Formado em filosofia pela USP, � membro da coordena��o nacional do MTST e da Frente de Resist�ncia Urbana.
O rottweiler virou poodle
Nem sequer Michel Temer foi efetivado como presidente da Rep�blica, mas sua interinidade j� foi o suficiente para ocasionar curiosas metamorfoses no comportamento de muita gente, at� mesmo no reino animal.
Reinaldo Azevedo, guru da direita delirante, tornou-se conhecido por ataques raivosos, cheios de ran�o e improp�rios, contra o governo petista. Isso lhe rendeu o apelido de "rottweiler". Pouco rigoroso, � verdade, j� que dos rottweilers Reinaldo possui apenas a raiva, deixando de lado a for�a e coragem.
Agora, tr�s meses passados do afastamento de Dilma Rousseff, nem a raiva ficou. � dif�cil encontrar em seus textos uma s� cr�tica ao governo do interino. A agressividade de outrora deu lugar � bajula��o. Temer domesticou o "rottweiller".
Logo no primeiro dia, Reinaldo derreteu-se ante o fraqu�ssimo discurso inicial do vice, qualificando-o de "impec�vel na forma e no conte�do" e dizendo sentir-se, depois de muito tempo, perante uma autoridade que inspirava respeito por encarnar os "bons valores da institucionalidade". Comovente. Chegou a encantar-se at� mesmo com as mes�clises.
Ueslei Marcelino - 14.jul.2016/Reuters | ||
O presidente interino, Michel Temer, em evento no Pal�cio do Planalto |
A vergonha alheia seguiu seu rumo. Veio o primeiro esc�ndalo do governo interino Michel Temer, com as grava��es de S�rgio Machado. Nelas, o ent�o ministro Romero Juc� relaciona sem rodeios o impeachment a um pacto para barrar a Lava Jato. O mesmo Machado, pouco depois, confessou em dela��o ter repassado R$ 10 milh�es em caixa dois para o PMDB a pedido do pr�prio Michel Temer.
Foi a� que o "rottweiller" perdeu de uma s� vez os dentes e a vergonha. Contemporizou. Ele disse que n�o havia nada de relevante na fala de Juc�. Tentando manter algum resqu�cio de dignidade, defendeu que Temer o demitisse por raz�es "pol�ticas", n�o "legais".
J� em rela��o aos R$ 10 milh�es foi al�m, alegando que n�o h� nenhuma refer�ncia � origem il�cita do dinheiro e que "n�o h� como acusar o presidente de coisa nenhuma". Claro, Madre Temer de Calcut� se encontrou com um diretor de estatal e conhecido operador de propinas, num galp�o de aeroporto, para tratar de doa��es legais e outros assuntos republicanos. Triste de se ver.
Mas a convers�o de Reinaldo Azevedo � retrato de uma hipocrisia maior. A cobertura de boa parte da imprensa tornou-se subitamente mais "compreensiva", restituindo na opini�o p�blica o que Celso Rocha de Barros, colunista da Folha, definiu como o benef�cio da d�vida em favor de Michel Temer.
As panelas tamb�m reencontraram seu lugar no arm�rio. Silenciosas nos sucessivos esc�ndalos que derrubaram tr�s ministros. Silenciosas tamb�m nas manobras gritantes de Eduardo Cunha para evitar a cassa��o e a pris�o, at� aqui vitoriosas. Elas n�o s�o mais necess�rias. Nem os paneleiros. Nem as marchas c�vicas na avenida Paulista. N�o por acaso seus verdadeiros art�fices abandonaram-nas � pr�pria sorte, resultando no fiasco do �ltimo dia 31, a despeito de alguns garotos que acreditaram estar fazendo hist�ria.
Reinaldo Azevedo � retrato desta indig�ncia moral. Mas tamb�m pode, ironicamente, tornar-se sua v�tima. Se confirmado o afastamento de Dilma, seu of�cio perde o sentido. Seu nicho de mercado diminuir� na mesma propor��o que sua fun��o social. Tende a tornar-se t�o descart�vel quanto Cunha, os meninos do MBL (Movimento Brasil Livre) e as panelas.
Como sinal dos tempos, o seman�rio que o emprega j� botou na rua dois da mesma turma, Rodrigo Constantino e Marco Ant�nio Villa. No desespero, � de se esperar que Reinaldo procure novos alvos e carregue no tom de baixaria sensacionalista, mas apenas para esconder a bajula��o servil. O "rottweiler" virou poodle.
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