K�tia Abreu � senadora (PMDB-TO) e a principal l�der da bancada ruralista no Congresso. Formada em psicologia, preside a CNA (Confedera��o da Agricultura e Pecu�ria do Brasil).
Os novos fantasmas ambientais
Os desafios da mudan�a clim�tica t�m ensejado mais palpites e paranoias que resultados concretos, desde que o tema passou a constar na agenda ambiental das Na��es Unidas.
Para abord�-lo, a ONU criou o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudan�a do Clima), que se re�ne a cada sete anos. A reuni�o mais recente foi em 2007. Neste ano, portanto, teremos outra, que j� mobiliza especialistas em todo o mundo.
Nos preparativos para o encontro, tem-se a pr�via do que o mobilizar�. Como de costume –e por falta de conhecimento concreto do tema, ainda um mist�rio para a ci�ncia–, o ambiente � de tiroteio no escuro: a emo��o sobrepondo-se � objetividade, os interesses comerciais por tr�s de falsos temores.
No encontro passado, por exemplo, previu-se violento derretimento do gelo do Himalaia, com consequ�ncias apocal�pticas que n�o se efetivaram. Como profetas, os cientistas ambientais t�m fracassado, o que n�o lhes reduz o �nimo advinhat�rio.
O tema da vez –ou por outra, o fantasma da vez– � o biocombust�vel, com destaque para o est�gio denominado "Introdu��o n�o t�cnica do documento preliminar". Parte do princ�pio de que a tecnologia do campo teve desenvolvimento mais veloz que o amadurecimento do conhecimento urbano, tamb�m chamado de "conhecimento n�o agr�cola".
Pela nomenclatura adotada, percebe-se a confus�o conceitual que a permeia. O intervalo de sete anos entre cada reuni�o tem, entre outros objetivos, o de permitir um dom�nio cada vez maior da quest�o. Mas o que se percebe � que tal n�o ocorre. Os protocolos cient�ficos merecedores de cr�dito, quando os h�, s�o escassos e limitados. Em compensa��o, abundam os palpites.
Fala-se agora que danos residuais ligados a eventos naturais extremos podem ocorrer em diferentes partes do planeta na segunda metade deste s�culo, mesmo havendo corte substancial de emiss�es de gases de efeito estufa nos pr�ximos anos. Anuncia-se assim mais uma fatalidade, que, como tal, deveria reunir m�sticos e religiosos, em vez de cientistas.
N�o havendo nada a fazer, reza-se.
N�o � s�: o chamado "Sum�rio para os formuladores de pol�ticas" analisa (como se os conhecesse) impacto, adapta��o e vulnerabilidade do planeta mediante as mudan�as clim�ticas.
Aponta ainda –sem o demonstrar– que a popula��o pobre, principalmente de pa�ses tropicais como o Brasil, ser� a mais afetada por situa��es de seca e inunda��o, com risco de inseguran�a alimentar, caso n�o haja planejamento para adaptar culturas agr�colas �s poss�veis realidades.
Eis a�, s� para n�o variar, o ponto: o agroneg�cio brasileiro. Ignora-se a atual legisla��o ambiental –o C�digo Florestal, o mais rigoroso do planeta– para difundir o pavor diante de consequ�ncias hipot�ticas cujas causas n�o est�o presentes.
Vejam o racioc�nio: teme-se que os pecuaristas brasileiros vendam suas terras e saiam em busca de "florestas de baixo custo" para transform�-las em pastagens para animais.
O racioc�nio, prim�rio e mal-intencionado, criminaliza previamente a conduta do produtor rural, j� que, para que a profecia se cumpra –a degrada��o de florestas–, seria preciso que se infringisse a lei, que pro�be desmatar sem licenciamento, mesmo em �reas nas quais o desmatamento � pass�vel de autoriza��o.
O biocombust�vel, alvo da falsa ira ambiental, n�o � um produto especulativo nem um modismo –muito menos um produto ornamental. Trata-se de uma conquista da tecnologia do agroneg�cio brasileiro, desenvolvida com o pleno envolvimento do produtor rural, cuja abund�ncia, bem ao contr�rio do que se propaga, � aliada da causa ambiental: diminui e at� mesmo retira do mercado os potentes poluidores de origem f�ssil.
Os representantes brasileiros no IPCC n�o podem embarcar nessa canoa furada, permitindo que sofismas de tal ordem, calcados em inconfess�veis interesses comerciais, triunfem.
Estamos, mais uma vez, diante das duas cl�ssicas oposi��es ao desenvolvimento rural brasileiro: de um lado, os que desde sempre s�o contra, n�o importam os motivos (sobretudo quando inexistem); de outro, os que temem a competi��o.
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