� rep�rter especial. Na Folha desde 1992, foi rep�rter, editor, correspondente, secret�rio de Reda��o e diretor da Sucursal de Bras�lia. Escreve �s quartas.
Confus�o nos EUA amea�a adiantar ponteiros do Rel�gio do Apocalipse
Elaine Thompson - 29.jan.2017/Associated Press | ||
Bonecos de Putin e Trump durante protesto contra a pol�tica migrat�ria do americano, em Seattle (EUA) |
A barafunda na qual se transformou a �rea de seguran�a do governo Donald Trump � assunto de primeira grandeza. Acostumados a um fim de mundo por semana, ao menos desde 2013, os brasileiros deveriam prestar aten��o ao risco de alguma coisa sair do reino das met�foras.
Obviamente, isso ainda � um exagero ret�rico, ainda que a renomada Federa��o de Cientistas Americanos n�o ache e tenha adiantado recentemente os ponteiros do not�rio Rel�gio do Apocalipse para o segundo n�vel mais pr�ximo da aniquila��o global desde sua cria��o, h� 70 anos.
Os eventos da ter�a (14), com a queda conselheiro de Seguran�a Nacional Michael Flynn e o vazamento acusando a R�ssia de romper um importante tratado de controle de armas, d�o tons algo dram�ticos � narrativa deste come�o de governo Trump.
O problema central � definir qual a rela��o dele com a R�ssia. Propalada como potencialmente boa, dada a empatia m�tua, at� aqui o que houve foram sinais trocados.
Flynn claramente se sentiu autorizado a insinuar o fim das san��es que EUA aplicam a Moscou devido � guerra na Ucr�nia, objeto das conversas com o embaixador russo que levaram � sua queda. Seria sua eletrocuss�o pol�tica uma tentativa de esterilizar a cadeia de comando de suas ordens?
Ao mesmo tempo, o vazamento sobre a suposta ativa��o de dois batalh�es de m�sseis de cruzeiro pelo Kremlin proscritos caiu sob medida para jogar Trump contra a parede, obrigando uma tomada de posi��o mais dura. Ele vai tuitar que s�o "fake news"? Ou piscar�?
A dupla de secret�rios Rex Tillerson (Estado) e Jim Mattis (Defesa) vinha jogando no campo oposto ao de Flynn, defendendo em p�blico as san��es. N�o � poss�vel comprar isso pelo valor de face, mas eles s�o vencedores no embate interno at� aqui.
� tarefa �rdua ler a resultante disso nos planos russos de Trump. Seu candidato a Rasputin, o estrategista-chefe Stephen Bannon, � visto como entusiasta de uma alian�a com Moscou, talvez entregando a Ucr�nia no processo. Mas o faz pregando a uni�o entre crist�os contra o que considera a amea�a mu�ulmana, algo que o presidente Vladimir Putin n�o pode aceitar por abrigar uma grande popula��o aderente ao Isl� em suas terras.
Mas Bannon tamb�m � o sujeito que faz predi��es apocal�pticas sobre convuls�o mundial e quebra intencional de sistemas, o que n�o o faz exatamente o parceiro mais confi�vel.
Putin � avesso a revolu��es, vacinado que � pelas vers�es "coloridas" incentivadas pelo Ocidente nos antigos aliados sob o manto sovi�tico. Segundo dois analistas russos ouvidos pela Folha, � cada vez maior o ceticismo no Kremlin em rela��o �s perspectivas de vantagens na rela��o bilateral com os EUA sob Trump devido a essa instabilidade.
Exceto que secretamente joguem juntos e sejam uma vers�o p�s-verdade da Besta e do Falso Profeta, para ficar na simbologia do fim dos tempos, a desconfian�a pode dominar a rela��o entre os dois l�deres.
Todo esse caldo vem incentivando alarmismo, em especial nos EUA. O analista conservador Robert Kagan, que rompeu com o Partido Republicano depois da escolha de Trump como candidato ano passado, escreveu recentemente artigo em que discutia abertamente o risco de uma Terceira Guerra Mundial -na qual inclu�a a China como advers�ria americana tamb�m.
A exist�ncia de um Bannon e a atabalhoada cena de Trump debatendo num de seus restaurantes de luxo o lan�amento de um m�ssil norte-coreano n�o justifica tal leitura extrema, mas deixa o observador com o p� atr�s.
Afinal de contas, apenas EUA e R�ssia podem nos reduzir a p�, sendo donos de 93% dos arsenais nucleares do mundo. Mesmo um conflito convencional por procura��o com algum aliado do Ocidente j� serviria para trazer o caos � ordem econ�mica mundial.
Anos de destrui��o m�tua assegurada, cujo acr�nimo em ingl�s era "louco", nos deram certeza de que nada disso era poss�vel. Mas Putin j� demonstrou aud�cia militar em suas a��es na Ge�rgia, Ucr�nia e S�ria, um Trump sob press�o e a amea�a da ascens�o de uma pol�tica contr�ria ao Kremlin nos EUA pode estimular novos testes.
Igualmente, dado que a n�voa domina o cen�rio, o americano pode reagir ao enquadramento que vem recebendo do "establishment" dom�stico de forma imprevis�vel.
De uma forma ou de outra, nada disso � salutar para quem torce pelo retrocesso nos ponteiros do Rel�gio do Apocalipse, ora estacionados nos dois minutos e meio para a fat�dica meia-noite.
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