Megagarimpo ilegal provoca 'febre do ouro' e divide �ndios no Par�
Do alto, � dif�cil acreditar que um garimpo t�o grande atue na ilegalidade: no meio da floresta densa, abre-se uma chaga de centenas de metros de terra exposta e �gua empo�ada, em plena terra ind�gena mundurucu.
Na �ltima ter�a-feira (5), seguindo den�ncia das principais lideran�as mundurucus, o megagarimpo foi alvo de uma opera��o do GEF (Grupo Especializado de Fiscaliza��o), a unidade de elite do Ibama. A Folha acompanhou a a��o.
Ap�s viagem de 200 km desde a cidade Novo Progresso (PA), os tr�s helic�pteros da miss�o aterrissaram ao lado do igarap� �gua Branca, que, sem a prote��o da floresta, se transformou num jorro barrento cruzando a terra est�ril.
Seis agentes portando armas longas foram escalados para a a��o, em regi�o considerada de alto risco. No ano passado, um PM que dava apoio ao Ibama foi morto por um garimpeiro. Em 2012, a PF matou um mundurucu durante a tomada de um garimpo ilegal.
O objetivo era destruir o maquin�rio, autuar infratores e levantar informa��es sobre os donos do garimpo, mas um incidente com um mundurucu fez com que a miss�o fosse interrompida ap�s meia hora no solo.
Ao ver uma escavadeira, avaliada em cerca de R$ 500 mil, sendo incendiada, um �ndio avan�ou sobre um dos agentes, que usou spray de pimenta para par�-lo. Ap�s desconfiarem que a situa��o sairia do controle, foi dada a ordem de retirada.
Os agentes estavam em ampla desvantagem num�rica. No garimpo, h� uma currutela (vila) de pelo menos 50 barracos –o local, que ocupa cerca de 400 hectares, segundo imagens de sat�lite, e disp�e at� de pista de avi�o e de internet sem fio.
Apesar do pouco tempo no ch�o, o Ibama conseguiu apreender atas de reuni�o, informes e recibos de pagamento em ouro dos garimpeiros para a Associa��o Pusuru, de mundurucus da regi�o.
No documentos obtidos, aparecem carimbos com CNPJ e assinatura dos coordenadores da organiza��o, com sede em Jacareacanga (a 1.190 km a sudoeste de Bel�m, em linha reta).
Ao Ibama, o garimpeiro Jos� Barroso de Lima, 60, dono de uma escavadeira, explicou que est� no local h� dois anos, ap�s acordo com lideran�as locais mundurucus pelo qual entrega 10% do ouro produzido –2% para a associa��o e 8% para uma das aldeias pr�ximas.
DIVIS�ES INTERNAS
A corrida do ouro tem criado tens�o entre os mundurucus, etnia de 12 mil pessoas conhecida por protestos ousados, como a tomada por uma semana do canteiro de obras da usina Belo Monte, em 2013.
Principal lideran�a da etnia, o cacique geral, Arnaldo Kab�, protocolou ou apoiou den�ncias de atividade garimpeira em terra ind�gena � Funai, ao Minist�rio P�blico e ao Ibama.
No ano passado, ele foi ao local pessoalmente, mas a reuni�o n�o teve resultado: "Fiquei triste porque o meu povo est� com ideia t�o diferente. Cacique pega ouro, mas n�o sei se est� fazendo alguma coisa pela comunidade", disse � Folha, por telefone.
"A popula��o est� sofrendo muito com os garimpeiros brancos. A �gua est� muito suja, muita tristeza, traz merc�rio, mal�ria, diarreia", completou.
Embora em minoria, o envolvimento dos mundurucus � significativo. Apenas no garimpo �gua Branca, 22 aldeias recebem pagamento em ouro, de um total de 123.
O n�mero de aldeias participantes foi dado por Waldelirio Manhuary, uma das principais lideran�as da associa��o Pusuru. Ele afirma que a cobran�a do percentual � um direito pelo dano e afirmou que as lideran�as contr�rias ao garimpo n�o s�o representativas.
Por telefone, Manhuary afirmou que h� no local dez escavadeiras e 19 m�quinas para garimpo, usadas para lavagem do solo. Dessas, duas escavadeiras e oito m�quinas pertencem aos mundurucus.
"N�o somos bandidos. Ladr�es s�o os de colarinho branco, os congressistas", afirmou.
Respons�vel pela fiscaliza��o do sudoeste do Par�, a gerente executiva do Ibama em Santar�m, Maria Luiza de Souza, afirma que, ao poluir os rios, o garimpo traz mortalidade de peixes e doen�as para as comunidades ind�genas, que em troca recebem um percentual muito pequeno da riqueza produzida.
"N�o h� aumento na qualidade de vida da aldeia, � um dinheiro que beneficia apenas o garimpeiro. O �ndio n�o fica com nada."
BALSA DESTRU�DA
Em a��o cinematogr�fica, agentes do GEF (Grupo Especializado de Fiscaliza��o do Ibama) incendiaram uma grande balsa de garimpo dentro de �rea protegida, no sudoeste do Par�. A destrui��o foi criticada pela C�mara de Vereadores de Itaituba (1.300 a oeste de Bel�m), cidade que vive da explora��o do ouro.
A balsa foi localizada no �ltimo dia 3 de junho durante fiscaliza��o feita por tr�s helic�pteros do Ibama em trecho do rio Jamanxim que marca a divisa entre a Terra Ind�gena Sawr� Muybu e Floresta Nacional Itaituba 2, ambas vetadas � minera��o.
Por falta de local de pouso, tr�s agentes do GEF, unidade de elite do Ibama, pularam do helic�ptero para o rio, de forte correnteza, em trecho pr�ximo � balsa. Outros tr�s desceram em uma ilha de pedra e usaram um pequeno barco sem motor parado ali para atravessar o Jamanxim.
A reportagem da Folha, que acompanhou a opera��o, n�o foi autorizada a desembarcar por falta de seguran�a.
Antes de a balsa ser destru�da, foram apreendidos um rev�lver e um caderno de contabilidade que demonstraria extra��o de ouro at� a v�spera da opera��o. As quatro pessoas na embarca��o, todas empregadas do propriet�rio, foram liberadas. N�o havia ind�genas.
Chamada de escariante, essa balsa � considerada a mais nociva ao meio ambiente entre as encontradas no garimpo. Por meio de uma coroa rotativa apelidada de abacaxi, sua draga tem capacidade de perfurar o leito do rio em busca de ouro.
A embarca��o pertencia a Luis Rodrigues da Silva, 64, o Luis Barbudo, presidente do Movimento em Defesa da Legaliza��o da Garimpagem Regional.
Por telefone, ele afirma ter sofrido preju�zo de R$ 1,5 milh�o e negou que estivesse garimpando no local.
"N�o me deram oportunidade pra conversar, notifica��o, nada. A balsa estava parada no local havia 15 dias porque o motor quebrou. Como n�o consegui arrumar o rebocador nesse prazo, o Ibama passou e tocou fogo."
Na ter�a-feira (6), o garimpeiro recebeu o apoio de vereadores da cidade durante sess�o na C�mara, que se comprometeu em aprovar uma mo��o de rep�dio ao Ibama.
Segundo a chefe da fiscaliza��o do �rg�o ambiental para o sudoeste do Par�, Maria Luiza de Souza, toda a regi�o depende economicamente do crime ambiental, principalmente garimpo, explora��o madeireira e a pecu�ria em cima do desmatamento, atividades em que � comum o envolvimento de pol�ticos locais e grandes empres�rios.
"Da maneira que eu vejo, a explora��o da Amaz�nia � insustent�vel. � aquela coisa do extrativismo: vamos tirar, acabar tudo e depois a gente v� o que d�."
Os jornalistas FABIANO MAISONNAVE e AVENER PRADO viajaram para a terra ind�gena mundurucu a convite do Ibama
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Pobreza, desmatamento e extração ilegal de madeira e ouro margeiam rodovia na floresta