'Problemas de relacionamento' matam ambientalistas, diz ministro da Agricultura
O ministro da Agricultura, Blairo Maggi (PP-MT), tornou-se o centro das aten��es da delega��o brasileira desde que chegou na Confer�ncia da ONU sobre o Clima (COP22), na �ltima ter�a (15).
Em sua sequ�ncia de declara��es que desagradou entidades ligadas ao clima, o ministro afirmou que "a agricultura brasileira � a mais sustent�vel do mundo, todos os rios s�o protegidos por uma legisla��o. Mas, mais que a legisla��o, s�o protegidos pela consci�ncia dos produtores brasileiros".
Em outra ocasi�o, questionou quem iria pagar a conta da prote��o ambiental nas propriedades rurais brasileiras –estimadas em US$ 40 bilh�es. As mudan�as v�o desde controle do desmatamento at� troca de fertilizantes.
Mas a afirma��o que mais gerou repercuss�o foi a que atribuiu assassinatos de ambientalistas e mortes em conflitos de terra a "problemas de relacionamento". "Quando voc� vai no cerne da quest�o, vai ver que tem problema de relacionamento de pessoas de determinados lugares e que n�o podem ser computados nesta quest�o", disse ele na quarta (16).
A resposta das organiza��es brasileiras que acompanham a COP aconteceu nesta quinta (17). Em carta lida em evento da Coaliz�o Brasil Clima, Florestas e Agricultura e entregue ao ministro no final do dia, o secret�rio-executivo do Observat�rio do Clima, Carlos Rittl, relembrou e respondeu cada uma das frases.
Rittl disse que o Cadastro Ambiental Rural, instrumento previsto no novo C�digo Florestal, ainda n�o est� funcionando para monitorar a "consci�ncia" dos produtores.
A carta ainda afirma que para haver o dinheiro necess�rio � agropecu�ria de baixo carbono, "bastaria que os produtores rurais pagassem suas d�vidas" com o Plano Safra, que em 2016 destinou R$ 202 bilh�es ao financiamento do setor, cuja inadimpl�ncia hist�rica m�dia � de cerca de 5%.
Sobre a declara��o de Maggi a respeito de mortes no campo, a carta cita dados da ONG Global Witness de que um ter�o das 150 mortes de ambientalistas em 2016 aconteceram no Brasil, a maioria delas na Amaz�nia.
"Olha que boa not�cia, 150 mortes, morreram 50 ambientalistas a menos; ontem n�o falavam em 200?", respondeu o ministro, que convidou o Observat�rio do Clima a debater as quest�es em seu gabinete na volta ao Brasil, mas n�o fez ressalvas sobre suas declara��es.
Para Rittl, "afirmar que esses �bitos se devem a 'problemas de relacionamento' pode ser comparado ao negacionismo clim�tico expresso pelo presidente eleito dos EUA, como quando disse que o aquecimento global � inven��o dos chineses para tornar a ind�stria do EUA menos competitiva."
Sobre os US$ 40 bilh�es para as mudan�as na agricultura, o ministro foi lembrado pela reportagem que as metas brasileiras do Acordo de Paris s�o "incondicionais". "N�o contem com [a verba do] Minist�rio da Agricultura", respondeu.
No mesmo evento, Maggi levou um pux�o de orelha da diretora de agricultura do Banco Mundial, Ethel Sennhauser. "A partir de 2020, a transi��o no setor energ�tico para tecnologias de baixo carbono far� com que o setor da agricultura seja apontado como o maior contribuinte para as mudan�as clim�ticas", apontou Sennhauser.
PRESENTE
Para os ambientalistas, as afirma��es de Maggi, que tamb�m � um dos maiores produtores de soja do mundo, formam um conjunto de "p�rolas". Para simbolizar a indigna��o com que receberam as declara��es do ministro, jovens brasileiros da ONG Engajamundo entregaram a ele um colar de p�rolas no fim da confer�ncia.
Questionado sobre o presente, Maggi respondeu que n�o entendeu o porqu� da brincadeira, mas que repassaria o colar para sua filha.
Juan Domingues | ||
Blairo Maggi recebe colar de p�rolas, em alus�o a frases ditas durante confer�ncia da ONU |
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