Dankeschön, Kai.

Chegámos a Harsewinkel de madrugada depois de muitas horas em viagem. Chovia a cântaros, a iluminação da rua era escassa e estacionámos sem saber muito bem onde era o hotel.

Haus Bergmann, lia-se numa porta que mais parecia a de uma casa comum. Poucos segundos após tocarmos à campainha, surge um indíviduo de meia-idade, simpático e a falar um inglês irrepreensível - algo raro nestas bandas. Era o Kai.

Chegámos dia 10 de junho e partimos esta segunda-feira, quase um mês depois. O Kai tornou-se nosso amigo, sentou-se à mesa connosco,  apresentou-nos a sua filha, deu-nos a provar várias iguarias alemãs e partilhou-nos a sua história. Enfim, abriu-nos as portas da sua casa - ele vive no último andar do hotel.

Ao terceiro dia já invadíamos a cozinha e tirávamos os cafés que bem entendêssemos (devidamente autorizados, claro) e usávamos a impressora como se fosse nossa. Ao quinto dia, já podíamos tratar da nossa roupa como se fôssemos mais um morador e não um hóspede como outros tantos.

Quando não estávamos em viagem para Leipzig, Dortmund, Gelsenkirchen, Frankfurt ou Hamburgo, o Kai tinha sempre a preocupação de nos perguntar a que horas queríamos tomar o pequeno-almoço, se jantávamos e organizava tudo para que nada nos faltasse. Nunca faltou

«No worries». Uma das suas expressões favoritas, sem dúvida.

O pai do Kai está prestes a cumprir 80 anos, tem dificuldades em falar inglês e portanto, deixou a gestão do hotel nas mãos do filho. Durante o período que durou a nossa estadia, vimos o Kai trabalhar de manhã, de tarde e à noite - nunca dava sinais de cansaço ou de precisar de dormir.

No meio da azáfama diária encontrava regularmente tempo para conviver connosco. Aprendeu a cantar «A Minha Casinha», cantou o hino de Portugal depois de nos ter incentivado a hastear uma bandeira nacional no alpendre e brindou connosco no jantar de despedida.

«I don't care», dizia não raras vezes.

O maior elogio que podemos fazer é escrever e dizer-lhe, como já o fizemos, que na Haus Bergmann sentimo-nos em casa. 

Não podia terminar esta aventura no Europeu sem agradecer a todos os membros da redação do Maisfutebol. Só o vosso esforço, dedicação, empenho, capacidade de trabalho (a maior força deste jornal), talento e companheirismo me permitiu estar na Alemanha e viver esta experiência. Espero ter estado ao vosso nível.

Aos sete excelentes profissionais (e ainda melhores companheiros) que partilharam dias intensos de trabalho comigo, refeições fora de horas e milhares de quilómetros sempre com boa disposição, obrigado. O jornalismo é feito de pessoas que sentiram saudades de casa, das famílias, das namoradas, dos amigos, enfim, de quem é verdadeiramente importante. No meu caso, se não fossem eles, nunca poderia ter vivido esta experiência cansativa, mas inesquecível.

Por último, mas não menos importante: obrigado, caro leitor.

«Bilhetes do Euro» é um espaço de crónica do jornalista Vítor Maia, enviado especial do Maisfutebol ao Euro 2024.