'Um l�der deve ter toler�ncia zero com viol�ncia contra mulher', diz ONU
UN Women Bruno Spada | ||
Representante critica Eduardo Paes por apoiar sucessor acusado de cometer viol�ncia contra esposa |
"Todos os l�deres devem ter toler�ncia zero com a viol�ncia contra a mulher", disse nesta quinta-feira (19) a diretora-executiva da ONU Mulheres, Phumzile Mlambo-Ngcuka.
Foi a resposta dela ao ser questionada sobre o que diria ao prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, que indicou como candidato a suced�-lo um homem acusado de ter agredido sua ex-mulher em mais de uma ocasi�o.
O atual secret�rio de Governo do Rio e pr�-candidato � prefeitura, Pedro Paulo Carvalho, reconheceu ter batido em sua mulher em 2010, mas disse primeiramente que isso havia sido um caso isolado e que ambos haviam se agredido.
O boletim de ocorr�ncia registrado na �poca por sua ent�o esposa, Alexandra Mendes Marcondes, registra que ele chegou a quebrar um de seus dentes. Depois, a imprensa brasileira revelou um outro epis�dio em que Pedro Paulo agrediu a mulher em 2008. Paes tem dito que isso � uma "quest�o da vida privada" do pr�-candidato e que ele seria a melhor pessoa para governar o Rio.
Agencia Brasil | ||
Pedro Paulo Carvalho ser� o candidato de Eduardo Paes � prefeitura em 2016 |
"Se l�deres s�o tolerantes com a viol�ncia contra a mulher, isso manda uma mensagem muito ruim para a sociedade. Um dos importantes ingredientes no sucesso da queda da viol�ncia contra as mulheres � uma lideran�a forte, que n�o envie mensagens d�bias, que tenha toler�ncia zero", disse Mlambo-Ngcuka, sucessora da atual presidente do Chile, Michelle Bachelet, na diretoria da ONU Mulheres.
Ela � sul-africana e foi vice-presidente de seu pa�s entre 2005 e 2008. Tamb�m atuou no governo de Nelson Mandela (1994-1999), como vice-ministra de Com�rcio e Ind�stria. Mlambo-Ngcuka veio ao Brasil para uma visita de dois dias e na quinta-feira participou da Marcha das Mulheres Negras, que reuniu 15 mil manifestantes em Bras�lia.
Sua visita busca dar visibilidade para a campanha da ONU "16 dias de ativismo contra a viol�ncia de g�nero", que come�a oficialmente em 25 de novembro (Dia Mundial para Erradica��o da Viol�ncia contra a Mulher) e termina em 10 de dezembro (Dia Mundial dos Direitos Humanos).
Mlambo-Ngcuka tamb�m criticou a proposta do presidente da C�mara, Eduardo Cunha, de modificar as regras de aborto legal no pa�s. Ele apresentou um projeto de lei buscando tornar obrigat�rio que gr�vidas v�timas de estupro fa�am uma queixa na delegacia e se submetam a um exame de corpo de delito para que comprovem terem sofrido abuso sexual, antes de ter o aborto autorizado.
"Isso � uma viola��o dos direitos das mulheres. E, se n�o h� servi�os legais que sejam seguros, voc� empurra para que isso aconte�a clandestinamente. E (assim) voc� est� colocando a vida das mulheres em risco", afirmou.
Confirma abaixo a entrevista.
Agencia Brasil | ||
Marcha das Mulheres Negras aconteceu na quarta-feira em Bras�lia |
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BBC Brasil - O assassinato de mulheres negras no Brasil cresceu 54% entre 2003 e 2013. As mulheres negras recebem os menores sal�rios no pa�s. Como foi participar da marcha em Bras�lia?
Phumzile Mlambo-Ngcuka - Eu estou muito orgulhosa das mulheres que organizam esse tipo de marcha, porque isso torna os problemas vis�veis e garante a mobiliza��o de mais mulheres para apoiar umas as outras. � tamb�m importante porque neste ano come�a a D�cada dos Afrodescendentes (promovida pela ONU sob o lema "reconhecimento, justi�a e desenvolvimento").
Isso significa que as mulheres est�o come�ando a desenvolver suas pr�prias estruturas para que possam fazer suas demandas - e fazerem unidas. � muito importante que estejam unidas, pois isso torna sua voz mais alta e mais forte do que se estivessem falando sozinhas. Ent�o, foi um excelente movimento.
No pr�ximo ano o Brasil realiza elei��es municipais. O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, est� apoiando um candidato acusado de agredir sua ex-mulher em mais de uma ocasi�o, quando eram casados. Em resposta �s cr�ticas, Paes disse que isso � uma quest�o da vida privada de Pedro Paulo, seu candidato, e que ele � a melhor pessoa para suced�-lo. O que a senhora teria a dizer a Paes?
Todos os l�deres devem ter zero toler�ncia com a viol�ncia contra a mulher. Se l�deres s�o tolerantes com a viol�ncia contra a mulher, isso manda uma mensagem muito ruim para a sociedade.
Um dos importantes ingredientes no sucesso da queda da viol�ncia contra as mulheres � uma lideran�a forte, que n�o envie mensagens d�bias, que tenha toler�ncia zero. Isso � muito importante. Voc� n�o consegue ter as duas coisas (toler�ncia e redu��o da viol�ncia).
Grupos conservadores no Brasil se op�em � discuss�o de quest�es de g�nero nas escolas do pa�s. Qual o papel da educa��o no combate a viol�ncia de g�nero?
Educa��o tem que fazer parte disso, porque educa��o � parte do problema. Parte da raz�o porque temos tanta viol�ncia contra as mulheres e desigualdade (de g�nero) � porque �s vezes temos professores que s�o sexistas, que abusam dos seus pr�prios alunos. E o sistema educacional n�o educa as crian�as, tanto meninos como meninas, para valorizar a igualdade. A educa��o tem que ser parte da solu��o.
Agencia Brasil | ||
Diretora da ONU Mulheres com a presidente Dilma Rousseff |
Outra quest�o pol�mica no pa�s � a proposta do presidente da C�mara, Eduardo Cunha, para modificar as regras de aborto no pa�s em casos de gravidez resultante de estupro. Se a lei for aprovada, vai na pr�tica dificultar o aborto nesses casos.
Isso � uma viola��o dos direitos das mulheres. E, se n�o h� servi�os legais que sejam seguros, voc� empurra para que isso aconte�a clandestinamente, no subterr�neo. E quando isso ocorre voc� est� colocando a vida das mulheres em risco, voc� est� aumentando as viola��es contra mulheres.
Ent�o, de novo, � uma contradi��o para pessoas que s�o representantes p�blicos, eleitos para garantir um bom ambiente legal, criar situa��es que v�o negar �s mulheres seus pr�prios direitos. Definitivamente, n�o � a coisa certa a se fazer.
Cunha justifica essa proposta dizendo que o aborto � interesse de pa�ses supercapitalistas, que promovem esse procedimento nos pa�ses em desenvolvimento para diminuir o crescimento populacional no mundo. Qual sua avalia��o sobre essa tese?
N�o, por favor, acho que isso nem merece ser respondido. Isso � totalmente errado.
H� uma campanha importante acontecendo no pa�s em que mulheres compartilham nas redes sociais casos de ass�dio usando a hashtag #PrimeiroAss�dio. Qual a import�ncia de compartilhar publicamente casos de abuso?
Excelente campanha, eu gosto disso. � importante compartilhar (essas hist�rias) porque voc� gera informa��o; voc� fornece, especialmente na m�dia, oportunidade para pessoas (revelarem casos de abuso), que de outra forma teriam medo de relatar suas hist�rias, permitindo que as autoridades se deem conta de qu�o grande � o problema.
Porque algumas pessoas jamais iriam reportar (oficialmente), mas compartilham nas redes sociais. E est�o tamb�m aproveitando todo o potencial de um tipo de m�dia que muitas pessoas jovens usam. Para os jovens isso � muito importante.
H� outra campanha no Brasil contra o h�bito de homens dizerem coisas constrangedoras para mulheres em espa�os p�blicos, o que � visto como uma "cantada" (a "Chega de fiu-fiu"). Mas algumas pessoas criticam essa campanha dizendo que isso n�o � um problema s�rio e que dev�amos estar preocupados com coisas mais graves, como o assassinato de mulheres.
Isso � um problema grave porque essas pessoas que fazem essas coisas em espa�o p�blico, se nada acontece com elas, saem ilesas e evoluem para a pr�xima forma de ass�dio, at� fazerem coisas piores e piores.
E por qu�? Eles fazem isso porque eles podem, porque n�o h� consequ�ncias. E mulheres merecem sua privacidade em locais p�blicos. N�s temos um programa na ONU Mulheres chamado "Cidades Seguras". E parte do que estamos fazendo � tornar lugares p�blicos mais seguros para que mulheres possam ter uma vida livre de ass�dio.
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