O Castigador

Duterte alia exageros de Trump a experi�ncia na pol�tica e nas ruas

Fotomontagem das seguintes fotos: President-elect Donald Trump, left, gestures as he talks to the media as New Jersey Gov. Chris Christie looks on at the Trump National Golf Club Bedminster clubhouse, Sunday, Nov. 20, 2016, in Bedminster, N.J.. (AP Photo/Carolyn Kaster) ORG XMIT: NJCK153//Philippine President Rodrigo Duterte gestures during a news conference prior to boarding his flight for a three-day official visit to Japan at the Ninoy Aquino International Airport in suburban Pasay city, south of Manila, Philippines, Tuesday, Oct. 25, 2016. Duterte lashed out anew at the United States following Monday's interview with U.S. Assistant Secretary of State for East Asian and Pacific Affairs Daniel Russel who said that Duterte's controversial remarks and a Fotomontagem/Carolyn Kaster - 20.nov.2016; Bullit Marquez - 25.oct.2016/Associated Press
Presidentes Donald Trump (EUA) e Rodrigo Duterte (Filipinas)

Quando Donald Trump foi eleito presidente dos Estados Unidos, no dia 8 de novembro, seu nome e o do presidente filipino Rodrigo Duterte foram inclu�dos na lista de poss�veis tiranos apeados ao poder em uma nova onda conservadora.

Os dois t�m semelhan�as: s�o descritos como predadores sexuais e capturam a aten��o da m�dia com vocabul�rio vulgar e declara��es agressivas.

Duterte j� declarou publicamente ser incapaz de se controlar quando sente vontade de beijar uma mulher, teve seu casamento anulado por repetido adult�rio e

Em poucas semanas, xingou o papa, o presidente americano Barack Obama, amea�ou o pa�s com a volta da lei marcial, disse a jornalistas que eles poderiam ser mortos e se comparou a Hitler —�nica declara��o da qual se desculpou, dias depois.

O n�mero de drogados dos quais Duterte promete se livrar � o mesmo do de imigrantes ilegais que Trump prometeu deportar: 3 milh�es.

E as Filipinas guardam caracter�sticas do tempo em que foram col�nia dos EUA: as r�dios tocam baladas americanas dos anos 1950 e o basquete � a paix�o nacional, ainda que os filipinos tenham estatura m�dia de 1,63 metro, contra 1,76 metro dos homens nos EUA.

Toto Lozano - 3.dez.2016/AFP
This handout photo taken by the Presidential Photographers' Division on December 2, 2016 and released December 3, 2016 shows Philippines' President Rodrigo Duterte gesturing as he talks to US President-elect Donald Trump on the phone at Legaspi Suites in Davao City. US President-elect Donald Trump told Duterte that Manila was conducting its deadly drug war
Duterte recebe telefonema de Donald Trump, que elogia a guerra �s drogas filipina

Mas Duterte est� t�o longe de ser Trump quanto as Filipinas s�o distantes dos Estados Unidos.

Enquanto Trump � um outsider da pol�tica, Duterte � um veterano, reputado como estrategista, inteligente e obstinado.

Os dois montaram cavalos de batalha diferentes para reunir o apoio de uma popula��o deixada � margem do progresso econ�mico.

Trump dividiu os Estados Unidos com mensagens de �dio a uma parte do eleitorado; Duterte escolheu um inimigo simples de entender e dif�cil de refutar: "os criminosos".

O americano � um bilion�rio. O filipino tira vantagem justamente de n�o ser parte das 400 fam�lias que controlam a economia e a pol�tica do pa�s h� s�culos.

Por n�o ser de Manila, onde est� a elite do pa�s, conquistou apoios importantes como o do ex-presidente Ramos, que viu nele a possibilidade de quebrar a hegemonia da capital na Presid�ncia.

Eugene Hoshiko - 26.out.2016/Associated Press
ILE - In this Oct. 26, 2016, file photo, Philippine President Rodrigo Duterte delivers a speech at the Philippine Economic Forum in Tokyo
O presidente filipino reclamou das cr�ticas do ex-presidente Barack Obama a sua guerra antidrogas

Duterte se lan�ou � Presid�ncia em novembro de 2015, seis meses antes das elei��es, que ocorreram em maio.

O lan�amento tardio foi cautelosamente planejado para o momento em que os candidatos concorrentes j� haviam sofrido com a exposi��o e os ataques do ent�o governo federal.

Nos com�cios, refor�ou seu perfil autorit�rio, agressivo com seus cr�ticos, voluntarista e pouco diplom�tico.

Rotulou os advers�rios como "marionetes corruptas da oligarquia" e derrotou o candidato governista, que tinha nas m�os a m�quina pol�tica e mais recursos financeiros.

Bullit Marquez - 4.out.2016/Associated Press
 In this Tuesday Oct. 4, 2016 file photo, Philippine President Rodrigo Duterte gestures with a firing stance as he announces issuing side arms to army troopers during his visit to its headquarters in suburban Taguig city, east of Manila, Philippines
Duterte simula uma arma durante discurso em Taguig, Grande Manila

A imagem de dur�o � a principal arma de Duterte, mas ele tamb�m prometeu obras de infraestrutura e acenou com mais autonomia para as ilhas pobres das regi�es centrais e sul, que se sentem esquecidas pela industrializada regi�o do norte.

A estrat�gia de campanha foi constru�da sobre tr�s pilares: um candidato carism�tico, uma mensagem capaz de mobilizar os eleitores e o uso sistem�tico das m�dias sociais.

Capaz de passar rapidamente de um discurso articulado e tranquilo a uma sequ�ncia de piadas rudes, xingamentos e amea�as, o ex-prefeito de Davao eletriza as plateias.

"Ele poderia reconhecer o diabo na rua se o encontrasse", escreveu seu colega de inf�ncia e atual assessor Jesus Melchor V. Quitain no "Inquirer".

"Ele entende as ruas. E, embora reconhe�a que precisa moderar suas palavras, fala a l�ngua das ruas. Olhem mais para o que ele faz e menos para o que ele diz."

Bullit Marquez - 9.mai.2016/Associated Press
A supporter pinches the cheek of front-running presidential candidate Mayor Rodrigo Duterte as he leaves Daniel R. Aguinaldo National High School at Matina district, his hometown, after voting in Davao city in southern Philippines on May 9, 2016.
Apoiador aperta a bochecha de Duterte no dia da elei��o presidencial

"Ele se conecta com as massas. N�o � s� a mensagem, � tamb�m o mensageiro", diz John Nery, vencedor dos principais pr�mios de jornalismo investigativo das Filipinas, analista pol�tico do di�rio "Inquirer" e editor-chefe do site da publica��o.

A figura de algu�m resoluto, n�o influenci�vel e que cumpre suas promessas encontrou respaldo na frustra��o popular.

Fazendo valer seu apelido de "Castigador", defendeu as mortes de criminosos em Davao, onde foi prefeito, propagandeou o fato de ter pessoalmente assassinado tr�s suspeitos de sequestros e declarou que um presidente "precisa ter vontade de matar".

A mistura de xingamentos e opini�es controversas trouxe farta e inevit�vel repercuss�o.

Duterte tornou-se o centro das aten��es. Suas frases sexistas sobre estupro e mulheres ganharam as manchetes e monopolizaram o destaque na m�dia.

At� mesmo a rea��o dos oponentes, tentando se colocar como o oposto ao prefeito de Davao, jogaram nele os holofotes.

O candidato tamb�m foi eficiente na propaganda dos resultados de sua gest�o em Davao, onde menores de idade n�o podem sair sozinhos depois das 22h, bebida alc�olica n�o se vende depois das 2h e fumar s� � permitido em pouqu�ssimos lugares.

Na publicidade governista, Davao � apresentada como "uma das cidades mais seguras do pa�s e do mundo".

O r�tulo foi repetido dentro e fora do pa�s, embora n�o se sustente em dados factuais. N�o h� estat�sticas suficientes dispon�veis sobre a criminalidade ou a penetra��o de drogas em Davao, mas relat�rios da PNP n�o mostram a cidade entre as de menores �ndices do pa�s, e a imagem de seguran�a � atribu�da por uma enquete on-line sem respaldo cientifico.

Sua campanha contratou empresas de rela��es p�blicas que se encarregaram de amplificar as pol�micas nas redes sociais.

Reprodu��o
Apoiadores do presidente Rodrigo Duterte aderem a campanha promovida por Sass Rogando Sasot.
Apoiadores do presidente Duterte em campanha que viralizou nas redes sociais

Cercado por uma equipe de assessores fi�is, montou uma m�quina de comunica��o alternativa, em que grupos de defensores se encarregavam de propagar sua mensagem na internet.

O presidente contou tamb�m com dezenas de internautas que, espontaneamente, replicaram suas mensagens e refor�aram sua popularidade.

Duterte tem mais de 4 milh�es de seguidores no Facebook, e seus patrulheiros, outras centenas de milhares de likes em suas p�ginas.

"Com essa rede extensa, ele foi capaz de contornar a m�dia tradicional. Foi a primeira elei��o presidencial em que isso ocorreu", diz John Nery.

E sua mensagem simples de "ordem e progresso a qualquer custo", embalada na imagem de pulso firme e catapultada por exposi��o abundante na m�dia, falou mais alto aos eleitores que suas gafes e coment�rios preconceituosos.

Seus cr�ticos temem que ele encaminhe o pa�s para uma ditadura ou que, ao final de seu mandato, tente mudar a Constitui��o para permanecer por mais tempo.

Ele mostrou que � capaz de matar milhares sem ser incomodado. O resto -restringir liberdades civis, assumir poderes ditatoriais- ser� uma opera��o 'mopping-up' [pente-fino realizado por soldados para encontrar inimigos remanescentes ap�s vencer uma batalha].

Walden Flores Bello, professor da Universidade de Manila