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    'Shakira do Curdist�o', cantora pop desafia o Estado Isl�mico no Iraque

    POR GABRIEL MARCHI

    20/12/2015 02h04

    � meio-dia em Erbil, Iraque, e a cantora Helly Luv traz boas not�cias. N�o � um disco de ouro ou um single nas paradas de sucesso. A popstar, que a m�dia internacional apelidou de "Shakira do Curdist�o" —compara��o que ela pr�pria descarta-, celebra a retomada da cidade iraquiana de Sinjar, at� ent�o dominada pelo Estado Isl�mico. "Depois de um ano, a popula��o dessa cidade finalmente est� segura", contou � Serafina, por telefone.

    Helly, ou Hellan Abdullah, 27, nasceu em uma regi�o curda no Ir�. Os curdos se espalham tamb�m pelo Iraque, S�ria e Turquia e h� quase cem anos lutam por um Estado independente.

    Safin Hamed
    Helly Luv por Gabriel Marchi - Pop Porrada - conhecida como a 'shakira do curdist�o', cantora Helly Luv vai ao front de batalha no Iraque para pegar em armas e microfones contra o avan�o do Estado Isl�mico - A cantora Helly Luv na cidade de Erbil, na regi�o curda do Iraque#serafina93
    Apelidada de 'Shakira do Curdist�o', Helly Luv canta contra o avan�o do Estado Isl�mico

    Como refugiada, cresceu na Finl�ndia, onde estudou m�sica. Aos 18, partiu para Los Angeles, onde come�ou sua carreira. Mas suas ra�zes �tnicas e o surgimento do conflito deflagrado na S�ria e agravado pela entrada em cena do Estado Isl�mico falaram mais alto.

    Erbil � a capital do territ�rio curdo no Iraque e cidade de economia vibrante antes da guerra (que j� matou cerca de 250 mil pessoas). Foi l� que Helly gravou os clipes de "Risk it All" e "Revolution", em meio a tanques, armas e soldados. A mensagem era clara: independ�ncia para o Curdist�o e oposi��o armada ao Estado Isl�mico. "Eu n�o havia planejado uma carreira t�o politizada e agressiva", diz. "Mas, quando a guerra come�ou, n�o pude ficar em sil�ncio; sou curda e o conflito do meu povo se refletiu na minha m�sica."

    Seus clipes foram vistos mais de 7,5 milh�es de vezes no YouTube e incomodaram l�deres do Estado Isl�mico. Hoje, Helly faz parte da lista de procurados do EI e sua cabe�a foi posta, literalmente, � pr�mio. A artista se alterna entre os holofotes e as sombras: n�o frequenta lugares p�blicos e nunca divulga sua localiza��o exata.

    "Minha vida mudou radicalmente depois das amea�as de morte, mas foi um risco que assumi conscientemente", diz. Em 2015, a cantora entrou para a lista dos cem pensadores mais importantes da revista "Foreign Policy", pela exposi��o que conferiu � sua origem curda.

    Os curdos s�o uma pe�a essencial da ofensiva elaborada pelos Estados Unidos contra o Estado Isl�mico.

    J� a R�ssia e o Ir� lutam contra a organiza��o terrorista ao lado do regime de Bashar al-Assad. Mu�ulmanos de maioria sunita, o povo curdo tem sua hist�ria marcada pela igualdade de g�nero, com for�as militares comandadas por mulheres e tropas exclusivamente femininas.

    OU�A "RISK IT ALL":

    Veja v�deo

    "Desde pequena eu via fotos da minha m�e usando vestimentas tradicionais e achava fascinante, queria dividir a hist�ria dessas mulheres com o mundo", relembra."Elas amamentam seus filhos em casa durante a noite e, de dia, marcham para o front de batalha ao lado dos homens", relata.

    Para Katherine Brown, pesquisadora de quest�es de g�nero no universo isl�mico do King's College, em Londres, � importante desmontar o mito de que todas as sociedades mu�ulmanas oprimem as mulheres, o que n�o � o caso da cultura curda. "Isso quebra estere�tipos", diz, "al�m de expor o fato de que o Estado Isl�mico tem como pol�tica priorit�ria a exclus�o e opress�o das mulheres". Ela ressalta ainda que � importante divulgar narrativas alternativas � propaganda do EI. "A m�sica � bastante forte nesse sentido, principalmente para os jovens, pois estabelece uma conex�o com o lado emocional", afirma.

    A cantora, que diz ter Michael Jackson como sua principal influ�ncia, n�o usa meias palavras quanto � m�sica pop atual. "Sinto que o pop n�o tem mais mensagem, s�o m�sicas sobre roupas e namorados", afirma. Ainda no mundo ocidental, Helly atribui a crise de refugiados � omiss�o da comunidade internacional: s�o milh�es de refugiados apenas no conflito s�rio. "Por tr�s anos, pedimos armas e apoio humanit�rio para lutar contra o Estado Isl�mico, que tem armamento mais moderno que o nosso", diz. "N�o � uma surpresa que, sem essa ajuda, as pessoas fujam buscando a sua pr�pria seguran�a."

    Mesmo equilibrando a grava��o de um disco, de lan�amento planejado para junho de 2016, com o trabalho humanit�rio, Helly n�o descarta a possibilidade de lutar diretamente contra os extremistas. "Eles estupram, matam, torturam. Temos de lutar, � a �nica op��o", afirma. "Se voc� n�o tem algo por que viver e por que est� disposto a morrer, qual a raz�o para estar neste mundo?"

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