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Nascido na It�lia, veio ainda crian�a para o Brasil, onde fez sua carreira jornal�stica. Recebeu o pr�mio de melhor ensaio da ABL em 2003 por 'As Ilus�es Armadas'. Escreve �s quartas-feiras e domingos.
H� dez anos, o juiz Moro disse tudo
O juiz Sergio Moro, que conduz o processo das petrorroubalheiras, fala pouco e n�o polemiza para fora. O que ele est� fazendo, todo mundo sabe.
O que ele quer fazer, e como quer fazer, parece uma quest�o aberta. Em 2004 Moro publicou um artigo intitulado "Considera��es sobre a Opera��o Mani Pulite" na revista da revista CEJ, do Conselho da Justi�a Federal. Est� tudo l�.
A "Opera��o M�os Limpas" italiana foi uma das maiores faxinas ocorridas na Europa. Come�ou em 1992, com a investiga��o de um gatuno banal.
A magistratura, o Minist�rio P�blico e a pol�cia puxaram os fios da meada, investigaram 6.000 pessoas e expediram 3.000 mandados de pris�o. Ca�ram na rede 872 empres�rios (muitos deles ligados � petroleira estatal) e 438 parlamentares.
O servi�o provocou a queda e o ex�lio volunt�rio do primeiro-ministro Bettino Craxi. Ele dissera o seguinte: "Todo mundo sabe que a maior parte do financiamento da pol�tica � irregular ou ilegal". (Craxi morreu anos depois, na Tun�sia.) A faxina destruiu a m�stica dos dois grandes partidos do pa�s, o Socialista e a Democracia Crist�.
Eles dominavam a It�lia desde o fim da Segunda Guerra. Passados dois anos, minguaram. O PS teve 2,2% dos votos, e a DC, 11,1%.
A corrup��o pol�tica italiana assemelhava-se bastante � brasileira na amplitude, na naturalidade com que era praticada e at� mesmo na aura protetora e fatalista que parecia torn�-la invulner�vel.
No seu artigo, Moro mostra como a implos�o da m�quina de pol�ticos, administradores e empres�rios levou � "deslegitimiza��o" de um sistema corrupto: "As investiga��es judiciais dos crimes contra a administra��o p�blica espalharam-se como fogo selvagem, desnudando inclusive a compra e venda de votos e as rela��es org�nicas entre certos pol�ticos e o crime organizado".
O Moro de 2004 diz mais: "� ingenuidade pensar que processos criminais eficazes contra figuras poderosas, como autoridades governamentais ou empres�rios, possam ser conduzidos normalmente, sem rea��es. Um Judici�rio independente, tanto de press�es externas como internas, � condi��o necess�ria para suportar a��es dessa esp�cie. Entretanto, a opini�o p�blica, como ilustra o exemplo italiano, � tamb�m essencial para o �xito da a��o judicial."
Os ju�zes: "Uma nova gera��o dos assim chamados 'giudici ragazzini' (jovens ju�zes), sem qualquer senso de defer�ncia em rela��o ao poder pol�tico (e, ao inv�s, consciente do n�vel de alian�a entre os pol�ticos e o crime organizado), iniciou uma s�rie de investiga��es sobre a m� conduta administrativa e pol�tica".
A rua: "Assim como a educa��o de massa abriu o caminho �s universidades para as classes baixas, o ciclo de protesto do final da d�cada de 60 influenciou as atitudes pol�ticas de uma gera��o".
"Talvez a li��o mais importante de todo o epis�dio seja a de que a a��o judicial contra a corrup��o s� se mostra eficaz com o apoio da democracia. � esta quem define os limites e as possibilidades da a��o judicial. Enquanto ela contar com o apoio da opini�o p�blica, tem condi��es de avan�ar e apresentar bons resultados."
As malas: "A corrup��o envolve quem paga e quem recebe. Se eles se calarem, n�o vamos descobrir, jamais."
As confiss�es: "A estrat�gia de investiga��o adotada desde o in�cio do inqu�rito submetia os suspeitos � press�o de tomar decis�o quanto a confessar, espalhando a suspeita de que outros j� teriam confessado e levantando a perspectiva de perman�ncia na pris�o pelo menos pelo per�odo da cust�dia preventiva no caso da manuten��o do sil�ncio ou, vice-versa, de soltura imediata no caso de uma confiss�o."
A imprensa: "As pris�es, confiss�es e a publicidade conferida �s informa��es obtidas geraram um c�rculo virtuoso, consistindo na �nica explica��o poss�vel para a magnitude dos resultados obtidos pela opera��o mani pulite."
Servi�o: o artigo de Moro est� na rede. N�o tem juridiqu�s.
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