amos nas d�cadas de 1940 a 1970, e a experi�ncia n�o foi boa.
Quanto �s verdadeiras emiss�es, as provenientes do uso dominante de combust�veis f�sseis em nossa matriz energ�tica, nenhuma palavra. Todos os males v�m do agroneg�cio. Mas n�o � o que pensa o mundo atualmente.
O sum�rio para formula��o de pol�ticas p�blicas do IPCC –o painel cient�fico intergovernamental da ONU sobre mudan�as clim�ticas– diz com todas as letras que, no caminho para mitiga��o de longo prazo do aquecimento do clima, a alternativa mais eficaz � a descarboniza��o da energia ou a redu��o da intensidade de carbono em cada megawatt-hora gerado.
O relat�rio dos cientistas esclarece que 80% das emiss�es de gases-estufa prov�m da produ��o de energia, tornando claro que as emiss�es derivadas da agricultura e
da pecu�ria n�o t�m relev�ncia objetiva. E � nessa dire��o que v�o caminhar os governos, inclusive o brasileiro.
Eu poderia me estender longamente, mas o espa�o � breve. Para essas pessoas, tudo o que fazemos est� errado. Dizem que usamos fertilizantes demais, esquecendo-se de que, se n�o adubamos nossos solos pobres do cerrado, n�o vamos produzir quase nada.
Usamos �gua demais, quando quase toda a nossa produ��o usa apenas a �gua das chuvas, pois apenas 8% da produ��o brasileira � irrigada com sistemas artificiais.
Isso tudo pode parecer uma mera discuss�o pol�tica. Mas � mais do que isso porque, durante um certo tempo, essas pessoas estiveram no poder. E provocaram todas as formas de inseguran�a jur�dica e preju�zos � imagem da agropecu�ria brasileira.
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